O Grão de Mostarda que virou Árvore – A Fusão dos Sistemas, parte 1
Como o sistema religioso desde muitos séculos tem antagonizado a Igreja de Deus, ainda que use seu nome. Este é o nosso foco de estudo inaugurando nossa Série: “A Fusão dos Sistemas”.
Sumário
A Fusão dos Sistemas
Os sistemas religiosos não são novidades, podemos facilmente citar vários deles, mas será que as Escrituras de alguma maneira os previram?
Primeiro, o que podemos considerar como sistema?
Sistema, neste cenário, refere-se a meios organizacionais que regem filosoficamente, religiosamente, socialmente e, por vezes, politicamente, vários grupos.
Se olharmos, por exemplo, a teocracia islâmica, facilmente podemos encontrar os quatro itens sistêmicos: filosofia, religião, sociedade e política. Com essas fusões pontuais, o Islã consegue governar países e regiões usando, para isso, mais precisamente o poder da sua religião. Digo países por causa da ideologia de grupos dissidentes que usam o terror, como o Hezbollah (Sul do Líbano1), e o Hamas (Palestina de Gaza2). É assim que acontece em países como Irã e Arábia Saudita.
Existem meios sistêmicos mais filosóficos, como o budismo e o confucionismo; e outros mais sociais, como o hinduísmo.
Em especial, vamos analisar três grandes grupos que, cremos, são apresentados na Bíblia.
Em Mateus 23, Jesus diz a seus discípulos e também às multidões, depois de apresentar um contexto religioso acerca dos personagens mais acirrados e herméticos de sua época, que não deveriam chamar a si e a ninguém de mestre, pois há um só mestre. Continuando, ele diz: a ninguém chameis de pai, pois um só é vosso pai. Obviamente que nosso Senhor estava nos ensinando a fazer essas considerações apenas no campo da religião. Mais precisamente, Ele estava protegendo Sua futura Igreja de se amalgamar com aquele fermento nocivo do farisaísmo, o que, infelizmente, aconteceria mais tarde. Mas, tal palavra preservaria seus vencedores.
Como a trama se desenvolve no campo religioso, Jesus demonstrava Sua preocupação com seus discípulos. Mas, ao ensinar também as multidões, Ele ampliava o alcance de Suas palavras e de Seu desejo, ou seja, que mesmo entre pessoas não autênticas na fé, ou com uma fé fraca e defeituosa, ou mesmo não crentes, seria importante não fazerem para si mestres e nem chamar os homens [ainda que autênticos cristãos] de pais.
Mas, ao mesmo tempo, tudo isso é digno de nos causar assombro, que, o que o Senhor falava se encaixa em dois sistemas religiosos monoteístas, parecendo Suas palavras indicar, na verdade, o que aconteceria profeticamente mais tarde e que estaria preservado, inclusive, para o tempo do fim.
Destes dois sistemas, um está mais no campo judaico e o outro (no campo do cristianismo) se dividindo mais precisamente em dois. Continue lendo conosco e você vai perceber para onde iremos chegar.
“Mas não queirais ser chamados mestres; porque só um é vosso mestre, e todos vós sois irmãos.”
—Mateus 23.8, tb
As palavras de Jesus são absurdamente claras. Me espanta este versículo estar contido na Bíblia e encontrarmos uma miríade de líderes evangélicos se apropriando do assenhoreamento dos santos.
A expressão “todos vós sois irmãos” era uma pronunciação de proteção às igrejas locais, pois elas poderiam nomear líderes aleatoriamente e se submeter a eles fora do design neotestamentário, perpetrando não somente uma obediência errada, mas também permitindo, a partir dessa obediência, a promoção de erros, enganos e muitos pecados doutrinários. Justamente o que estamos vendo acontecer. Jesus submete essas palavras porque sabia que haveria discípulos, fora da “Árvore de Mostarda”, que obedeceriam à Sua Palavra.
A palavra “irmãos” era como uma luz para a Igreja de Deus, indicando que dentro dela não há hierarquia, não há ofícios, não há patentes. A palavra “irmãos” está claramente atribuindo essa porção como palavras protetivas para as igrejas. Todavia, essa palavra tem também uma carga judaica fora do âmbito protetivo dos irmãos.
E por que há uma carga judaica? Porque, justamente, a religião que oficia seu líder como mestre é a religião judaica.
Jesus estava falando dos escribas, fariseus e dos que se assentavam na cátedra de Moisés. Logo, há um cenário judaico também.
Pelo fato de o Senhor fazer menção dos escribas, fariseus, e daqueles que se assentavam na cátedra de Moisés, era inevitável não associar com algum cenário judaico também. A palavra “irmãos” é usada para se referir à igreja, enquanto a palavra “mestre” serve para destacar que Ele estava alertando sobre o que aconteceria no sistema religioso dos judeus muito depois e também do perigo que isso poderia ser para a Igreja. É por isso que Ele falava tanto aos discípulos como às multidões; pois, aos primeiros, Ele lidava com a Igreja, e, às últimas, Ele abordava a questão dos judeus. As multidões, embora pudessem conter crentes, ainda estavam presas ao judaísmo ou a outros interesses que não permitiam que elas se entregassem ao discipulado do Senhor.
O vocábulo “mestre” está vertido como Rabi. No original, o texto foi preservado em sua forma hebraica, uma vez que “mestre” em grego é “didáskalos”. No entanto, esta palavra de Mateus está grafada como ῾Ραββί [Rhabbi]. Notadamente, é uma circunstância que chama a atenção para a influência do judaísmo, especialmente considerando o versículo 2 (“Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e os fariseus”).
Interessante notar que, justamente hoje, o judaísmo contém o sistema dos rabinos, e, devido a esse sistema, boa parte da cegueira judaica é mantida.
Certa vez vi um vídeo no YouTube de alguns cristãos que evangelizavam certos judeus, no atual estado de Israel. Me lembro do fato do evangelista cristão ter citado Isaías 53. O jovem judeu dizia que aquele capítulo era proibido em Israel. Os rabinos os ensinavam a não conhecer o que estava escrito ali e principalmente para nem sequer lerem o profeta Isaías.
Isto só foi possível devido ao sistema rabínico, que com uma única decisão, toda comunidade acata em efeito cascata sem qualquer questionamento. O judeu realmente se sujeita a tudo que o mestre diz, ainda que possam estar precipitados.
Essa organização é um aspecto do judaísmo moderno. Devido à influência do sistema rabínico, os sinais massoréticos3 foram inseridos na Bíblia (me refiro ao Antigo Testamento).
Se não houvesse essa influência rabínica, tal coisa jamais aconteceria. No entanto, não apenas ocorreu, como também prejudicou consideravelmente a Escritura hebraica. Várias partes do texto hebraico foram terrivelmente corrompidas, especialmente aquelas que se referiam não apenas à messianidade de Jesus de Nazaré, mas também aos cumprimentos proféticos que o envolveram
Temo que, se não tivéssemos contato com a Septuaginta, o texto grego do Antigo Testamento, que não somente foi preservado, mas também reconstruído a partir de Paulo de Telas, estaríamos lendo as Escrituras com um enorme desvio das fontes originais. Felizmente, o Senhor tem seus próprios meios de proteger Seu livro e assim o fez.
Curiosamente, o judaísmo hoje é o sistema organizado que separa sua liderança em mestre, os rabinos, justamente, fazendo aquilo que o Senhor disser para não fazer — “A ninguém chameis de Rabi”.
Por outro lado Jesus cita outro problema que viria, “a ninguém chameis de pai”, agora o Senhor não usa o termo “mestre”, mas pai.
Mais uma vez Jesus de Nazaré estava protegendo os seus discípulos de trazer um padrão de hierarquia para aquilo que viria ser Sua em breve. Orientando a não ter os mesmos mestres da organização judaica, uma vez que somente poderia ser seus Mestre.
Tomemos um pouco de cuidado, pois alguns cristãos descuidadamente usam Timóteo 1.2 como forma de assenhoreamento. Uma vez que Paulo diz ser pai de Timóteo.
Esta passagem é clara quanto ao discipulado, ensino e evangelização, nunca se tratou de domínio ou forma de hierarquia. Mesmo Paulo sendo uma autoridade espiritual, ele não utilizou suas prerrogativas apostólicas para dominar os discípulos. Portanto, Timóteo ser filho na fé, mostra que ele teve um tutor no Senhor e mesmo crescer com o ensino deste “pai”.
Mas o alcance disso diverge significativamente do que o Senhor disse no versículo 9.
Já examinamos o contexto e é claro que se refere ao conceito religioso daqueles homens que queriam ser vistos pelos homens e faziam as coisas para receber glória deles (Jo 5.41).
Por isto não confundamos com ser precursor da fé daqueles que virão a crer, e mesmo neste caso não tomemos de assalto essa dádiva da evangelização pura da salvação da fé dos futuros crentes para dominá-los, caso contrário cairemos na advertência de Cristo frente aos seus opositores que erravam em não conhecer as Escrituras — ainda que sabiam suas porções de cor (Mt 2.4-6) — nem o poder de Deus.
Por um lado Rabi se tornou a forma de assenhoreamente do sistema dos judeus; há igualmente o sistema dos pais. Ele obviamente não é retratado diretamente no judaísmo, mas no cristianismo.
Curiosamente esse termo foi ganhando forma depois da incorporação do império romano com o cristianismo.
Logo surgiria a figura dos “pais”. Claro que não quero desmerecer essa nomenclatura no seu contexto histórico ao se referir aos “pais da igreja”. Mas temos que ser honestos que aqueles homens nunca se proclamaram como pais dos cristãos, ainda que viriam ser chamados assim mais tarde devido ao legado que deixaram.
O sistema dos pais se fortaleceram e reverberaram a hierarquização naquilo que viria ser chamada de “Igreja Católica Romana”.
E é muito claro a hierarquia e controle do sistema, uma vez que padre significa justamente “pai”; assim como frade significa (do latim) irmão. Assim, existe os irmãos (frades) um nível inferior e os pais (padres) um nível superior.
Parecia que nosso Senhor estava vendo tudo isso, e ao recomendar que entre nós deveria haver irmãos (Mt 23.8), não havia outra recomendação que não fosse repudiar o sistema dos “pais”.
Mas o sistema dos pais não somente se consolidou como ganhou uma tamanha força que o líder universal da igreja, o vigário de Cristo, é chamado, nada mais nada menos, que papa. Se isso não é o ápice do antagonismo que o Senhor disse em Mateus 23.9 dificilmente eu saberia dizer o que é.
Temos então dois terríveis sistemas religiosos. Um cega os judeus para que não creiam devidamente no Messias, outro boicota o envolvimento e o crescimento dos cristãos e por que não dizer: detém muito sangue em suas mãos, derramados na altar da Inquisição?
Não que na igreja não tenha o sistema dos mestres e no judaísmo não haja os “pais”; mas que a ênfase desses dois sistemas, o judaico e o romano, soam o fato de que Jesus parecia estar escancarando o que viria ser o futuro dos sistemas religiosos. Um com foco nos mestres rabinos e outro nos líderes paroquiais curiosamente chamados de padres. Tais formas foram reprovadas, com a determinação de Jesus de Nazaré para não prosseguirmos adquirindo qualquer semelhança.