O que é Igreja
Uma Definição do Novo Testamento
No desenho da igreja de Deus nas Escrituras, encontramos aspectos e princípios fundamentais que guiam a compreensão de toda comunidade cristã. O “Design da Igreja de Deus” à maneira como ela se expressa localmente, desde Mateus 18 até Apocalipse 3 é de fundamental relevância. Em cada aspecto há uma importância singular, conhecê-los é, de fato, uma necessidade cristã.
Todas as citação bíblicas são da Tradução Brasileira, 1917; revisada devido ao diacronismo da língua em 2010 (TB).
Sumário
Igreja Ilimitada e as igrejas limitadas
Chegou o momento de abordarmos mais detalhadamente a matéria das igrejas.
Infelizmente, nos dias atuais, os filhos de Deus têm sido enganados quanto ao assunto das igrejas. O problema central emerge quando os cristãos não conseguem perceber a sua estrutura orgânica. Em vez disso, muitas vezes associam as igrejas de Deus a uma organização criada pelo homem, o que constitui um erro grave.
O problema se manifesta nos primórdios da era cristã, quando os irmãos patrísticos começam a direcionar as assembleias para um formato organizacional. Sim, ocorre uma transição da vida orgânica para a organização. Isso ocorre em meados da pausa romana nas perseguições e da mobilização constantiniana [a partir do período pós-niceno] para globalizar o cristianismo no império. Anteriormente, é realmente verdade que figuras de grande influência entre os cristãos, como Inácio de Antioquia, Clemente e Policarpo, indicavam algum caminho mais próximo da unificação de uma única liderança local.
Eles eram gigantes de peso da vida e fidelidade cristãs, mas, esses, mais precisamente, Inácio, já tinham inclinações para hierarquização das assembleias, assim como a unificação da figura do bispo local; deixando pela primeira vez a recomendação apostólica de fazer mais de um presbítero em cada cidade (Tito 1.5). Até que tudo viria progressivamente culminar naquele que seria chamado “Bispo de Roma”. Situação alarmante e completamente anti-apostólica.
Alguém poderia argumentar — como se estivesse a favor de uma tradição sem um fundamento básico — que essa mudança representaria uma direção apostólica, angulando a ideia de que esses preciosos irmãos mártires estariam mais próximos dos apóstolos, principalmente João.
Sim, de fato, devemos admitir essa proximidade, mas de modo algum podemos usá-la como referência absoluta da verdade cristã. Isso porque João estava preso, muitos outros discípulos estavam sendo perseguidos e muitos também se tornariam mártires. Se observarmos com atenção, esse período abrange o que podemos chamar de período profético das igrejas em Éfeso e Esmirna. As Sete Igrejas, de acordo com a linguagem do Apocalipse, também representavam tempos proféticos e históricos, abrangendo toda a era da Igreja até o seu fim1.
Tanto em Éfeso quanto em Pérgamo, é mencionado o nicolaísmo. Muitos tentam encontrar uma explicação técnica para a palavra nicolaísmo — buscando encaixá-la em uma seita da época, como é feito com o gnosticismo. Contudo, deveriam, na verdade, apenas compreender o significado dessa palavra, já que o Senhor a utiliza. Ele não parece estar interessado em associar essa palavra a movimentos religiosos ou místicos, principalmente porque tais associações seriam muito difíceis de estabelecer nas igrejas. Como essa palavra é mencionada pelo Senhor sem maiores explicações, torna-se um claro convite de nosso Mestre para considerar o seu significado. É um convite à interpretação, assim como Ele faz com personagens como Antipas e Jezabel.
“Nico” e “Laos” (ambas formações gregas) são as partes que compõem essa palavra, e juntas expressam o significado: “domínio do povo simples”.
Em Éfeso, havia as obras do nicolaísmo, que essa igreja reprovava. Já em Pérgamo, as obras dão lugar à doutrina. Em Pérgamo, no que viria a ser o seu “estado de coisas”, representava a Igreja pós-Nicéia, onde o conceito de clero toma forma e se desenvolve como cabedal da Igreja.
O significado da palavra “nicolaísmo” fere o princípio da simplicidade e da vivência cooperativa da irmandade cristã; concentrando a partir desse movimento a figura de líderes e homens proeminentes, além de, agora, serem apenas um por assembleia, não tendo mais os múltiplos presbíteros, recurso que era totalmente apostólico (Atos 14.23, 15.22, 16.4, 20.17; Tito 1.5; Tiago 5.14; 1 Pedro 5.1) e seguramente ordenado pelo Espírito Santo para impedir os excessos e a perpetração dos erros que poderiam vir se houvesse apenas uma pessoa no encargo do apascentamento do rebanho de Deus.
Os pais apostólicos, e os que vieram depois, foram grandes exemplos de fé. Eles abrangem o período da “Igreja em Éfeso”2. Entretanto, suas vidas piedosas não poderiam sufocar os clamores apostólicos e os cuidados que aqueles tiveram com o rebanho (Atos 20.28). O nicolaísmo começa a ser adotado, até chegar o período de Pérgamo, onde as “Igrejas” Catedrais ganhariam enorme força e toda a ideia das igrejas limitadas pela cidade se acabaria, definitivamente, concentrando sua hegemonia no conceito arquitetônico e organizacional, ao invés de local.
O modelo errado da “Igreja Mundial”, conceito que começou a ganhar forma, a partir do séc. III d.C; cujo principal objetivo parecia ser levar a cabo uma Sede Mundial da Igreja de Deus. Sendo esta “Sede” uma fonte controladora da própria igreja e da ortodoxia, possivelmente com o objetivo de criar um canal único para a sã doutrina e evitar enganos e heresias.
Tal formação de ideia ainda que parecesse legítima configura-se em uma formação incorreta da Igreja de acordo com a Palavra de Deus. Pois, não existe de acordo com a Bíblia uma “Igreja Mundial” ou “Igreja Mãe”. Na verdade esse foi o principal erro do catolicismo romano. Confundir a Igreja que transcende tempo, espaço e eras com uma igreja localizada espacialmente e temporalmente que abrange o mundo inteiro; isso não somente é um erro crasso, mas é totalmente antibíblico.
Surge então Roma e o Bispo de Roma.
Olhemos a passagem magna que revela essa preciosa verdade e, igualmente, essa preciosa entidade [lamento a necessidade de usar essa palavra por falta de outro à altura]:
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do Hades não prevalecerão contra ela. (Mateus 16.18).
A palavra igreja aqui denota algo que transcende tudo. Se pudéssemos alterar o texto, a palavra “igreja” poderia ser escrita com letra maiúscula “Igreja”, para enfatizar o que essa sentença representa.
Jesus diz que o Hades, que é o local da morte onde as almas mortas estão aprisionadas e não podem sair, não pode deter a Igreja com suas portas. Não é que a Igreja confronta as portas do Hades como se o inferno viesse atacar a Igreja lançando inúmeras portas para tentar feri-la. Definitivamente não. Essa palavra é muito simples; ela significa que, apesar de o Hades manter as almas mortas e outros espíritos, em seu submundo vasto e assombroso, ele não pode deter a Igreja. Em outras palavras, a Igreja sairá do Hades, pois nela está a vida.
Temos que interpretar essa passagem em dois contextos temporais: o presente e o futuro. No presente, isso significaria que a Igreja jamais se extinguiria ao longo dos séculos, nada poderia neutralizá-la. É importante compreender isso, pois muitos cristãos acreditam que a Igreja se perdeu durante o período de trevas da sua institucionalização. DE FORMA ALGUMA! Alguns podem argumentar que no período pós-Nicéia e pré-Reforma a Igreja foi abalada e neutralizada. Mas não! Mil vezes não!
A Igreja não foi prejudicada; o Hades nunca a restringiu. A Igreja sempre permaneceu livre da Morte, pois detém o poder de ressurreição. A Igreja Católica Romana causou um grande estrago e trouxe muita corrupção. Mas, sempre havia, mesmo entre os católicos, preciosos irmãos, inúmeros eu diria. Até mesmo, Lutero [não nos esqueçamos disso] era católico.
A Institucionalização não a danificou, pois nem o Hades poderia fazer isso quanto mais qualquer institucionalização.
Em tempo presente essa configuração se dá na forma de que o Hades não pode circunscrever a Igreja de Deus. Pois ela é mística, rompe tempo e espaço, supera morte e vida. Nesta Igreja estão todos nossos irmãos. Vivos, mortos, os creem e os que ainda hão de crer. Tem judeus, gentios, bárbaros, aliás, ela tem o poder de desfazer as nacionalidades; nem mesmo um Império ou o Estado pode limitá-la.
Essa Igreja, à qual nosso Senhor se refere em Mateus 16, é maior que o Hades; as portas do Hades devem se abrir para ela. É evidente que essa Assembleia não pode ser tocada, não pode ser contida, nem ser apreendida e vista em uma única visão; ela, na verdade, é transcendental.
Quanto ao aspecto futuro o Hades também não tem a menor chance contra ela. Embora possa aprisionar outras almas e muito provavelmente, após o julgamento do Grande Trono Branco, essas almas estarão novamente custodiadas nele e ele, por fim, será lançado no Lago de Fogo. Contudo, até que isso aconteça, todas as almas daqueles que foram plantados na Igreja terão que sair dele.
Após a saída do último santo da Igreja de Deus, o Hades então estará livre para ser lançado na Segunda Morte (Ap 20.14). Portanto, em algum momento para cada ordem de ressurreição, o Hades terá que abrir suas portas para que os cristãos que serão ressuscitados saiam dele em direção à glorificação. Portanto, o aspecto futuro de “As portas do Hades não prevalecerão” refere-se à ressurreição para a glorificação de todos os filhos de Deus da era da Igreja, do menor ao maior.
Por um lado, a Igreja parece ser mística e transcendente, por outro lado, é limitada e tangível. É verdade que, nessa configuração, vamos usar a palavra com letras minúsculas: “igreja”.
Jesus diz as portas do Hades não prevalecerão; esse aspecto é totalmente místico; contudo, ele diz algo extraordinário sobre essa mesma igreja:
“Se ele recusar ouvi-los, dize-o à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera-o como gentio e publicano” (Mateus 18.17).
Note que agora a mesma Igreja que supera o poder da morte é capaz de ouvir; enquanto a Igreja é transcendente, ela também é limitada. Ouvir se refere a uma igreja visível, que pode ser tocada. A Bíblia revela essas duas configurações da Igreja de Deus: seu aspecto ilimitado e seu aspecto limitado. Todas as falhas no entendimento dessa preciosa observação acerca da entidade edificada por Cristo, foram a origem de todos os erros cometidos ao longo do tempo ao tentar se valer da compreensão dela.
É por isso que a Igreja foi, em algum momento, entregue ao controle humano, como ocorreu com o governo dos papas; foi entregue ao controle estatal como aconteceu com a Igreja Anglicana; foi entregue a uma sede, como em Roma; foi entregue à doutrina, como ocorreu com a Igreja Oriental devido às divergências doutrinárias do Concílio de Calcedônia; entregue à teologia, como é o caso do movimento reformado calvinista. E, atualmente, tem sido dividida em inúmeras denominações. Todas essas ações eclesiásticas são completamente contrárias aos ensinamentos da Bíblia e são reprováveis.
Entretanto, a Igreja não morreu apesar de tudo isso. Não nos esqueçamos do aspecto presente da promessa do Senhor de que as portas do Hades não a restringiriam.
Toda formação das assembleias deve ocorrer de acordo com princípios bíblicos, e Paulo nos dá um exemplo bastante simples dessa configuração. Vamos ver
à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor tanto deles como nosso (1 Coríntios 1.2).
Não há nada com mais clareza que este texto, consideremos:
- O caráter da igreja é local: “à igreja de Deus que está em Corinto”;
- A formação se dá a ‘TODOS’: “…com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo”;
- Identificação com os que invocam: “…Senhor tanto deles como nosso”.
Não devemos ignorar essa estrutura ternária apresentada por Paulo, independentemente de qualquer doutrina ou teologia.
A Igreja se fundamenta na confissão de Pedro, que, de acordo com Jesus Cristo, é a confissão na qual Ele mesmo planta o antigo pecador — agora santificado — como parte essencial de Sua Igreja.
Paulo ao dizer que a circunscrição da igreja, no caso de Corinto, se dava pela própria cidade que se chamava Corinto, é um claro sinal de que a única forma que deveríamos olhar a igreja no seu aspecto limitado é considerando a cidade na qual essa igreja está localizada. Nada mais, nada menos.
Nesta esfera do que é limitado, a nível global, nunca poderá haver igreja e sim igrejas.
O padrão normativo para a Igreja só pode vir do Novo Testamento, nem mesmo a tradição patrística está autorizada a normatizar o conceito e definição dela.
Cada menção da palavra “igreja” na Bíblia, a partir de Mateus 16 até Apocalipse 3, revelará ou seu aspecto transcendente ou ressaltará seu aspecto local. Quanto ao primeiro, não há espaço ou tempo, portanto, não pode ser confundida com uma confederação mundial representando todas as igrejas; quanto ao segundo há o reconhecimento dos limites da igreja, onde ela está inserida no espaço/tempo; e, em sua condição espacial, aprouve Deus estabelecer cidades. Ou seja, há uma igreja na cidade, nunca igrejas na cidade. Pode haver igrejas em províncias, estados, países e continentes, mas nunca há uma igreja para essas confederações regionais.
O arranjo para isso é tão sutil que tanto o Espírito Santo quanto os apóstolos armaram todo o cuidado textual para manter essa harmonia. Por exemplo, nunca se verá no Novo Testamento, ao mencionar um país, região ou província, a palavra “igreja” no singular. Sempre se encontrará a palavra “igrejas” no plural. Isto se deve ao claro Design da Igreja, e, ela ao ser tocada, limitada no tempo-espaço, ouvida e percebida, está confinada a uma cidade.
Você vai encontrar a igreja que está em Corinto; mas nunca as igrejas de Corinto. Por quê? Pelo motivo de Corinto ser uma cidade como Marília, Bauru ou Curitiba. Se Corinto fosse um estado como Goiás, Paulo, obrigatoriamente deveria usar a palavra igrejas e não igreja.
Por isso que o Senhor ao mandar João escrever, pede que ele enderece as cartas para cada igreja, e cada igreja no singular estava limitada à sua cidade. Porém, quando vai se referir a elas no plural aparece o termo Ásia, e não Éfeso, ou Esmirna, ou Filadélfia, estas eram cidades, portanto, havia somente uma igreja em cada uma delas. Por isso aparece a igreja em Éfeso em vez de as igrejas de Éfeso, no entanto, são as igrejas da Ásia e não a igreja da Ásia.
Se o próprio Senhor teve esse cuidado, assim como os apóstolos e, por consequência, o próprio Espírito da Verdade, não deveríamos nós também valorizar esse cuidado e não apenas valorizar, mas também obedecer?
Nunca se menciona uma única igreja para Ásia, Judeia, Galileia ou Galácia. Isso ocorre porque essas regiões continham várias cidades, e, portanto, várias igrejas. As assembleias estavam intimamente ligadas às cidades. Esse é o design estabelecido pelo Espírito Santo. Depois que o homem natural introduziu sua influência, ele passou a limitar a igreja em denominações eclesiásticas.
Nunca houve igrejas denominacionais no período apostólico. Quando parecia haver qualquer risco disso, Paulo alertava os coríntios: “Uns dizem: Eu sou de Paulo, eu sou de Apolo, eu sou de Cefas, e eu sou de Cristo. Porventura Cristo está dividido?”. O apóstolo estava ciente do grave problema que combatia desde o início, afirmando que a igreja está ligada ao nome de Deus pelo qual somos batizados. Mesmo que se dissesse “eu sou de Cristo” estaria praticando divisão.
É importante considerar que o apóstolo não diz: “Estaria a igreja dividida?”, mas sim: “Estaria O Cristo dividido?” (1 Coríntios 1.13). Paulo quer transmitir a ideia de que nossa união é tão profunda que a Igreja e Cristo formam um só, e Cristo não pode ser dividido, apesar de nós podermos praticar divisão. E praticar divisão seria eu pertencer a grupos fora do entendimento local da assembléia, mesmo que haja um grupo denominado: “eu sou de Cristo”, ainda é praticar divisão. Nem mesmo Cristo pode dividir Cristo.
É claro que não desejo arrogar para mim, nem para qualquer outro irmão, a autoridade para determinar o que é ou não é uma igreja. Novamente, recorramos ao apóstolo dos gentios. Ele mesmo diz: “com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. Em seguida, ele aplica a frase: “Senhor deles e nosso”. A combinação dessas sentenças, tão lógicas quanto espirituais, define o que é uma igreja local: é a reunião daqueles que, em todo lugar, invocam o nome do Senhor. Mesmo que possa haver diferenças doutrinárias especiais, desde que não sejam fundamentais, o Senhor é tanto deles [aqueles que podem discordar de mim] quanto nosso [os que possamos discordar deles].
Portanto, frisamos mais uma vez, o limite estabelecido por Deus quanto à igreja é a cidade. Há apenas uma igreja em Jerusalém, já que Jerusalém é uma cidade. Portanto, não existem várias igrejas em Jerusalém; só pode haver uma igreja. Mesmo que seja necessário dizer “Senhor deles e nosso” para superar alguma barreira, ainda assim se referirá à igreja em Jerusalém e nunca às igrejas de Jerusalém.
“Saulo consentia na sua morte. Naquele dia, levantou-se uma grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria.” (Atos 8.1, grifos nosso).
Da mesma forma encontraremos a igreja em Antioquia, pois Antioquia era uma cidade.
“Havia na igreja de Antioquia profetas e doutores: Barnabé, Simão, que tinha por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo.” (Atos 13.1, grifos nosso).
Mas nunca iremos encontrar a igreja da Galácia, pois Galácia não era uma cidade, e sim uma região que continha muitas cidades.
“Quanto à coleta para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia.” (1 Coríntios 16.1, grifos nosso).
Também não será possível encontrarmos na Bíblia a Igreja Asiática ou a Igreja da Ásia.
“As igrejas da Ásia vos saúdam. Muito vos saúdam no Senhor Áquila e Priscila, com a igreja que está na sua casa.” (1 Coríntios 16.19, grifos nosso).
“João, às sete igrejas que estão na Ásia: graça a vós e paz da parte daquele que é, que era e que há de vir; e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono.” (Apocalipse 1.4, grifos nosso).
Judéia era uma região provincial, semelhante aos estados da federação aqui do Brasil, portanto Judéia continha várias cidades, entre elas Belém onde Jesus nasceu e Jerusalém onde Ele morreu. Portanto, se nosso pensamento estiver coerente com tudo o que já dissemos até aqui, a Bíblia não poderá apresentar a igreja da Judéia, ao contrário deverá verter igrejas.
“Era, porém, pessoalmente desconhecido às igrejas da Judeia, que estavam em Cristo.” (Gálatas 1.22, grifos nosso).
Percebem, my friends, como o design é fino? Olha tamanho cuidado apostólico ao verter a palavra de forma correta e coerente. Todo descuido disso é o que vem causando o grande mal da divisão e do sectarismo.
Se todo o cristão temesse a Deus e o design que ele providenciou para sua igreja, jamais teríamos essa bagunça e confusão. E, muito dos exageros seriam corretamente combatidos. Mas, como sabemos, a apostasia tem que estar livre para atingir o seu clímax é bastante obvio que a visão correta de enxergar a igreja de Deus de forma bíblica deveria ser afetada e resistida para que pudesse ser perpetrado os mais inúmeros enganos possíveis.
Ao longo da história vimos igrejas nacionais, estatais, provinciais, ministeriais, mundiais; mas infelizmente não vimos as igrejas locais. Certamente, em essência elas sempre existiram e os crentes regenerados também, ainda que não houvesse a compreensão disso; ela estava lá, com a vitalidade que lhe é peculiar advinda do Parácleto do qual o Hades com suas portas não pode deter.
O propósito desse estudo é oferecer algum esclarecimento para aqueles que o leem a respeito do que pode ser compreendido à luz do Novo Testamento sobre a Igreja. Contudo, é lamentável que alguns grupos que perceberam essa verdade em certa medida e a apreciaram em estágios iniciais acabaram perdendo o equilíbrio mais tarde.
Na história da igreja o séc. XIX foi profícuo em despertar os santos dessa época para considerar o retorno da visão correta da igreja de Deus. Já abordamos algumas ideias sobre o século XIX e, com certeza, continuaremos a fazê-lo. Sinta-se à vontade para acessar esses dois artigos quando desejar:
Os irmãos de Plymouth conseguiram perceber o belo design da igreja de Deus conforme se configurava no Novo Testamento, e eles começaram a sair de suas organizações. Geralmente anglicanos e de outras confissões semelhantes, homens da mais alta erudição e capacitação teológica, abandonavam suas carreira teológicas para viveram um cristianismo simples, puro, reunindo-se em casas e estudando livremente a Bíblia. Resultado?
As grandes descobertas da Palavra de Deus, que haviam permanecido em grande parte ocultas após o período apostólico, foram trazidas quase completamente à luz. Isso é algo que a Reforma Protestante mal tocou.
A pureza e piedade de homens santos estavam agora alinhadas com a mais profunda erudição, foram esses gigantes que protegeram a fé cristã da ruína advinda da teologia liberal moderna que vinha surgindo juntamente a com alta crítica que se não fossem essas testemunhas zelosas o cristianismo poderia ter sido corroído até se tornar uma forma de saduceísmo profundo.
Figuras como Scoffield, Darby, Müller, Newton, Groves, Miller, Kelly, Machintosh, Pember, Govett e muitos outros contribuíram com uma importante base escriturística. Isso permitiu que outros, em um momento posterior, lutassem por meio de conferências, principalmente nos Estados Unidos, como a significativa Bible Conference. Que sepultou aquele movimento ateísta disfarçado de cristandade, ao menos, o combateu com a Bíblia aberta, assegurando uma fé evangélica fundamentalista (no melhor sentido da palavra).
Temos que ser profundamente gratos a esse movimento conhecido como brethren movement ou como conhecemos no Brasil “Os Irmãos” ou “Irmãos Unidos”.
Claro que além dessa apologética atual — que nos faz lembrar sem exageros os pais da igreja combatendo movimentos heréticos que se misturavam de alguma maneira com o cristianismo ortodoxo naquela época, como o gnosticismo —, esses irmãos começaram a experimentar uma fé genuína sem viés teológico; inclinações tais, que poderiam àquela altura, ou ser romana, ou anglicana, ou reformada, ou calvinista, ou, por fim, híbrida. Conseguiram abrir a Bíblia sem essa “Latinização” se é que posso tomar esse termo emprestado.
Esses homens viram devidamente os tratos de Deus debaixo da sua economia, podendo assim enxergarem o que viria ser chamado de “dispensações”. Foram pioneiros no “dispensacionalismo clássico”. Compreenderam a divisão ternária que Deus faz da humanidade [judeus, gentios e cristãos] e a aplicabilidade temporal, para essas categorias.
Como nosso foco é abordar a temática da igreja e o estudo dela, não seguiremos mais falando desse movimento, exceto que ele trouxe de volta a pureza das reuniões das igrejas locais que eram feitas sem hierarquia, sem chefia, sem ministro, sem clérigo; tudo de forma orgânica com o governo ou a orientação do Espírito Santo na reunião, onde os próprios irmãos julgavam o compartilhamento de cada um.
É bem verdade que a visão da igreja local não estava totalmente clara para esses irmãos, ainda que as reuniões fossem preciosas e cheias de vida.
Além desses irmãos mencionados, também houve outros, como Watchman Nee e George Henry Lang, que abordaram por meio de suas obras uma compreensão mais profunda do caráter local da igreja. Eles também destacaram a importância dos presbíteros, a independência local de cada assembleia e outros pontos relacionados ao entendimento e clareza do design da igreja, que atingiram seu auge no final do século XIX e início do século XX.
Hoje podemos receber desses irmãos toda ajuda necessária para melhor compreender esse dilema que presenciamos atualmente. Com o mínimo de entendimento será possível enxergar o máximo caos que é hoje a “Árvore de Mostarda” com seus “Pássaros”.
Watchman Nee que até então tinha recebido muita influência dos Irmãos e de seus escritos passava a estudar com máxima diligência o assunto que por fim catapultou seu estudo que seria denominado: “Acerca de Nossas Missões”. Estudo esse que veio a se tornar um livro ainda em vida do autor e teve uma versão para língua inglesa; mais tarde o livro passou também a se chamar “A Vida Normal da Igreja Cristã” 3.
Se pudesse fazer qualquer comparação ainda que falha poderia dizer que como Darby sistematizou o dispensacionalismo e a doutrina do arrebatamento da igreja; Watchman Nee sistematizou o conceito bíblico de igreja local, tocando detalhadamente em cada ponto.
O estudo “Acerca de Nossas Missões” é abissalmente bíblico, porém a forma que seria aplicado por outros grupos mesmo de irmãos que eram próximos como Witness Lee não foi saudável, pelo menos até algum ponto.
Entretanto, o entendimento bíblico da igreja local estava agora traçado e de alguma maneira, que posso dizer positiva, estava sendo espalhado pelo mundo. Se não fosse o enorme sectarismo que seria praticado, teria sido provavelmente um dos movimentos mais cheios de frescor.
Paramos por aqui por não ser de nosso interesse traçar o lado negativo que inevitavelmente aconteceu, mas sim, o benefício dessa verdade que chegou a muitos irmãos espalhados pelo mundo afora. O Brasil foi somente um dos países que pôde desfrutar desse lado positivo. Outros países como Os Estados Unidos, Taiwan, Colômbia, Chile e outras localidades da América Latina e do mundo, também.
Até o momento do estudo de “Acerca de Nossas Missões” tivemos muito proveito, porém os excessos e outras divisões que viriam depois, não foram salutares assim como a coercividade sectarista também não.
Figuras humanas começaram a ocupar um espaço anormal, e a luta incessante com as denominações não foram, me parece, um acerto do movimento. Mas, por outro lado, muitos santos vieram e aprenderam grandes verdades cristãs advindas daquilo que Witness Lee consumia, mesmo não trazendo, diretamente, a literatura de estudos e livros dos Irmãos, ele os tinha não só o material, mas a muita leitura deles.
É fato que não posso posso aludir muito a este assunto, exceto por ter aprendido com outros irmãos e compreendendo um pouco do período da história da igreja e dos irmãos chineses a partir do séc. XX, por isso meu avanço nessa matéria, entre as pessoas, acontecimentos e os círculos deles, para por aqui.
Felizmente, sempre temos a palavra “Felizmente”, houve ainda irmãos do entorno de Watchman Nee que souberam lidar de forma mais harmoniosa e comunitária aquele assunto com outros irmãos, que foi possível conciliar a importante verdade do Design da Igreja com as diferentes divisões que haviam ocupado toda terra. Irmãos como Stephen Kaung e Christian Chen puderam trazer um equilíbrio mais notável nesse empreendimento. O primeiro, diretamente cooperador de Watchman Nee como foi Witness Lee.
Tudo isso me faz lembrar de alguma maneira o Movimento dos Irmãos, onde houve divisão entre um grupo decididamente exclusivista, e outro aberto a receber outros irmãos.
É importante observar que houve da parte do Sr. Lee um arrependimento público, que julgo ser importante o leitor ver, acesse o link do vídeo: Assistir.
A forma incorreta do “Movimento dos Irmãos”, de um modo geral os mais exclusivistas, não entender a independência local de cada igreja fez com que esse grupo excomungasse uma miríade de pessoas, por fim o controle que passavam a exercer ficou parecido com uma unidade confederacional que de alguma maneira se assemelhava a Roma.
O sr. Lang, assim como Watchman Nee trouxe contribuição literária sobre o assunto do Design da Igreja, tendo publicado ao menos dois livros sobre o tema: “The Churches of God” e “The Local Assembly” (este segundo falando mais da história entre os irmãos abertos e exclusivistas). Infelizmente, ainda não temos, nenhum dos dois, em português.
Citar Lang se faz importante, pois há semelhança a Watchman Nee no entendimento da igreja, exceto por alguns pontos que ele viria ressaltar como que contendo algum exagero. Talvez esse critério possa ter dado, mais tarde, a Watchman Nee alguma clareza e maleabilidade no assunto que não seriam trafegáveis por W. Lee.
Mas uma coisa é certo dizer: tanto Lang quanto Nee, viam a independência das igrejas locais. Entendimento esse tão que importante que de alguma forma foi rechaçado pelos “Irmãos Exclusivistas”, e por isso que digo que esses irmãos, mais fechados, tiveram uma visão mais confederacional, no fim das contas.
No período apostólico se reuniam em casas, não havia, até então, catedrais ou capelas, tudo isso viria muito depois, a essência era “de casa em casa, partiam o pão”.
Já ouvi um irmão arguir a mesma passagem concatenando ela com “e no templo” (Atos 2.46; 5.42), para justificar que havia a reunião no templo e assim deveríamos seguir com o mesmo modelo. Nada mais anacrônico que esta comparação, afinal, aquele templo era único e judeu. Havia somente um templo. Se fosse usar isso a fim de comparação deveria haver uma igreja mundial e que ela tivesse um templo e ficasse em uma cidade sagrada onde os cristãos poderiam peregrinar para ela. Se quisermos ser justos na comparação essa é melhor forma de fazer.
O templo era visitado pelos apóstolos não para liturgia, mas para pregação; foi ali que muitas almas foram alcançadas, ele era, na verdade, um armazém evangelístico.
Voltando a falar dos “Irmãos”; tão logo quanto possível, o Brethren Movement ganhou grande notoriedade e vários escritos, comentários, ensinos, devocionais e até mesmo Bíblias viriam surgir. Era um movimento repleto de gigantes intelectuais, e eruditos.
O Brethren Movement influenciou fortemente a América entre os quais o famoso evangelista D. L. Mood, Scofield (da famosa Bíblia de Referência Scofield), A. J. Gordon (que escreveu o livro “O Ministério do Espírito”), entre outros.
De fato as reuniões nas casas estavam recuperadas e a prática da vida da igreja, fora dos círculos religiosos, estava novamente em vigor. O problema é que esse frescor durou pouco tempo, mais precisamente 20 anos, até a grande divisão desse movimento catapultada primeiro por um erro e segundo por uma falta de perdão ou mesmo flexibilidade. Um erro de um irmão que logo o admitiu, mas que não foi mais permitido a unidade a partir daquele fatídico momento.
Benjamin W. Newton e John Nelson Darby rompem a ligação entre si e desta forma os irmãos se dividem, entre os mais exclusivos seguidores de Darby e os que viriam a ser apelidados de “abertos” que acompanharam o espírito de George Müller, Robert Chapman e outros semelhantes.
Creio que vale a pena assistir o vídeo a seguir, do qual trata o início e o fim do Movimento, inclusive o conflito entre Newton e Darby: Assista o Vídeo.
Desconsiderando, por ora, os problemas do movimento, não nos esqueçamos do importante papel do Espírito Santo no começo. Ele não apenas trouxe as verdades que estavam encobertas, mas também introduziu a forma singela de se reunir. Isso soaria tão natural para eles que parecia inapropriado realizar uma sessão de outra maneira.
A igreja limitada além de habitar em uma cidade ela se reúne em uma casa, ou ponto de reunião. Há várias formas de reunião como as evangelísticas (Atos 10.24), as do partir do pão (Atos 2.46, 20.7; 1 Coríntios 11.33), as do estudo e exposição da palavra (Atos 20.8–9), as de comunhão compartilhamento dos dons (1 Coríntios 14.26).
Podemos constatar exatamente essas formas de reunião. Ainda haviam também a reunião de oração (Atos 4.31; 12.5) e a reunião espontânea de dois ou três [ainda que por força do momento] para cânticos, hinos, adoração e oração (Atos 16.25–26).
Se até aqui distinguimos claramente as igrejas como igrejas na cidade, e nenhuma outra forma estaria autorizada para dividir a Igreja [invisível] em igrejas [visíveis], porque, então, aparece no Novo Testamento a sentença: “a igreja que está na casa de…”. Não estaria esta igreja em uma divisão menor que a cidade, se as igrejas podem ser divididas somente em cidades como então elas estão em casas? Se estão em casas por que, então, não posso criar a minha própria igreja doméstica?
A pergunta que temos que fazer é: “por que aparece a igreja na casa de tal irmão ou irmã?”
Para maior clareza, vamos analisar as passagens bíblicas que se referem a essas situações.
“E saudai a igreja que se reúne na casa deles. Saudai ao meu amado Epêneto, que é as primícias da Ásia para Cristo.” (Romanos 16.5)
Esta passagem fala da igreja se “reunindo na casa deles”. Temos que fazer uma franca distinção da igreja que HABITA em; da igreja que REÚNE em.
É bem verdade que não seria toda uma igreja local que seria capaz de se reunir, em uma sessão, contando com apenas uma casa; deveria ser “a igreja que se reúne nas casas de…”; ou: “parte da igreja que se reúne em…”. Contudo, é fundamental compreendermos que na língua grega do Novo Testamento — quando se trata da igreja — a palavra “reúne em…” Não existe. Havia irmãos, é verdade, que oravam por Pedro quando este estava preso eles se reuniram em oração, mas essa reunião não representava toda igreja, pois não seria possível toda igreja ser contida naquela casa [de Maria mãe de João Marcos], entretanto a palavra: “a igreja orava” (Atos 12.5), se ampliava, não somente àquela casa, mas a todos os irmãos em todo lugar de Jerusalém.
O que tem de curioso nisso? É muito importante frisarmos que, se queremos ser bíblicos e copiarmos todo o cuidado que os apóstolos e o Espírito Santo tiveram em fazer as devidas concordâncias verbal e nominal da Igreja, teríamos que considerar que a menos que a casa fosse monumentalmente grande, poderíamos dizer a igreja que se reúne em tal casa. Pois o mais correto de acordo com o Novo Testamento seria: “parte da igreja que se reúnem em tal casa” ou “a igreja de tal cidade que se reúne nas casas de tais…”.
Mas na porção que lemos “a igreja que se reúne na casa deles” simplesmente subentendeu, neste caso na versão que utilizamos TB, a palavra reunião. Vejamos o texto no original da língua grega:
καὶ τὴν ἐκκλεσίαν. κατʼ αὐτῶν οἶκον
O texto diz literalmente: “e a assembléia em casa deles”.
Sim, o verbo “reunir” é inexistente e geralmente as versões de Bíblia o colocam para dar sentido, entretanto, ele, de fato neste contexto, não existe.
Agora, podemos compreender que não se trata de reunião. Portanto, não seria sábio de nossa parte supor que a igreja foi autorizada pela Bíblia para além da cidade, também não foi autorizada para aquém, ou seja, por fração menor que de uma cidade como a divisão em casas.
Todavia, o fato dela também aparecer em casas, não deve ser desconsiderado, pois esse fato existe.
As ocorrências deste fenômeno no Novo Testamento são raras. Portanto, devemos considerar alguma excepcionalidade ou a licença para usar esse termo uma vez que não se faz referência constante a ele.
Há além de Romanos 16.5 mais três ocorrências, 1 Coríntios 16.19 a casa de Áquila e Priscila. A casa de Ninfa em Colossenses 4.15. E, por fim, a casa de Filemom em Filemom 2.
Esses casos refletem na verdade onde estava a igreja. Na casa deles. As igrejas excetuando Jerusalém começaram com poucos membros, ao ponto deles serem hospedados e recebidos em algum local como abrigo temporário caso houvesse alguma perseguição ou mesmo como meio de comunhão. Assim, todos os irmãos espalhados sabiam que os cristãos de uma determinada localidade estava na casa de um outro irmão e este muito provavelmente com o encargo de cuidar deles e de recebê-los. Cuidado esse que nos faltam em larga escala nos dias de hoje.
Áquila e Priscila faziam isso muito bem, eles se descolocavam para os cuidados dos santos. Assim, as cidades que recebiam a Palavra tinham alguns poucos irmãos que precisariam ser conhecidos por aqueles irmãos que tinham a carga de recebê-los. Além disso muitos casos de evangelização já deixavam orientado que casa passaria ser útil para comunhão, e, então havia essa sequência no prosseguimento cristão.
Desta maneira, não era incomum quando uma cidade totalmente alienada à Palavra de Deus e ao Evangelho do Senhor Jesus, ser iniciada à igreja local com poucos irmãos que estariam muito provavelmente com laços de comunhão com alguns outros irmãos em determinadas casas.
Note que tal situação não se deu na igreja em Jerusalém, e por quê? Muito simples, Pedro em sua primeira pregação atrai cerca de 3 mil novos convertidos; que casa poderia contê-los?! Foi um verdadeiro avivamento. Mais tarde em nova pregação cerca de 2 mil almas se entregam ao Senhor, muito provavelmente foram batizadas. São ao todo 5 mil novos crentes, é obvio que a Bíblia jamais iria dizer: “a igreja na casa de… (se referindo a um morador cristão de Jerusalém)”.
Além disso não tinha sido desencadeado ainda a perseguição que dispersou muitos irmãos e as casas não eram somente um local de comunhão, mas um abrigo seguro contra perseguição também.
“A igreja que está na casa de…” De fato representa a igreja daquela cidade, que além de habitar na cidade, está localizada em uma casa que serve como lugar de comunhão e reuniões, e, possivelmente, de segurança.
Portanto, foi em Roma, onde poucos irmãos foram se juntando e começaram a viver a forma de igreja na “casa deles” que nada mais era que Priscila e Áquila que são citados igualmente na carta aos Coríntios (16.19).
Vejamos o caso de Ninfa, que provavelmente estava situada na cidade de Laodicéia, e oferecia sua casa ao serviço cristão. Certamente, havia poucos irmãos até aquele momento, e, eles estavam em comunhão na casa dela. Ou seja, toda a igreja de Laodicéia estava lá.
Entendo que os irmãos que ofereciam suas casas para que a igreja em determinada cidade se desenvolvesse, eram irmãos com essa carga, eles eram dotados por Deus para isso, e era um trabalho muito honrado oferecer suas casas. A casa era a hospedaria de irmãos, local de alimento e refeições, principalmente, aos irmãos necessitados. Era o local da partilha do pão e vinho para experiência cristã da Ceia do Senhor. Estudos e exposições da Palavra de Deus eram realizados ali, além das varias formas de reuniões que já citamos.
Isso é tudo o que podemos dizer sobre a igreja na casa de alguém, quero deixar mais essa passagem de Filemom 2:
“e à irmã Áfia, e a Árquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que está na tua casa.” (Grifos nosso).
Sim, a “igreja que está na tua casa” quer dizer que em algum momento a igreja local estará em uma casa que será para os fins de vida e prática cristãs, em outro momento esses irmãos se multiplicarão, e a igreja não estará mais nesta casa, mas nas [várias outras] casas [de outros irmãos] (Atos 2.46; 5.42).
Finalizando esse assunto, em todo o Novo Testamento vimos apenas três irmãos praticando o serviço das casas, indicando que era incomum, somente em caso de números pequenos de irmãos em determinada localidade isso era possível. Esses notáveis que cederam suas casas eram Priscila e Áquila (considerando o casal como um), Ninfa (de Laodicéia) e Filemom. Excetuando esses três casos, a igreja na casa não aparece, portanto, está muito claro que foi no período embrionário de uma igreja local e de modo excepcional.
Ainda falaremos mais sobre a igreja, mas quero frisar que se você leu até aqui com sua Bíblia aberta, saiba que não devemos usar esse entendimento bíblico como forma de causar divisão; é tentador, é verdade, sabermos disso e querermos colocar em prática a despeito de qualquer coisa. Antes de toda conclusão temos que aprender com a lição que recebemos de Romanos 14, isto é, temos que receber todos os irmãos que já foram recebidos pelo Senhor.
Alguns se revestindo do entendimento correto sobre o design da igreja, lendo Mateus, Atos, as Epístolas e o Apocalipse, acabaram se desequilibrando para algum tipo de sectarismo. É importante sabermos tudo isso, mas mais importante que sabermos sobre o que é igreja é sabermos quem é O Cabeça dela, e somente Ele deve ser glorificado, divulgado e demonstrado, pois Ele é digno disso.
Quando tentamos mostrar demais a igreja ainda que de forma correta biblicamente a estaremos expondo demais quando ele deveria estar coberta. Há irmãos que poderiam falar o dia inteiro sobre a igreja, mas poucos para poderiam falar na mesma proporção de Cristo.
Ainda que haja divisões em certa localidade, o Senhor que eles invocam é Senhor deles e nosso (1Co 1.2). Que bom seria aprendermos: “não o proibais…” (Marcos 9.38).
Que possamos compreender e sermos tolerantes para com as fraquezas, ainda que doutrinarias, de certos irmãos; uma vez que ele tenha sido recebido pelo Senhor, devemos igualmente recebê-lo. Obviamente que refiro à doutrinas guymnatiskas e não dogmáticas.
Se for possível reunir-se como igreja sem uma base ministerial ou denominacional, que bom seria, mas se tal situação ainda não é possível não se sinta mal por ter que procurar comunhão em outros grupos. Desde que nestes locais seja pregado a autêntica Palavra de Deus e não haja manipulação e coerção por parte da liderança. Quem sabe seu partilhar de conhecimento de Cristo ajude esses irmãos a crescerem no Senhor e também serem edificados com Igreja e que isso seja o meio que possam fazê-los de uma maneira ou de outra a buscar o Senhor em inteireza de coração desconsiderando qualquer grandeza diante dos homens. Que o Senhor cresça e nós diminuamos.