Torrentes Espirituais – Jeanne Guyon
Pequeno excerto extraído (mais precisamente o capítulo 3) de sua obra clássica “Torrentes Espirituais” de Jeanne Guyon. Você pode adquirir o livro por esse link aqui
CAPÍTULO 3
Olhemos agora o seguinte rio. Aqui está um rio extenso que se movimenta com um passo firme, que flui com esplendor e majestade. Seu curso é facilmente distinguido. Há ordem lá. O rio é carregado com navios, e os mercadores embarcam suas mercadorias. Alguns desses rios fazem seu curso rumo ao mar, perdendo-se a maior parte em algum afluente. Tragicamente, muitos rios como esses servem unicamente para carregar mercadoria e comércio.
Esse rio pode ser detido – por um vale ou por uma barragem; e para certos lugares.
A fonte desse rio é muito abundante; nela há dádivas, muita graça e muita benevolência celestial. Há muitos santos na Igreja de Deus que brilham como estrelas resplandecentes, e ainda assim nunca ultrapassam o degrau desse rio.
De fato, há dois rios, ou duas espécies de cristãos que caem nesta categoria. Há aqueles dos quais o Senhor se compadece em razão do seu trabalho para ele – apesar do fato de serem vazios e áridos. Pouco a pouco ele os atrai pela riqueza da sua bondade e da sua vida.
O segundo grupo de cristãos é tomado por um coração quase próximo a uma descarga elétrica. Eles sentem a sensação de amar, mas nunca se tornou intimamente conhecido o objeto do seu amor. No amor humano pressupõe-se o conhecimento do objeto do amor. Ou seja, no amor humano conhecemos a pessoa que amamos. Sem este íntimo conhecimento ele simplesmente não pode ser concebido, pois o que os olhos veem o coração pode conhecer. Entretanto, este não é o caminho do amor divino. O Senhor exerce controle sobre nosso coração; portanto ele não é obrigado a nos permitir conhecê-lo melhor. É verdade: há ocasiões nas quais ele pode fazer o coração amá-lo, ainda mesmo que mal o conheça!
Se você estiver ajudando outros cristãos a conhecer o caminho para o Senhor, um dia você encontrará um cristão parece estar ardentemente amando-o, mas ainda assim sabe bem pouco a seu respeito. Este tipo de cristão faz muito progresso em direção ao Senhor. Ele parece ter um maravilhoso relacionamento com ele, e estar em completo concerto com sua vontade. Mas ainda assim parece haver alguma coisa dentro dele que verdadeiramente nunca foi trabalhada ou aniquilada.
Parece que Deus normalmente não o separa de seu individualismo para que possa perder-se completamente nele. Há simplesmente um amor ardente, e em razão disso esse cristão atrai a admiração e o espanto de outros. Deus lhe concedeu graça sobre graça, dons sobre dons, luz e mais luz. Há visões e revelações. Ele sempre ouve a voz do Senhor. São tantas, que até parece que ele não tem nenhum outro cuidado, senão o de enriquecer e embelezar essa pessoa; e comunicar-lhe seus segredos. Toda luz parece estar nesse cristão.
Ele enfrenta tentações, contudo elas são repelidas com vigor. A cruz é levada com ousadia. Ele até mesmo deseja que haja mais da cruz! Ele é puro fogo, todo aceso e todo amor. Aqui está um cristão com grande coração, pronto para empreender qualquer coisa. Ele é de fato um prodígio na era em que vive. O Senhor usa tais pessoas para realizar milagres. Parece que tudo que elas precisam fazer é apenas desejar alguma coisa, e Deus a concede, pois ele não se deleita senão em lhes conceder seus desejos e satisfazer-lhes as vontades. Além do mais, eles têm um elevado grau de auto-sacrifício. Eles não são deste mundo, e praticam a austeridade.
Se tal cristão vem a você em sua juventude buscando o Senhor, você pode ajudá-lo muito ou feri-lo demais. Algo que você pode fazer para feri-lo é demonstrar o quanto admira. Assim fazendo você desvia sua atenção para ele mesmo. Ele irá então apoiar-se nos dons de Deus, em lugar de ser levado a correr para o Senhor.
Veja você: a maior graça que o Senhor tem concedido a esses santos lhes é dada a fim de atraí-los a ele. Esse critão corre grande risco ao apoiar-se em seus dons, considerando-os, observando-os, e então tragicamente apropriando-se deles. Nasce daí a vaidade e a autocondescendência, preferência por sua própria pessoa em lugar de outra, e muitas vezes a ruína espiritual de sua vida interior.
Quando um cristão com esse temperamento atinge um plano mais elevado com o Senhor ele pode algumas vezes ser muito útil ao cristão novato (mas nem tanto como cristão que estaremos observando no próximo capítulo). A razão é que este cristão é muito determinado em Deus. E ele algumas vezes não consegue entender a fraqueza dos outros. Por exemplo, um conselheiro espiritual pode ser um cristão desse tipo, julgar difícil ter compaixão pelo fraco. Ele pode ficar atônito perante as confissões que ouve dos cristãos mais fracos.
Uma pessoa com esse tipo de temperamento frequentemente espera de outros um elevado grau de perfeição, e não consegue liderar um cristão no decurso do “pouco a pouco”. Ela é simplesmente deficiente quando trabalha com aqueles que são terrivelmente imperfeitos. Frequentemente trabalha melhor sozinha, e produz mais para Deus.
Se tal cristão falasse com você, você seria levado a crer que ele é muito cheio de poder espiritual, talvez até mesmo totalmente pleno . O vocabulário está presente — cruz, morte — e a seu próprio modo ele tem experimentado cada uma dessas realidades. E se entregou a Deus. Seus desejos são sublimes.
Talvez haja uma falta aqui, uma deficiência ali, que somente o olho divino pode descobrir. Um grande número de cristãos que têm sido admirados por todas as épocas são aqueles que têm andado no Senhor desta maneira. Contudo eles têm sido “sobrecarregados” com tanta mercadoria, que seu curso sobre o rio é extremamente lento. Que pode ser feito com tais cristãos? Eles seguirão para sempre assim?
Seguirão, sim, a menos que haja um milagre da Providência divina; ou sejam guiados por alguém profundamente iluminado em seu caminho interior para o Senhor — alguém que lhes mostre que eles não têm que opor-se aos dons, nem deter-se neles, mas ir além.
O “cristão carregado de mercadorias” é como uma represa que segura a água, impedindo-a de fluir em seu caminho, simplesmente porque há muito, presumida ou involuntariamente, para olhar para si mesmo.
Se você está ajudando um cristão recém-convertido num caminho mais profundo com seu Deus, não lhe aguce habilidade intelectual. Contudo, procure guiá-lo, de lá, a um maior entendimento de assuntos espirituais. Conduza-o à fé; em meio à mais profunda e incerta escuridão; leve-o a depender totalmente de sua fé no Senhor. Não lhe peça que descreva seu relacionamento; pois ele não poderia construir absolutamente nada sobre conhecimento, e sim somente sobre a providência de Deus.
Certamente é bom conhecer os caminhos de Deus, mas somente o Senhor deve ornamentá-los. Parece haver tantos caminhos em direção ao Senhor! — especialmente aos olhos daqueles que aparentam não haver recebido maiores instruções com relação ao caminho interno. Eles são abundantes com respeito a caminhos para Deus, e métodos para todos os propósitos.
Há aqueles que não se voltam para o Senhor em séria concentração, até depois de uma profunda experiência interior, na qual a morte toca suas áreas mais íntimas. Frequentemente tal pessoa tem uma compreensão quase intuitiva do Senhor; é no entanto de uma tal introspecção em Deus que necessita de maior instrução. Eles pressentem muito, mas a profundidade é mais limitada do que imaginam. Eu diria a essa pessoa que está ajudando tal cristão: se ele for dotado, não se arrependa por sê-lo, quando vir seus dons e graças desfalecer; porque tais coisas estão ocultas na própria providência de Deus.
Tradução de: Ana Maria Petitinga Lanees
Livro “The Works Of Madame Jeanne Guyon” – Versão kindle; este livro contém 7 obras de Jeanne Guyon das mais conceituadas. entre elas ‟Spiritual Torrents”, do qual coletamos este breve texto, além de sua autobiografia, suas cartas, poemas, sua análise sobre cântico dos cânticos, entre outros, totalizando ao todo 7 obras. Saiba Mais.
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