Salvação Eterna, Série: Isso Não Vem de Vós – Os Não Conhecidos Pelo Senhor (Mateus 7.21-23)
Excerto extraído (mais precisamente o capítulo 16) de uma obra denominada "Uma Salvação e Um Fogo", ainda a ser publicada. Também faz parte da coleção Salvação Eterna Isso Não Vem de Vós, cuja primeira coleção já foi publicada em formato e ebook-kindle, você pode adquir por esse link aqui.
Argumento da Perdição dos Não Conhecidos
Pelo Senhor
Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, Me dirão: Senhor, Senhor! Não foi em teu nome que profetizamos, e em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitas obras de poder? Então lhes declararei: Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade.”
—Mateus 24.13 [Versão Restauração].
Argumento Baseado em Mateus 7.21-23
Muitos sustentam a ideia de que, com base na passagem em que o próprio Senhor Jesus nos fala, a salvação pode ser perdida após a obtenção. Eles fundamentam essa visão no versículo 22, pois as obras mencionadas nele servem como um testemunho da vida espiritual de um crente. Em outras palavras, apenas os filhos de Deus genuínos seriam capazes de realizar tais obras. Contudo, no desfecho da passagem, esses mesmos indivíduos são reprovados e lançados fora do Céu.
Vamos analisar a passagem detalhadamente, pois alguns cristãos dizem que estes supostos crentes eram falsos. Bruce Anstey 2 mesmo defende essa posição apelando para o contexto que mostra que surgiriam falsos profetas; logo, esses eram falsos profetas e, portanto, nunca creram de verdade. Além disso, Anstey utiliza o exemplo de Judas Iscariotes, dos Doze, que, ao que tudo indica, saiu na missão dos Doze, dos quais curavam enfermos e expulsavam demônios (Mc 6.7-13).
O fato de Judas ser um perdido, nunca ter crido e ter sido chamado de um diabo entre os Doze indicaria que uma pessoa que não fosse nascida de novo poderia fazer inúmeros milagres. Vou me opor logo a esse argumento para darmos sequência em nossa análise; este argumento tem que ser falso logo por sua essência, pois, se Judas fez milagres, ainda que ele não fosse crente, ainda o fez por conta da autoridade do Senhor.
Regir isso como um princípio é dizer o mesmo que o Senhor dá Sua potente autoridade de expulsar demônios, curar enfermos e fazer portentosas pregações a qualquer pessoa! Sim, isso mesmo, não preciso ser um cristão para pregar, pois o Senhor Jesus compartilha sua autoridade com todos, inclusive os incrédulos. É isso mesmo que acontece na Palavra de Deus? Vejamos:
“Disse-lhe João: ‘Mestre, vimos alguém que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia’. Jesus, porém, disse: ‘Não o impeçais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós.’”—Marcos 9.38–40 (BJ).
Utilizar Judas como princípio de que os milagres feitos em nome do Senhor podem ser operados por incrédulos é totalmente contrário ao que Jesus disse em Marcos 9.39, 40; de forma alguma isso pode ser sustentado. Note que o Senhor diz: “ninguém”, ou seja, esse “ninguém” é uma completa cobertura que não é possível detê-la. Qualquer pessoa que faz milagres em nome de Jesus e se o milagre for autêntico, essa pessoa cai em um princípio que anuncia dois fatos: i) ela não poderá falar mal de Cristo; ii) ela não poderá ser contra Cristo e sua igreja, o “nós” representa antecipadamente o que seria a igreja. Isto é um fato, não é possível quebrá-lo sem danificar as palavras do Senhor Jesus.
Portanto, Judas não se encaixa nisso, porque ele foi contra o Senhor e o traiu. Se mesmo ele fazendo milagres, não pode ser considerado como alguém que pertencesse ao Senhor, como então encaixar Marcos 9.39-40? É simples, temos que entender que Judas foi uma exceção única para cumprir as Escrituras. O Anticristo também será uma exceção única, não se repetirá e não pode ser utilizado como um princípio. Nem o Anticristo, tampouco Judas, podem ser usados como princípios para coisas que podem acontecer.
Eles são exceções para cumprimentos específicos na história e no futuro, dentro da linha do Tempo da eternidade.
Claro que entre o sincretismo religioso e falsas religiões, há operações e até mesmo sinais de poder, mas isso não se encaixa em “ninguém que faça milagres em meu nome depois falará mal de mim” e tampouco em “quem não é contra nós é por nós”.
Tais operações e sinais de falsas religiões seguem o princípio dos magos egípcios, que em certa medida sobrenatural reproduziram os milagres de Arão e Moisés, mas eram praticados por magia e ação de falsos deuses. Além disso, Atos 19 nos dá uma clara oportunidade de ver que alguém que não tem o Espírito Santo e tenta usar o nome de Jesus para expulsar demônios, na verdade, encontrará problemas.
“Então, alguns dos exorcistas judeus ambulantes começaram a pronunciar, eles também, o nome do Senhor Jesus, sobre os que tinham espíritos maus. E diziam: ‘Eu vos conjuro por Jesus, a quem Paulo proclama!’ Quem fazia isto eram os sete filhos de certo Ceva, Sumo Sacerdote judeu. Mas o espírito mau replicou-lhes: ‘Jesus eu o conheço; e Paulo sei quem é. Vós porém quem sois?’ E investindo contra eles, o homem no qual estava o espírito mau dominou a uns e outros, e de tal modo maltratou que, desnudos e feridos, tiveram que fugir daquela casa.”—Atos 19.13–17 (BJ, grifos meus).
Este é um exemplo clássico de que alguém que não é a “favor de Cristo” é na verdade “contra Ele e seu Corpo”. Tais pessoas não creram no Senhor Jesus, apenas observavam estupefatos os milagres que Paulo fazia, e até mesmo seus lenços e aventais realizavam milagres, como observado no versículo 12.
O que quero dizer é que também há um princípio: se uma pessoa tem sucesso em exorcizar demônios utilizando magia, encantamentos e outros métodos sobrenaturais, ao adotar o método de Paulo, que é expulsar demônios em nome de Jesus, seriam totalmente frustrados. E por quê? Porque tais pessoas não nasceram de novo, não têm o Espírito Santo habitando nelas e não têm o direito, tampouco a autoridade, de utilizar o nome de Jesus.
O resultado certamente será catastrófico, como de fato o foi. O “vós quem sois” dá o direito ao espírito mau, primeiro de não ser expelido e, segundo, de poder investir contra o exorcista. Por isso, o Senhor Jesus disse que quem genuinamente expulsa um demônio em Seu nome é de fato a favor d’Ele e nunca falaria mal d’Ele.
Eram Cristãos Genuínos – Mateus 7.22
Já me referi anteriormente que alguns irmãos crêem que esse grupo eram cristãos professos, entre eles Bruce Anstey e o grande intérprete das Escrituras do sec. xix, Robert Govett 3 , mas devo respeitosamente não concordar com eles neste ponto. Já apresentamos argumentos suficientes anteriormente para demonstrar que as realizações miraculosas dessas pessoas, ao utilizar o nome de Jesus, deveriam ser genuínas de acordo com a Bíblia.
Alguns não conseguem enxergá-los como autênticos filhos de Deus devido à expressão “nunca vos conheci”. Sim, de fato, essa expressão parece ser alarmante. Contudo, o oposto do que ela poderia explicar seria muito mais alarmante, pois é dito que se entra no Reino dos Céus apenas os que fazem a vontade do Pai que está nos Céus. Ora, se isso é ser salvo, temo que teríamos uma enxurrada de almas genuinamente cristãs prontas a serem condenadas ao inferno. Além disso, a Escritura nunca nos ensinou que somos salvos por fazer a vontade do Pai que está nos Céus.
Anstey, ciente deste problema, tenta encaixar essa vontade com a descrita em João 6.40. Entretanto, esta afirmação é muito desconexa, pois Mateus não apresenta o Evangelho da mesma forma que João. Mateus coloca o Reino, João a vida eterna. Mateus coloca o crente pagando o preço pela justiça do Reino, enquanto João mostra Deus amando o mundo e entregando Seu Filho.
Fazer a vontade de Deus em Mateus é abnegação, fazer a vontade de Deus em João é crer no Filho de Deus. Mateus fala da porta estreita, da perseguição pela justiça, da superação da justiça dos escribas e fariseus; João fala que aquele que creu não entra em juízo que ninguém arrebata as ovelhas das mãos do Senhor, que jamais pereceremos.
Quando vemos o design de Mateus e de João conseguimos ver perfeitamente a vida eterna e o Reino dos Céus. Ainda falaremos mais dessa preciosa e bendita diferença da qual tem feito muitos discípulos sinceros de Cristo tropeçarem.
Fazer a vontade do Pai que está nos Céus em Mateus 7 é o ponto de subida às alturas é a vida do discípulo conformada a do seu Mestre.
Além do que já analisamos, é importante frisar algo muito relevante. Os que foram excluídos do Reino dos Céus tinham uma atitude em comum: eles diziam, “Senhor, Senhor!”
Essa expressão está no vocativo grego 4 é a própria invocação da sentença Senhor. Quando analisamos anteriormente Pedro em sua segunda epístola percebemos como ele foi cuidadoso ao não colocar o termo grego kyrios e sim despótes, pois o segunda indica uma expressão que um mundano pôde-se utilizar e pode fazer Jesus de alguma forma ou de outra algo que corresponda essa expressão, mas kyrios somente os cristãos podem dizer na invocação e também Cristo só pode ser kyrios dos cristãos nenhuma pessoa perdida pode ter Jesus como kyrios, pois isso, por si só, não permitiria mais que ela fosse perdida.
Já dissemos que kyrios tem a equivalência para o grego daquilo que no hebraico seria o nome do tetragrama: “YHWH” que iremos vez ou outra hipoteticamente pronunciar Yahweh, pois de fato não é possível termos a certeza da pronúncia, pois os judeus solenemente não tinham coragem de pronunciar esse nome, como o hebraico tem somente consoantes não é possível saber as vogais atualmente. A LXX preferiu adotar o termos kyrios para YHWH, isso denota imensa importância tanto do tetragrama como da expressão kyrios.
Assim, não podemos desprezar a palavra “Senhor” no português, uma vez que ela é traduzida do original “kyrios”. “Senhor” é uma palavra divina, e quem a pronunciar com fé será salvo.
Vejamos como Joel aplica esse nome:
“E então todo que invoque o nome de Yahweh será salvo (…)”—Joel 2.32a (Peshitta).
Lemos na versão da Bíblia Peshitta, como no hebraico que aparece o tetragrama sagrado YHWH o qual foi interpretado por Yahweh. Quando lemos a mesma passagem na LXX o termo kyrios é usado para cobrir o tetragrama, o que significa que kyrios tem o efeito do nome de Yahweh.
“E todo que chamar o nome kyriu5 (do Senhor) será salvo! […]”—Joel 2.32a (tradução minha da LXX6).
Em Mateus 7.21 Jesus diz nem todo que me diz ou me chama: “Senhor, Senhor…”. Aqui esse vocábulo deve ser equivalente ao tetragrama. Jesus não está discutindo a invocação deles, se eles chamaram corretamente ou não. Além disso a expressão Senhor aparece duas vezes o que parece indicar um fator de veracidade (Gn 41.32), afinal, 2 ou 3 testemunhas confirmavam um depoimento (2Co 13.1; Dt 17.6).
Se avaliarmos a capacidade que eles tinham de expulsar demônios usando o nome de Jesus com total sucesso, além de profetizarem (pregação ou proclamação) e fazerem outros milagres também utilizando o nome de Jesus; e, percebendo o princípio que vislumbramos em Marcos 9.39, não podemos concluir que tais são crentes professos ou falsos crentes.
A Dificuldade Com a Expressão Nunca
Se a palavra “nunca” (Mt 7.23) é forte a palavra “ninguém” (Mc 9.39) igualmente o é.
Temos que levar em conta o que a sentença “nunca” quer nos ensinar, vejamos:
“Nunca vos conheci”.
Essa expressão não indica que Jesus não os conhecia de fato, pois nada se afastará de sua ciência naquele dia, mas você pode alegar para sustentar que eram professos que a expressão “conheci” indica que eles nunca tiveram relação com Jesus; não é bem assim.
“Conhecer” na Bíblia também pode indicar aprovação, compreensão, capacitação, saber e habilidade. O sentido de relacionamento é um elemento importante, assim como o da ciência. Se o “nunca” diz respeito à ciência, então o Senhor não é onisciente. Entretanto, se diz respeito à questão do relacionamento, a situação muda, pois o Senhor não poderia tratar aqueles obreiros como desconhecidos quaisquer.
Além disso eles estão sendo julgados diante do Senhor e, em sua defesa, eles apresentam uma série de feitos com o nome d’Ele. Contudo, no julgamento final onde Hades e a Morte descerão ao lago de fogo, não serão feitas interrogações, pois a grande normativa do Trono Branco é, “seu nome está escrito no livro da vida?” Já no Tribunal de Cristo nas Nuvens poder-se-á julgar as obras dos crentes, e avaliar essas obras (1Co 3.15); claro sinal que esses que dialogam apresentando suas defesas estão na Parusia de Cristo em Seu Tribunal que começa pela Casa de Deus (1 Pedro 4.17).
Isso não seria um problema de ciência e portanto não afetaria sua onisciência em Seu Tribunal, mas ao indicar um problema de relacionamento primeiro, deve-se considerar que houve alguma proximidade com estes obreiros; segundo que por algum motivo estes quebraram essa relação com Cristo.
Não nos esqueçamos que Jesus disse “permanecei em mim que eu permanecerei em vós” (João 15.4).
Alguém para permanecer tem que obrigatoriamente estar n’Ele. Todavia esse permanecer de João 15 não tem conexão com salvação e sim com frutificação, pois antes Ele diz: “vós já estais limpos” (v.3), se permanecer tivesse relação com ser salvo não faria sentido Jesus dizer que eles já estavam limpos ou puros, mas no decorrer é dito “quem permanecer em mim […] produz muito fruto” (v.5).
O que indica que podemos estar limpos (salvos), mas não permanecer n’Ele (frutos). Isso também deixa claro que dar frutos para o Senhor é fazer a vontade do Pai que está nos Céus (Mt 7.21) e não necessariamente expulsar demônios ou mesmo fazer milagres.
Fizemos um estudo detalhado sobre a diferença de Salvação e Frutificação. Aprenda Mais.
Então, o Senhor não aprovou aqueles obreiros. Essa relação não está ligada à salvação, o que não seria nenhum problema, pois se invocaram o nome do Senhor, foram salvos. No entanto, está relacionada à obra. O Senhor não reconheceu suas obras, apesar da eficácia de Seu nome. Jesus não disse que os milagres eram falsos, não disse que eles não o chamaram de Senhor; apenas disse que nunca esteve de acordo com suas obras, e por quê? Por causa da condicional anterior:
“Nem todo que me diz: Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus”.
1. Note que o Senhor diz “nem todo” porque pode haver muitos que entrarão no Reino dos Céus por dizer: “Senhor, Senhor”, aliás invocar o nome do Senhor é o primeiro passo para entrar no Reino dos Céus sem isto não haverá a menor chance, entretanto, Jesus explica bem: “Nem todos que me chamam Senhor”, está claro que “nem todos” significa que haverão outros que o chamam de Senhor que entrarão no Reino. Portanto, chamar o Senhor é indispensável como primeiro passo, e, estes tinham dado esse primeiro passo, eles eram cristãos autênticos porque ninguém pode dizer Senhor Jesus senão pelo Espírito Santo (1Co 12.3).
2. Por outro lado eles tinham que fazer a vontade do Pai, invocar o nome kyrios (do Senhor) lhes dá a salvação (Rm 10.9), mas ser salvo não é entrar no Reino, ser salvo é apenas ser salvo; você pode ter crido no Senhor Jesus, crido que Ele ressuscitou dos mortos e ainda crer que Ele é o próprio Deus encarnado; ora, você é salvo, perdoado para sempre, purificado pelo precioso sangue do Cordeirinho, mas essa situação indica que você está salvo, agraciado e cedo ou tarde será glorificado no seu corpo para ver Deus; tudo isso é verdade até mesmo o irmão adúltero de Corinto era salvo; mas essa salvação é algo que acontece no espírito.
A salvação começa no espírito e finaliza no corpo; quando um cristão se consagra a Deus e amadurece para praticar a vontade de Deus, ele está sendo preparado, para agora, além de ser salvo, entrar no Reino. Por isso estes tinham invocado o nome do Senhor e eram salvos, mas quando Jesus menciona “nem todo” está dizendo que nem todos os salvos entrarão no Reino dos Céus, isto é, absolutamente, um fato concreto.
Diferença Entre Reino dos Céus e Salvação
Dedicaremos uma seção apenas para tratar dessa diferença, portanto, não poderemos falar disso de forma detalhada e exaustiva aqui. Porém, vale lembrar que o Reino tem a ver com herdar a vida eterna e a salvação tem a ver com receber a vida eterna. Receber a vida eterna é desfrutar no estágio inicial de algo que eu ainda obterei na plenitude, por isso que nossa salvação começa no espírito (1Co 5.5; Hb 12.10c) e a Bíblia distingue a salvação do espírito das demais salvações.
Ser salvo para receber a vida eterna, é ser regenerado no espírito (Jo 1.12; 3.6), é por essa razão que temos já a vida eterna (Jo 3.16).
Se eu tenho um pai e moro com ele, desfruto da casa dele, que também é minha, afinal, sou seu filho; neste sentido, eu recebo a casa de meu pai para meu desfrute. Mas haverá um momento em que ele morrerá, e então a casa passará a ser minha de forma completa, porque sou o herdeiro dela. Neste caso, eu não a recebo, mas a herdo.
Em nossa ilustração desfrutar da casa do pai é a salvação do espírito, tomar a casa como herança é o Reino dos Céus.
Um diz respeito ao presente o outro ao futuro.
Invocar o nome do Senhor, me regenera e eu nasço de novo, sou salvo; mas entrar no Reino dos Céus não é por invocar o nome do Senhor, mas é por fazer a vontade do Pai.
Primeiro eu invoco o nome do Senhor, em seguida faço a vontade do Pai.
Vocês acham mesmo que todos os crentes fazem a vontade de Deus que está nos Céus?
Me é muito precioso o Senhor Jesus ter dito: “Vontade de Meu Pai que está nos Céus”.
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus (…)”—Mateus 5.43–44 (AEC, grifos meus).
Lemos essa passagem de Mateus, se você a comparar com João 1.12: “Mas a todos os que o receberam, aos que creem em seu nome, deu ele o direito de se tornarem filhos de Deus”; perceberá que elas são conflitantes. Em Mateus Jesus diz que para ser filho você precisaria amar os inimigos e orar pelos perseguidores, em João diz que apenas deveria receber Jesus crendo no Nome. Quem está certo, Mateus ou João? Ou será que Jesus se contradisse?
Não há nenhuma contradição do Senhor. Ambos, os evangelistas, estão certos; mas note que em Mateus tem a cláusula, “está nos céus”, isso tem a ver com o Reino e com a subida. Como assim Reino e subida?
Deus está nos céus e ele nos convida a subir aos céus para O conhecermos e para ali encontrarmos Sua vontade, a vontade do Pai não está na terra, está nos Céus; eu tenho, portanto, que aprender a conhecer as alturas; ir a Deus.
Toda essa experiência significa despojar. É a morte, é o negar a mim mesmo; quando quero que Deus desça à minha vontade, estou fora da veracidade da vontade d’Ele; quando eu assumo o desejo de conhecer as alturas de Deus, ou seja, Deus como Aquele que é alto e com o qual devo me relacionar, então, de fato, eu passo a conhecer o Altíssimo.
Só os que sobem às alturas conhecem o Altíssimo. Muitos foram regenerados, mas não conhecem as alturas de Deus, Deus como Altíssimo. Estão, na verdade, muito inchados e pesados com este mundo, conseguiram invocar o nome do Senhor, mas apesar disso não conhecem a experiência do: “estás nos céus”.
Por um lado sou filho, por outro serei filho; é uma dupla filiação, a primeira filiação é no espírito e feita em mim na terra, a segunda é a conformidade do filho se parecendo com seu Pai que está nos céus, e é de uma atitude celestial, quem não se conformar com a vida celestial terá problemas com essa filiação.
Repare algo muito precioso que muitos discípulos de Cristo não percebem. Na passagem que lemos de Mateus 5.43 após as condicionais de amar (os inimigos) e orar (pelos perseguidores) diz: “…para que sejais filhos do vosso Pai…”.
Note a expressão: filhos do “vosso Pai”. Jesus diz para ser filhos, mas depois diz de quem seriam filhos, do “vosso Pai”, ou seja, Deus já era Pai deles antes deles serem filhos, de outra forma Jesus não poderia utilizar a sentença: “vosso Pai”. Portanto, Jesus já reconhecia a filiação deles, aquela que estava descrita em (João 1.12). Afinal, eles receberiam um novo espírito, e Jesus já reconhecia em seus discípulos a primeira filiação. Mas agora, além de serem filhos que seriam nascidos, eles deveriam se parecer com o Pai, daí o: ‘está nos céus’. Não são todos os filhos de Deus que irão apreciar uma vida celestial.
Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra.—Colossenses 3.1, 2 (ACF, grifos meus).
Percebem my friends? Paulo fala para buscar as coisas que são de cima, e por qual motivo? Por que Cristo está assentado à destra de Deus. Por que devo buscar as alturas? Porque a vontade do Pai está lá!
Vejamos como o Espírito Santo preferiu verter por meio de Lucas a mesma passagem que Mateus registrou:
“Eu, porém, digo a vós, que me ouvis: Amais vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam […] amai os vossos inimigos, fazei o bem, emprestais, sem nada esperardes. Então será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo […]”—Lucas 6.27, 35a (AEC, grifo meu).
Em Mateus temos “filhos do vosso Pai” em Lucas “filhos do Altíssimo”. Mateus: “está nos céus”; Lucas:“Altíssimo”, isso é muito importante e é o que temos estudado, Deus é alto, portanto temos que buscar as suas alturas e assim conheceremos Sua vontade; por isso que Jesus se refere a pessoas que além de invocarem o nome do Senhor (filhos de Deus), deveriam conhecer e fazer a vontade do Pai que está nos céus (se tornarem filhos do vosso Pai). Nem todos que são filhos de Deus são filhos do Altíssimo.
Que sejamos os filhos das alturas, busquemos as coisas que são de cima.
Ainda na passagem de Lucas percebemos que essa filiação não é para alcançarmos alguma dádiva ou graça, e sim uma recompensa “então será grande a vossa recompensa” (Lc 6.35).
Quando Jesus se refere a fazer a vontade do Pai que está nos céus (Mt 7.21), está orbitando em torno da recompensa e não da salvação; o Reino não é uma dádiva é um galardão. Nem todos que são chamados para salvação são escolhidos para entrar no Reino (Mt 22.14).
Desta maneira, está muito claro que, nesta passagem que parecia nos dizer que alguns não seriam salvos, mesmo chamando o nome do Senhor, na verdade não estava tratando da salvação deles, e sim da recompensa. Não é uma questão de ser filho de Deus, mas de tornar-se filho de Deus; não se trata de ser regenerado, mas de buscar as coisas que são de cima, conformar-se com as alturas e ser filho do Altíssimo.
Vamos finalizar com algo que parece nos indicar um princípio e vale destacar esse princípio à luz do contexto e dos fatos que já apresentamos, vejamos:
Desta maneira, está muito claro que, nesta passagem que parecia nos dizer que alguns não seriam salvos, mesmo chamando o nome do Senhor, na verdade não estava tratando da salvação deles, e sim da recompensa. Não é uma questão de ser filho de Deus, mas de tornar-se filho de Deus; não se trata de ser regenerado, mas de buscar as coisas que são de cima, conformar-se com as alturas e ser filho do Altíssimo.
Vamos finalizar com algo que parece nos indicar um princípio e vale destacar esse princípio à luz do contexto e dos fatos que já apresentamos, vejamos:
“Portanto, todo aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica será semelhante ao homem prudente, que construiu a sua casa sobre a rocha. Desceu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram contra aquela casa; contudo, ele não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.”—Mateus 7.24-25 (AEC).
Esse “portanto” do Senhor está linkado há algo que ele já disse ou algum pensamento ou ideia que havia sido expressado e sabemos que antes deste “portanto”, apenas ele tinha falado dos que o chamavam: Senhor, Senhor! E que tinham feito muitos milagres, mas dos quais foram reprovados.
Jesus parece nos querer dizer que os milagres deveriam ser feitos com base na “Rocha” que é Ele próprio, além disso ele diz daqueles que edificam, pois o homem prudente havia edificado a casa sobre a rocha, isso quer dizer que o homem prudente é um coletivo de pessoas que fazem a vontade de Deus portanto se sustentarão na prova e dificuldade, pois a rocha garante seu sustento, vejamos agora o contra-ponto disto:
“Aquele que ouve as minhas palavras, mas não as pratica será comparado ao homem insensato, que construiu sua casa sobre a areia. Desceu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram contra aquela casa, e ela caiu, e foi grande a sua queda.” —Mateus 7.26-27 (AEC).
Os versículos 26 e 27 são o oposto dos 25 e 26; pois o prudente edificou a casa sobre a rocha. A rocha nós sabemos que é Cristo, a pedra que foi rejeitada pelos construtores, a pedra vivente (1Pe 2.4 – BTX). Mas o insensato (oposto ao prudente) não edificou sobre a rocha; o homem insensato se refere a um coletivo da igreja também, mas daqueles que não fazem a vontade do Pai que está nos céus.
Aqueles que invocaram o Senhor e não foram reconhecidos, eram parte da igreja, eram e são um coletivo, contudo formado por insensatos.
Casa aparece tanto para o prudente quanto para o insensato, e casa é uma figura da igreja e também da família de Deus (Lucas 13), desta maneira tanto o prudente quanto o insensato tem acesso à casa, portanto ambos são crentes.
A forma que um trabalhou a casa difere do outro; um edificou sobre uma pedra viva, a verdadeira rocha; outro sobre a areia. A pedra aponta para Cristo (1Pe 2.4), a areia para o homem (Gn 3.19; Ec 12.7; Lc 6.49).
Embora a casa tenha sido erguida e ornamentada da mesma forma e parecia funcional da mesma maneira, não foi possível detectar nenhuma tragédia ou problema, pois a casa em si não tinha falha visível, o dilema é convergido para o coletivo insensato, pois quando vem a tempestade e a casa cai, prova-se que a casa foi construída numa base errada, o insensato se inspirou em sua carne (areia) para ornamentar e construir a casa; o prudente na rocha (Jesus Cristo).
Ao utilizar a carne a para tratar com a casa ela até pode ser levantada, mas sua base não será aprovada, mesmo que parecesse uma linda obra ornamentada. É necessário que a casa esteja na Pedra, isso é depender do Espírito Santo para fazer, por exemplo, aquelas obras que o Senhor Jesus não havia apoiado nos obreiros que usaram Seu Nome (Mt 7.22-23) e o Senhor Jesus não pode conhecer insensatos nesta construção porque Ele estaria validando a construção sobre a areia.
Mesmo para fazer obras simples para a igreja de Deus temos que depender do Espírito Santo, não podemos simplesmente colocar nossa energia natural ainda que haja milagres.
O milagre pode ser perpetrado pelo poder da alma 7 ou pode ser autêntico do ponto de vista do milagre em si, pois Deus pode estar interessado na pessoa que os recebe, entretanto, não é a validade ou não do milagre, que constitui a prudência; Moisés bateu na rocha (na segunda vez) 8 quando Deus ordenou que ele dissesse à rocha para dar água, mesmo desobedecendo a Deus o milagre se realizou porque Deus estava preocupado com a sede do seu povo naquela ocasião (Nm 20.8-12).
Nem sempre a operação será uma atestação de maturidade na obra ou que a pessoa dependeu totalmente de Cristo para realizá-la. Nunca nos esqueçamos que os coríntios foram elogiados pelos dons, mas ao mesmo tempo criticados pela carnalidade.
Assim, encerrarmos a análise do argumento de Mateus 7 e concluímos sem qualquer dificuldade que que os que chamaram: Senhor, Senhor! Foram salvos, mas reprovados; sua base para os milagres foi a areia e não a Pedra. Serão salvos, mas não participarão da primeira ressurreição e não entrarão no desfrute do Reino Milenar.
Está muito claro que fazer a vontade do Pai é um ato de aprovação no Tribunal de Cristo para entrada premiada no Reino, e assim ter a glorificação da Primeira Ressurreição; não é de forma alguma uma questão de ser salvo ou perdido. Para a salvação uma única vontade do Pai é requerida, crer no Seu Filho (João 6.40); mas para ser glorificado no evento especial milenar é necessário praticar Sua vontade (Mateus 7.21).
Que o Senhor nos dê Sua luz.