O Pecado da Serpente: Quando Enganar Passa a Ser um Bom Negócio

A Tragédia cristã em não temer as consequências de transformar a verdade em mentira, ou não se importar tanto assim, desde que no geral tudo vá bem.

O Pecado da Serpente

Sumário

O Serviço do Engano Clerical

Um pecado tão sutil que afeta muitos filhos de Deus é o pecado da serpente. Se observarmos com simplicidade, a maldição que recaiu sobre aquela criatura, aliada a Satanás, ocorreu devido ao fato de ela ter enganado a mulher.

Mas no que consistiu seu engano? Uma mentira perspicaz: “não morrereis”.

Esse foi o veneno.

Quem pode cometer tal pecado hoje senão àqueles que conhecem Deus de alguma maneira?

Que tragédia temos enfrentado nas igrejas; pois os os “profetas” dizem o que o povo quer ouvir. Eles temem emitir palavras duras, ou de desagrado.

Um pastor certa vez me disse: “não posso dizer isso, pois todos irão embora”. Era em relação a um assunto polêmico, mas veraz.

O que é isso? Se ele não pode dizer uma verdade, a despeito de todos os riscos que ela oferece, ele peca contra ela própria.

Reconhecendo Verdades Mas Fugindo do Seu Preço

Certa ocasião um irmão responsável por uma congregação ao saber a verdade da Igreja como corpo de Cristo e de seu testemunho local, concluiu: “isso de fato é verdadeiro, mas as pessoas não podem suportar isso”.

Saiba mais sobre o modelo da igreja no Novo Testamento.

Esse irmão sabe a verdade, mas continuará defendendo um modelo antibíblico, e pior, de alguma maneira não permitirá aqueles irmãos mais simples tenham oportunidade de conhecer o formato bíblico da igreja. Que comportamento é esse? Meias verdades, acerca de Deus? Algo do tipo: “certamente não morrerás”. Nada mais triste, que um cristão sabendo a verdade, mente contra ela, para este Tiago, apóstolo de Cristo, deixou algo em sua carta: 

“Mas, se tendes zelo amargo e o espírito de contenda nos vossos corações, não vos glorieis e não mintais contra a verdade.” (Tiago 3.14 – TB).

O Zelo Amargo

Que tipo de cristão pode instar contra a verdade, senão aquele que tem zelo amargo?!

Ter zelo por algo que este irmão ou irmã criou colocando essa criação acima do design de Deus, é talvez a coisa mais baixa que um cristão possa fazer em sã consciência.

Por isso que alguns movimentos começam bem e terminar mal. Pois, o único objetivo dos homens envoltos nessas abordagens, é perpetuar esse zelo, ainda que seja necessário desconstruir verdades.

Quantos que sabem exatamente que os dízimos não devem ser cobrados nas igrejas de Deus, e apesar disso cobram usando o nome Deus para tal intento? Ele sabe que isto não se aplica, mas não somente aplica, porém diz que é Deus quem ordena. Ele comete duplo erro, o primeiro por fazer algo não atribuído; segundo por usar o nome de Deus.

Esses ministros, incorrem no mesmo erro da serpente; tal ato entre os homens pode ser tão comum, que Jesus usa sobre àqueles que pecavam contra a verdade, uma expressão tão conectiva quanto pedagógica: “raça de víboras”. Essas cobras diziam todo tipo de mandamentos que eram afastados por completo da veracidade de Deus e o disfarce usado por eles era conter alguma realidade no meio de um monte de outras mentiras.

Satã engana Eva. Ele sabia que o que Deus falava se cumpriria à risca, ele conhecia bem Deus. Ele esteve com Ele, quando ainda era o querubim cheio de luz.

Por isso tal pecado só pode ser cometido por pessoas que realmente conhecem Deus em alguma medida. Que sabe, igualmente, o que Deus é capaz de fazer. Quem pode ter esse nível senão os ministro “zelosos”?

Por essas questões que haviam instruções claras por meio de Paulo, acerca de como deveria ser o presbítero.

Essa tentação da serpente, não está em sermos enganados por alguma coisa que ela nos ilude, mas em sermos semelhantes a ela, como foram saduceus e fariseus. Esse procedimento fará com que muitos crentes sejam duramente castigados e disciplinados diante do Tribunal de Cristo. Pois mentir contra a verdade é mentir não somente contra fatos bíblicos, mas contra uma Pessoa. Ananias e Safira souberam bem disso.

Cuidado santo de Deus, com frases como essas: “sim, é verdade, mas não podemos fazer desta maneira, pois hoje os tempos mudaram”; “então todos os pastores estão errados e você, porventura, certo?”; “é melhor deixarmos assim, pois de outro modo, os jovens irão embora”.

Certa irmã que se afastou de seu marido intimamente; ao ouvir de outros irmãos que fazer sexo antes do casamento é tão pecado quanto não fazer depois do matrimônio, se apoiou no fato de que seu marido crente cometia erros relacionados ao papel dele na família e assim justificou sua atitude.

O fato é que combatemos as verdades do céu por zelo amargo de nossa parte, e, que, preferimos fazer isso, ainda que vendo claramente a genuinidade da Palavra de Deus, tão somente porque parece que o veneno da Serpente não só enganou, mas também prototipou a si mesma na alma caída do homem.

Assim, os filhos de Adão, não herdam somente o prejuízo da Queda ocasionado por Satã incorporado naquele Dragão Edênico, mas que, podem exercer a mesma atitude daquele animal, não sendo, somente, enganado, mas principalmente enganador.

O que acha que enfrentaremos naquele grande e terrível dia que teremos que comparecer diante de Cristo. Daquele que tem os olhos como chama de fogo? Vamos dizer que sustentar pai e mãe não é mais importante que deixar a oferta no altar? Ou será que Alguém terá que repetir novamente as mais potentes veracidades que já foram ditas, “hipócritas, quem é maior, a oferta ou o altar que santifica a oferta?”. Aliás a palavra hipócrita que significa literalmente ator, não é justamente o recado mais claro que alguém sabendo devidamente a verdade prefere “fazer outro papel”, para obter, igualmente, outro resultado?

Que o Senhor tenha misericórdia de nós, para dizermos sob Sua luz toda verdade. Que não sejamos fracos ao ponto de ceder por uma liderança manchada pelo vislumbre do controle alheio, perpetuando zelosamente movimentos que já passaram, pois não foram capazes de discernir que o “vento” (Espírito) sopra onde quer. Pois é isso que fazem esses líderes obsessivos. Ou eles seriam muito prepotentes por acharem que são de fato os “profetas”, “apóstolos”, “homens da era”.

Todos eles não resistem sequer à mínima veracidade bíblica. E os encarcerados? Estes ficarão ali onde são açoitados, pois aprenderam que não podem se levantar contra o “ungido”; temem, na loucura dos seus devaneios, blasfemar contra o Espírito Santo ou praticar feitiçaria. Oh! Que danoso é o pecado da Serpente.

Hoje, temos que ser firmados na veracidade do Senhor. Dizer respeitosamente obviedades, mas que contenha o mínimo de sensatez é imperativo aos tementes do Senhor, “isso não procede irmão”; “não me importo com os jovens como me importo com a verdade de Deus”; “Se isto é de fato a Palavra de Deus é tudo que preciso, não me apego ao conceito de humano de estabelecer verdades”. Deveriam ser palavras como essas que necessitariam ecoar de nossas bocas, não as “santas conveniências” que se sobrepõem sobre a Palavra de Deus.

Quando ‘X’ se Tornou ‘Y’

Me lembro bem quando tinha me afastado dos veículos religiosos, ainda era capaz de manter comunhão com alguns irmãos no começo dessa fase; pois logo em seguida os pastores tratariam de afastar suas “ovelhas”.

Para que as coisas não fiquem muito claras, por motivos óbvios, vou querer destacar apenas o problema da obsessão e não a experiência particular do diálogo.

Certa vez, eu e um irmão, que havia se tornado pastor, estudávamos um assunto das Escrituras — irei apenas denominar esse assunto de ‘X’ —  nós juntos consideramos com a mais alta relevância. Era tão bela a conclusão que nos alegramos mutuamente. Entretanto, este jovem chegou ao pastor mór (aquele que era seu caudilho) e disse “pastor olha que interessante esse ‘X’”; mas o caudilho disse: — Isto não é X, na verdade isso é Y, contrariando aquilo que havíamos ganhado juntos em comunhão; muito provavelmente, o pastor caudilho, ainda que eu talvez nunca venha saber disso, soube que eu havia comentado este assunto com aquele jovem.

Em outra ocasião, encontrei novamente meu amigo, daquele assunto que havíamos considerado da Bíblia,  e de forma despretensiosa disse a ele: — Puxa irmão lembra daquele X, que tremendo não é mesmo? — Não considero mais assim, e nem mesmo considero como X, na verdade é Y, disse ele. Aquilo para mim se convertia na coisa mais ilógica que podia perceber. — Mas como você mudou sua posição quanto a isso, estava claro para nós? —, ele diz a forma mais cruel que poderia me dizer. Tive uma conversa com o pastor [aquele que chamo de caudilho] e ele disse que esse X na verdade era Y.

Conversamos mais um pouco aleatoriamente sobre outros temas da vida cotidiana e nos despedimos, naquele dia eu vi que tamanha força pode exercer um homem que tem o poder de controlar. Para mim aquilo era tão claro na Palavra de Deus, que a discussão tinha que ser: “como podemos praticar isso”; entretanto, foi preciso algumas poucas conversas com alguém de uma espécie diferente, quis dizer: “patente mais alta”, para aquela verdade simplesmente derreter.

Não havia nenhum indício de foi feito uma averiguação bíblica para a mudança naquele assunto, foi apenas obediência [cega] a uma “autoridade”.

Como isso é trágico, e há muitas pessoas presas a isso. Eu mesmo o fui. Digo algo com muito efusão na minha alma, quem experimenta a liberdade de ver aquilo que deve ser visto, ainda que possamos ser corrigidos depois por outros irmão mais maduros para algum ajuste mais específico, nunca mais volta a ser escravo de inverdades apenas por inverdades, vivendo eu um sistema hermético tão cheio de danos colaterais quanto de organização.

Me lembro da ocasião de Apolo sendo corrigido por Priscila e Áquila (At 18.26), e ele foi convencido dentro da Palavra de Deus, pois ele, como diz Lucas, era poderoso nas Escrituras. Como temente e amante da Palavra de Deus, compreendeu que ele estava equivocado quanto ao assunto dos batismos e do Espírito Santo. Priscila esposa de Áquila e o próprio marido não apelaram para a “autoridade espiritual”, senão para a Palavra do Senhor. O levaram para casa e expuseram melhor o Caminho. Hoje primeiro temos que obedecer, e depois descobrir se o que estávamos obedecendo estava de acordo quanto ao mandamento do Senhor. Porém isso nem de longe poderá ser considerado obediência.

A maioria dos pastores caudilhos rechaçam as obras de Watchman Nee, exceto quando se trata do livro “Autoridade Espiritual”, pois por incrível que pareça, neste caso, até onde pude observar todos são unânimes. Seguramente quem já leu o livro sabe o porquê. É obvio que o livro do Sr. Nee é muito bom e ele não defende que a autoridade contida ali se refere ao sistema pastoral das denominações, entretanto os líderes usam tal livro para defenderem diante de suas congregações, que eles são as autoridades instituídas na terra. Para no fim, consciente ou não, implementarem seus objetivos, injetando coerção e controle nas pessoas que lhe deverão obediência quase que autômata.

Saiba que, ainda que, muitos homens e mulheres, pudessem estar certos quanto às veracidades de Deus, isso ainda não seria suficiente para torná-los autoridades diante dos irmãos, a autoridade de Deus está no Espírito Santo e não no homem, o homem deve expor o governo de Deus e não ser, propriamente, o governo de Deus. Se é assim com os que, aparentemente estão corretos na tonalidade escriturística, o que dirá dos precipitados na Palavra de Deus. 

O Perigo de Relativizar Verdades

É muito tentador nos pegarmos relativizando as exatidões bíblicas. Até mesmo nossos filhos e esposas deveriam saber nossa posição diante de Deus, ainda que muitas das vezes por uma variação de motivos não seja possível cumprirmos certos desígnios. Alguns por estarem sozinhos nisso, outros porque pessoas-chave não permitem. Todavia seu testemunho tem que ser claro; ou seja, creia em tudo o que Deus falou, e não negocie com o “pão dos homens”, pois a vida, de fato, vem de uma outra fonte, da palavra procedida da boca bendita do Senhor de toda glória.

Contudo, esteja feliz no Senhor, de saber que não precisou utilizar ardis para converter a realidade de Deus em mentira do homem apenas para obter corolários, sejam eles quais forem.

Se fizéssemos as coisas para o Senhor pensando na mesma eficácia que queremos obter relativizando tudo aquilo que é sério da Palavra de Deus, apenas para conquistarmos os homens, seguramente estaríamos sendo forjados melhores irmãos e irmãs, ao mesmo tempo, que estaríamos produzindo uma reflexão importante do temor do Senhor ainda que falhássemos e fôssemos imperfeitos. 

Como é bom ouvir Paulo dizer: “seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso”. 

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Abreviações

tb — Tradução Brasileira 1917, atualização para os nomes próprios e adequação para o novo acordo ortográfico, 2010, Sociedade Bíblica do Brasil

Veja também:
Pods DoPeregrino.com

Série: Isso não vem de Vós Ep03

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