O Sopro da Criação – O Homem passou a ser alma vivente – Série: Os Dois Sopros e a Restauração do Homem
Este conteúdo faz parte da série: “Os Dois Sopros e a Restauração do Homem”, um material homônimo de um livro ainda não publicado. O assunto dessa obra visa explicar pelo ângulo da antropologia bíblica a composição do homem e o design divino que o confeccionou. Esta obra [que por ora faz parte da versão] impressa também estará aqui no site em alguma medida. Ela visa responder perguntas como: qual a diferença da alma e do espírito humanos? Qual diferença que entre o sopro na criação e o sopro na restauração? Temos mais de um espírito? Há alguma forma preservada no homem que se assemelha a sua forma física cuja manutenção se dá Pós-Morte? Além de essas, a série promete responder muitas outras perguntas semelhantes. Continue com a gente nesse primeiro estudo até o final e poderá descobrir muitas detalhes interessantes.
Sumário
INTRODUÇÃO
Esta Introdução é extraída diretamente do livro.
Prezados, presumo que este seja um assunto de vital importância. Visto que existem muitas visões e interpretações sobre o tema.
Quero colocar, particularmente, a minha; sendo cauteloso em dizer que essa é a forma como vejo; de maneira nenhuma quero induzir outras pessoas a seguir esta linha de pensamento, no entanto, não abordá-la seria uma falha em relação a ao exame que faço da minha própria consciência.
Ainda em tom de esclarecimento, qualquer pessoa que pegar essa matéria, ou parte dela, principalmente em capítulos mais controversos, e transformá-la em doutrina, estará cometendo um erro.
Dentro dos assuntos mais difíceis, eu elencaria: “o que seria o hálito vital de Deus?”; e, se seria “possível tratá-lo com distinção do espírito humano”, e, ainda: “o espírito novo, que viria adentrar a nova raça, seria distinto do espírito humano já existente?” E quanto à possiblidade do homem ter um espírito que representa, forma, substância e estado que poderia junto com a alma estar no Pós-Morte, e por fim: “poderia o espírito habitar no Hades, mesmo depois dele ter voltado a Deus, conforme Eclesiastes 12.7, ainda que seja sabido que a alma já estivesse lá?”. Entendo que o período do séc. XIX foi o de maior alcance da luz desde a Reforma até hoje. Portanto mesmo ainda à procura de respaldo daqueles preciosos irmãos —o que me traria grande conforto—, tenho cuidado de deixar claro que esse tema é oriundo de uma noção particular não doutrinária, e, portanto, é uma fé pessoal. Não tenho a menor intenção de que esse conhecimento encontre adeptos, mas acho que não abordá-lo igualmente seria um erro tanto quanto a defesa doutrinaria dele.
Se este estudo puder, de acordo com a Vontade Soberana do Senhor, ajudar os irmãos e irmãs quanto à suas dúvidas sobre esse complexo desenho tricotômico do homem, ainda que em boa parte ele seja rechaçado, já estarei satisfeito. Peço que o Senhor, que é a Luz, nos ensine e nos corrija sobre Seus caminhos. Submeto este conteúdo ao Espírito da Verdade e a Ele me curvo.
Introdução, extraída diretamente da obra impressa.
O PRIMEIRO SOPRO
Ao nos depararmos com a história do homem, uma espécie criada1 à imagem e semelhança de Deus, nos deparamos com o sopro que foi inserido nas narinas dele.
Ao insuflar tal sopro, adentrando aquela região esculpida de barro, este hálito pôde preencher toda a região interna daquele protótipo. Semelhante ao que acontece quando enchemos os balões de ar, que ficam com sua ocupação interna preenchida.
Se pudesse ser medido, compreendido e visto, aquele sopro seria o que é exatamente externo, porém internamente. Isso é o espírito, o Ruach,2 que veio de Deus. O homem passou a ter dois layouts3: o externo, figurando sua forma física corporal; e o interno, resultado da insuflação divina para dentro do protótipo. Isso quer dizer que o sopro como sopro era uma coisa, e o sopro como aquilo que resultaria em um layout, era outra. Neste sentido, há, pelo menos, dois espíritos no homem: o que vem do poder halitoso de Deus e o que resultou desse hálito; um layout que é parecido com o externo, porém agora interno.
Esse é o espírito como resultado ou podemos dizer “espírito humano”. O espírito sopro ainda não era o espírito humano, passou a ser, mas não era. Vale destacar mais uma vez que o espírito halitoso pertence a Deus e volta para Deus quando o homem tomba na morte [Gênesis 49.33; Números 20.29; Eclesiastes 12.7; Mateus 27.50; Lucas 23.46; Atos 7.59]. Mas o espírito que ganhou forma por ocupar toda a região do protótipo fica com o homem, pois será sua casa no pós-morte.
Não confundamos: o sopro de vida em nós não é o espírito humano que foi gerado pela sua entrada. O sopro vitalício é patrimônio divino e é celestial; ele volta para Deus. Entretanto, no dia da ressurreição dos santos, esse fôlego retornará. Contudo, irmãos, é bom lembrar: o espírito resultou desse sopro, e o choque do sopro com as paredes internas do corpo prototipado do homem gera a alma vivente, que é outro elemento. É por isso que a Bíblia, na língua hebraica, diz na forma plural: “soprou nas suas narinas o fôlego de vidas”. Pois houve a criação do espírito humano e da alma. Nosso irmão Watchman Nee também parece concordar com isso:
“O termo original traduzido como ‘vida’ na expressão ‘fôlego de vida’ é chay e está no plural. Isso pode estar indicando que o sopro de Deus produziu uma vida dupla: a vida da alma e a do espírito.
Quando o sopro de Deus entrou no corpo do homem, tornou-se o espírito do homem.”
[O Homem Espiritual, Watchman Nee – volume. 1 p. 31 – publicado no Brasil pela Editora Betânia].
Prossigo mantendo esse entendimento de que o espírito humano é gerado na conexão do sopro. Esse sopro se mantém no homem e é entregue a Deus no momento da morte. Repare como foi a morte de Jacó: a Bíblia diz que ele expirou. Essa expiração é o sopro partindo, mas não o espírito humano (formato/ layout). O sopro de todo homem, incluindo ímpios, malvados, descrentes e tiranos, como César Nero, Calígula e Hitler, é produto celestial, apesar da tirania dessas figuras; pois não há ligação direta com elas, sendo, portanto, patrimônio divino; é devido a isso que ele deve voltar a Deus. Mesmo o homem descrente e ímpio tem esse sopro.
Eclesiastes diz que o sopro do homem volta a Deus. Isso é genérico, ou seja, de todo homem. Se admitirmos que isso é o espírito humano, então todo homem no momento da morte vai para Deus, incluindo toda espécie humana até mesmo o homem mais vil, blasfemo e pecador. Seguramente, esse pensamento é falho!
O que volta a Deus é o seu sopro vitalício dentro de cada ser humano. Jesus também expirou, conforme registrado em Marcos 15.37. Assim que Ele expirou, liberando o sopro, morreu. Note que Lucas, ao narrar esse acontecimento, registrou as palavras de Jesus da seguinte forma: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Marcos diz que que ele expirou; Lucas que Ele entregou seu espírito.
O que temos neste caso é que o espírito que está sendo mencionado é aquele que, ao ser ativado dentro de cada ser humano, produziu vidas.
Esse espírito, ao mesmo tempo, é o que mantém as vidas dentro do homem.
Tiago diz que o corpo sem esse espírito (sopro) está morto (Tg 2.26); portanto, temos de fato o sopro da vida. Ou seja, quando o sopro sai do homem, isso significa morte.
No entanto, o resultado deste sopro que gerou um molde interno humano não é desintegrado e tampouco volta para Deus, ele passa a ser parte do homem, e vai envolvido com sua alma para o mundo dos mortos; esse molde chama-se também espírito. Temos que diferenciar o espírito como vitalidade que mantém a vida do corpo; do espírito que se torna uma entidade humana e passa ter funcionalidades humanas como consciência e intuição.
Agora, permita-me ser um pouco lúdico, seguirei com uma analogia de agora em diante.
Imagine a forma de um sorvete de palito, sabe aqueles sorvetes que em algumas regiões do Brasil chamamos: picolé. A forma do picolé reflete o que é o sorvete, que até então estava oculto.
Eu tenho um tio que montou uma fábrica de picolés no passado. Eu era jovem e sempre ia visitá-lo, nem preciso dizer o motivo de tanta frequência, não é mesmo?
É claro que eu gostava muito dele também, e ele sempre me dava sorvetes, que eram muito bons. Lembro-me dos moldes, que eram de metais e ficavam submersos em um líquido que mais tarde soube que era álcool, porque ele não congela suportando baixas temperaturas, desta forma ajudava os picolés a passarem pelo processo de resfriamento, ficando eles em condições ideais para que o sorvete ficasse pronto para ser removido através dos palitos. Lembro-me daquelas formas, que eram exatamente o que o sorvete era, porém como picolés de metais.
Esse molde é uma expressão externa, permitindo que se imagine o que está dentro da forma do picolé. O mesmo ocorre com a forma de um cubo de gelo. Observando a forma, podemos inferir que há algo interno que é igual a ela, ou seja, que terá o mesmo desenho do molde externo, porém com mais preenchimento, o que torna mais real o objeto do que seu próprio molde.
A forma é como nosso corpo, visível aos olhos, enquanto o gelo ou o picolé são como nosso espírito, uma substância interna que só podemos perceber quando eles são retirados da “forma” que de alguma maneira reflete o que está dentro dela. Podemos imaginar também como as embalagens: por fora, temos uma capa e por dentro, temos a substância interna. Não estou me referindo aos órgãos físicos internos, mas ao que viria ser o sopro vital de Deus insuflado na sua “embalagem de barro”.
Embora reconheça que os exemplos que utilizei sejam imperfeitos, foram os mais próximos que consegui encontrar para aludir esse conceito de forma espírito e forma corpo.
Se o espírito fosse somente o sopro, então, no momento da morte do homem, este não teria mais espírito, pois, teoricamente, ele [o espírito] teria voltado a Deus. Então, ele poderia ser somente uma alma, o que faz muito sentido, porque o homem é frequentemente chamado de alma na Bíblia. Isto se deve ao fato de ter sido a parte que passou a prevalecer no homem, pois ele se tornou alma vivente, e seu espírito caiu em trevas. Nada mais restaria para o homem do que ser uma alma.4
Mas repare que do último Adão é dito que Ele é espírito vivificante; contrapondo o primeiro, que é alma vivente. O Segundo Homem é espírito e um espírito vivificador (1Co 15.45).
Isso quer dizer que, a partir do último Adão, o espírito passaria a ter nova forma, ele teria um redesign. Isto se deve por causa de Cristo em Si mesmo criar uma nova raça que é semelhante a Si (Rm 8.29), portanto o homem pode usufruir de seu espírito como que agora estando ele debaixo da “Árvore da Vida”.
Adão como alma vivente é uma experiência pré Árvore da Vida, por isso ele não poderia ser espírito vivificante, mas ao que tudo indica se ele comesse do fruto da Vida, a Vida de Deus teria entrado nele e essa experiência se daria no espírito. Seu espírito já era vivificado, mas se a Vida de Deus entrasse nele ele seria espírito vivificador.
Por isso que em Cristo não somos mais da raça da alma vivente, pois tocamos na Vida; nosso corpo não será mais psíquico, mas pneumático. Certamente, somos almas, a Bíblia nos chama assim, mas haverá um momento que nossa essência se completará em Cristo até o dia da bendita libertação do nosso corpo de morte, ali a alma não mais se sobressairá, e nosso corpo não será mais psíquico5, pois estaremos vivendo pelo espírito de um corpo glorificado e experimentaremos o que é ser um espírito vivificador através de um corpo espiritual.
Em Cristo o espírito humano regenerou-se; todo aquele que crê no Nome é gerado pelo Espírito Santo. [João 1.12; 3.6]. As formas contrastantes aqui não são a alma e espírito, e sim o corpo: “O que é nascido da carne é carne”; e o espírito: “O que é nascido do Espírito é espírito”. Agora nosso espírito é ativado, antes parecia que não tínhamos mais espírito [Judas 19]. Agora podemos ter novamente espírito, no sentido dele voltar a ter função plena e poder sair das trevas da Queda.
Com isso em mente não podemos simplesmente dizer que somos apenas alma no momento da morte. Pois como poderíamos adorar a Deus no Além-Vida se é dito que os verdadeiros adoradores adoram ao Pai em espírito e em verdade? E o que dizer das almas que estavam debaixo do altar em Apocalipse 6.9 louvando a Deus? Se perdêssemos o espírito na morte, então perderíamos a capacidade de adorar a Deus no Hades. A Bíblia afirma que Deus é Deus dos vivos, mas os mortos que pertecem a Ele são tidos como vivos (Lc 20.38) isto se deve à comunhão que ainda é mantida com seus servos, mesmo eles estando mortos, tal coisa seria impossível sem o espírito do homem!
Deus diz que é Deus de Abrahão, Isaque e Jacó, pessoas que já morreram, não diz que Ele ‘foi’ Deus delas, mas que ‘é’. Deus ainda é Deus delas. Há uma relação de Deus com os mortos; as almas debaixo do altar O chamam de: “Senhor”, “Santo” e “Verdadeiro”. Essas expressões não tocariam Deus e Ele não teria comunhão com essas almas se elas perdessem o órgão: “espírito humano”. A Bíblia diz que Deus é espírito, o que significa que a comunicação com Ele deve continuar no âmbito espiritual mesmo após a morte. Como seres humanos, precisamos do espírito para adorar a Deus e buscá-lO. Se, após a morte, tivéssemos apenas uma alma no Hades, não poderíamos orar nem adorar a Deus.