O Mistério da Criação – Watchman Nee
Excerto extraído (mais precisamente o capítulo 1) de uma obra denominada “The Mystery of Creation” de Watchman Nee. Onde é feito com acurada precisão, considerações acerca da Criação de Deus entre os versículos 1 e 2 de Gênesis 1. Quão rico são os detalhes já neste primeiro capítulo. Depois do aclamado clássico: “As Eras Mais Primitivas da Terra” de Pember, nosso irmão Nee traz, notas, detalhes e insights impressionantes. Tornando esse livro indispensável para o estudo dessa matéria. Você pode adquirir esse livro em inglês se preferir por esse link aqui
Livro “The Mystery of Creation” – Versão impressa, publicada pela Christian Fellowship Publishers. Conheça mais sobre a Criação e o livro de Gênesis, um estudo detalhado e singular de Watchman Nee. Onde a revelação de Deus e Sua Palavra toma conta das considerações desse estudo precioso. Saiba Mais.
Todas as citação bíblicas são da Tradução Brasileira (TB), 1917–2010. Sociedade Bíblica Brasileira. Salvo em outra indicação com a devida abreviatura.
UMA NOTA EXPLICATIVA
A Tradução desta obra foi realizada diretamente pela nossa equipe de redação, portanto, segue fielmente o texto em inglês disponibilizado por Stephen Kaung. Todavia, nós DoPeregrino.com, fizemos uma adaptação para o formato de conteúdo de internet e para aplicar sumarização com fins de facilitar a navegação por seção assim como a leitura; isto se dá, tão somente, em seções que foram intituladas para tematizar aquele determinado bloco; queremos destacar que esses títulos temáticos não se encontram na obra original impressa, mas que fazemos uso apenas como recurso organizacional, melhorando a usabilidade e a navegabilidade do leitor. Também é importante salientar que utilizamos estilos tipográficos próprios, portanto, grifos e destaques [como itálicos, negritos e sublinhados são nossos e] não refletem necessariamente o que estão na obra impressa. Os colchetes “[ ]”, são exatamente como a obra impressa, representando o que o sr. Nee usaria como intercambio de uma ideia ou outra que ele estava transmitindo. Não sabemos se isso foi de fato de Watchman Nee ou se foi alguma adaptação dos seus transcritores, ou ainda do editor do original chinês para o inglês; o leitor compreenderá melhor o uso destes colchetes, principalmente quando chegar nas partes em que se lidam com os termos hebraicos. Todas as notas e menções de livros, autores e eruditos se dão tão somente da versão impressa original, e preferimos evitar a tradução para que, pois, àquilo que Watchman Nee observava como material de apoio, fosse o mais fiel possível à sua própria citação [mesmo que tais viessem do editor da versão inglesa]; desta forma pelos motivos já citados não adaptamos as obras para as referências do Brasil ainda que elas o tivessem. Esperamos que a leitura possa ser de grande proveito a todo filho de Deus. Que O Senhor, tão somente Ele, seja nossa Luz.
Sumário
Capítulo 1
GÊNESIS E A GEOLOGIA
Cremos que a Bíblia é a palavra de Deus: cada palavra é inspirada por Deus. É um peso constante nas mentes dos cristãos piedosos quando se deparam com pessoas que simplesmente desprezam e até mesmo se opõem à palavra de Deus. Os corações dos filhos de Deus estão entristecidos devido às pessoas não respeitarem os estatutos de Deus.
Dos sessenta e seis livros da Bíblia, Gênesis é o livro, talvez, sujeito a mais dúvidas e ataques do que qualquer outro. Aqueles que se opõem à Bíblia Sagrada frequentemente tentam usar períodos geológicos e fósseis pré-históricos para contestar a clara revelação da palavra de Deus. De acordo com essas evidências geológicas, a Terra existe há dezenas de milhares de anos. E, portanto, para eles, o registro de seis mil anos de história na Bíblia é inconfiável. Eles, portanto, levantam a bandeira da ciência em seu ataque ao registro de Gênesis.
Muitos queridos irmãos no Senhor são realmente afligidos por essas tempestades de controvérsias devido à falta de aprofundamento. Embora a geologia não seja o foco de nossa meditação hoje, abordaremos isso no início de nossas considerações sobre Gênesis, para o benefício desses irmãos. Pela graça de Deus, juntos examinaremos a Escritura de Deus para descobrir quão perfeita é a Sua Palavra, para que possamos permanecer em Sua presença contemplando Sua glória.
Vamos compreender, antes de tudo, que Gênesis é a revelação de Deus; a geologia, por outro lado, é uma invenção humana. Uma vez que Deus conhece todos os fatos, Sua revelação nunca pode estar errada. Os homens só podem ver parcialmente, portanto, suas deduções raramente são precisas. Se tanto Gênesis quanto geologia estão diante de nós, devemos seguir Gênesis e não a geologia, porque Deus está por trás de Gênesis. Se Gênesis e geologia diferem, o erro deve estar do lado da geologia, pois a autoridade da Bíblia está além de qualquer questionamento. Agradecemos a Deus, nosso Pai, por nos dar uma revelação perfeita. Se houver algum desacordo entre Deus e os homens, preferimos abandonar os seres humanos e seguir a Deus.
Mas se não houver diferença entre a palavra de Deus e a dos homens, isso não fortalecerá, de alguma maneira, a fé dos mais fracos para que creiam melhor na revelação que vem do céu? As pessoas costumam rir dos mitos da história da criação alguns são circulados entre os chineses, os babilônios e outros povos antigos. Nenhum cientista se incomoda em refutar essas narrativas míticas. E por quê? Porque essas tradições não têm valor intrínseco; portanto, não valem a pena receber atenção especial. A atitude das pessoas em relação à Bíblia, no entanto, é bastante diferente. O próprio esforço delas para resistir às Escrituras prova o poder da Bíblia. O fato de que elas não tratam este Livro da mesma forma que tratam as tradições das nações demonstra a posição dominante que a Bíblia ocupa.
Quem é capaz de ler o primeiro capítulo de Gênesis sem ficar impressionado com a sua singularidade? Tão simples e, ao mesmo tempo, tão maravilhoso! Os fatos são apresentados de maneira tão direta que não há vestígio de teorização. Não há tentativa de argumentar e provar a autenticidade dos fatos apresentados. O Autor não está limitado pelo livro, pois Ele é muito maior do que aquilo sobre o qual Ele escreve. Ele transcende de longe o universo simplesmente porque Ele é o próprio Deus. Agora, se o autor fosse Moisés — que sem dúvida teria escrito com base em seu próprio conhecimento e sabedoria — sua redação naturalmente teria sido influenciada pelos mitos de criação egípcia, afinal ele foi instruído em toda a sabedoria e conhecimento desse povo antigo (At 7.22).
Não deveriam os cientistas maravilhar-se com o registro de Moisés? Porque o Deus onisciente revelou esses fatos, aquele que recebeu tal revelação d’Ele não pode escrever errado.
Mesmo contendo todos acertos, a Bíblia não é um livro de ciência. Seu objetivo principal é apontar pecadores para Cristo Jesus, para que possam receber a sabedoria da salvação. Contudo, curiosamente, ela não contém erros científicos, mesmo que basicamente não seja um livro sobre ciência. Se houver qualquer discrepância entre a Bíblia e a ciência, essa discrepância será devida à má interpretação da Bíblia pelo homem ou a uma imprecisão nas conclusões da ciência.
Quantas das afirmações seguras dos geólogos anteriores ao longo dos anos mudaram! O que eles afirmaram no passado foi posteriormente comprovado como erro. Um observador chamado Cummings afirmou que “a geologia cometeu erros e cometerá erros novamente. Aquelas proclamações apressadas e anunciadas como grandes descobertas podem se mostrar imprecisas no futuro”. Como a Bíblia nunca foi destinada a ensinar ciência às pessoas, ela simplesmente narra o “fato” da criação sem explicar o “porquê” daquele fato.
Os Cientistas gostam de explicar o “porquê” (e sem dúvida tiveram muito sucesso nisso), mas não devem avançar demais ao ponto de desconsiderar fatos por meio de seus raciocínios com base, apenas, em observações limitadas. Pois Deus sabe de tudo, e o que Ele diz é um fato. Como podem os homens, em sua frenética busca pela descoberta do “porquê” de algo, negar a autoridade de Deus e confiar em suas próprias opiniões? É bom ter conhecimento, mas há tolices mais abençoadas que muita sabedoria.
O conceito padrão entre os cristãos em relação ao primeiro capítulo de Gênesis é que o próprio primeiro versículo é uma espécie de introdução geral ou premissa, e que as obras que são feitas nos seis dias seguintes o explicam. Em outras palavras, eles consideram as palavras “No princípio, Deus criou os céus e a terra” como o tema do Capítulo 1 (uma espécie de titulo preambular).
Desta maneira, o escritor de Gênesis, de acordo com esse pensamento, apenas esboça em uma frase o que pretende explicar depois com mais detalhes em cada versículo. Assim, ele menciona quando Deus criou os céus e a terra, e depois continua contando em que condição a terra se encontrava e como Deus, dia após dia, cria a luz, o ar, a terra, as plantas, os animais e assim por diante. Tal é a visão popular, entre os crentes, de como Gênesis 1 narra a história da criação e como o universo foi criado a partir do caos e do vazio. Entretanto, aqueles que estudam mais cuidadosamente o primeiro capítulo da Sagrada Escritura consideram essa interpretação um tanto errônea.
Mas isso devido ao equívoco da interpretação, e não devido aos fatos que são narrados na Bíblia.
Surgiu uma grande controvérsia entre a igreja e o mundo. Muitos jovens, por exemplo, duvidam da precisão da Bíblia quando aprendem sobre tal “discrepância” diante de evidências geológicas específicas.
No hebraico original, este primeiro versículo do primeiro capítulo de Gênesis contém sete palavras que carregam em si um sentido de independência. Essas palavras divinamente reveladas não afirmam que, no princípio, Deus “formou” ou “fez” o mundo a partir de certas matérias-primas. Não, os céus e a terra foram criados. Criar é diferente de fazer ou gerar. A palavra “criado” é “bara” no original. Portanto, no princípio, Deus bara os céus e a terra. Esse vocábulo “bara” é usado mais três vezes em Gênesis 1 e 2:
(1ª vez) “E Deus criou [bara] os grandes monstros do mar e toda criatura vivente que se move, com as quais as águas estavam cheias, segundo as suas espécies, e toda ave, segundo a sua espécie” (1.21);
(2ª vez) “E Deus criou [bara] o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (1.27); e
(3ª vez) “E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara [bara] e fizera” (2.3). “Criar” é “chamar as coisas que não são, como se fossem” (Romanos 4.17). Esses monstros marinhos e seres vivos não apenas tinham corpos físicos, mas também tinham uma vida animada dentro deles. Portanto, requeriam um ato criativo direto e definitivo de Deus. Assim, é apenas razoável que as Escrituras usem a palavra “criado” em vez da palavra “feito” nesses trechos. De maneira semelhante, embora o corpo do homem tenha sido formado do pó da terra, sua alma e espírito não poderiam ser feitos de nenhum material físico, e, portanto, a Bíblia declarou que “Deus criou o homem à sua imagem”.
Nos primeiros dois capítulos de Gênesis, três palavras diferentes são usadas para o ato da criação:
“bara” — chamando à existência sem a ajuda de material pré-existente, como mencionado anteriormente;
“asah” — que é bastante diferente de “bara”, já que esta última denota a ideia de criar sem nenhum material, enquanto “asah” significa fazer, moldar ou preparar a partir de material existente. Por exemplo, um carpinteiro pode fazer uma cadeira, mas não pode criá-la. As obras dos Seis Dias em Gênesis são principalmente do tipo “asah”;
“yatsar” — que significa moldar ou modelar, como um oleiro faz com o barro. Esta palavra é usada em Gênesis 2.7 da seguinte forma: “E o Senhor Deus formou o homem do pó da terra”. Curiosamente, Isaías 43.7 ilustra o significado e a conexão de todas essas três palavras: “todo aquele que é chamado pelo meu nome e que criei para minha glória, a quem formei, sim, a quem fiz”. “Criado” significa chamar à existência a partir do nada; “formado” denota modelar em uma forma designada; e “feito” significa preparar a partir de material pré-existente.
As palavras “No princípio” reforçam o pensamento de que Deus criou os céus e a terra do nada. Realmente não há necessidade de teorizar; uma vez que Deus assim falou, que os homens simplesmente creiam. Quão absurdo para mentes finitas investigar as obras de Deus que Ele realizou no começo! “É pela fé que entendemos que os mundos foram formados pela palavra de Deus” (Hebreus 11.3). Quem pode responder o desafio que Deus fez a Jó sobre a criação (veja Jó 38)?
“No princípio, criou Deus o céu e a terra.” Este céu não é o firmamento imediatamente ao redor da Terra; ele aponta para o céu onde as estrelas estão. Ele não passou por nenhuma mudança desde que foi criado, contudo a Terra já não é mais a mesma.
Para compreender melhor o primeiro capítulo de Gênesis, é de extrema importância que distingamos a “terra” mencionada no versículo 1 da “terra” mencionada no versículo 2. Pois a condição da terra referida no versículo 2 não é o que Deus tinha criado originalmente.
Sabemos que “Deus não é Deus de confusão” (1 Co 14.33). Portanto, quando afirma que no princípio Deus criou a terra, o que Ele criou era perfeito. Logo, o estado de desolação e vazio da terra mencionado no versículo 2 não era a condição original da terra, como Deus a criou inicialmente. Deus alguma vez criaria uma terra cuja condição primordial fosse desolação e vazio? Uma compreensão verdadeira deste versículo resolverá o aparente problema.
“Pois assim diz Jeová, o Deus que criou os céus, que formou a terra e a fez (Ele a estabeleceu, não a criou para ser um caos, mas formou-a para ser habitada.)” (Isaías 45.18). Quão clara é a palavra de Deus. A palavra “caos” aqui é “tohu” em hebraico, que significa “desolação” ou “aquilo que é desolado”. Diz aqui que a terra que Deus criou não era um deserto. Por que então Gênesis 1.2 afirma que “a terra era sem forma e vazia”? Isso pode ser facilmente resolvido. No princípio, Deus criou os céus e a terra (Gênesis 1.1). Naquele momento, a terra que Deus havia criado não era um vazio ou um caos; mas mais tarde, passando por uma grande catástrofe, a terra se tornou desolada e vazia. Portanto, tudo o que é mencionado a partir do versículo 3 em diante não se refere à criação original, mas sim à restauração da terra. Deus criou os céus e a terra no início; mas posteriormente, Ele usou os Seis Dias para tornar a terra habitável novamente. Gênesis 1.1 era o mundo original; Gênesis 1.3 em diante é o nosso mundo atual. Enquanto que Gênesis 1.2, por sua vez, descreve a condição desolada da terra durante o período de transição após sua criação original e antes do nosso mundo atual.
Essa interpretação não precisa ser angariada somente com base em Isaías 45.18, mas também pode ser apoiada com base em outras evidências. A palavra conjuntiva “e” no versículo 2 pode igualmente ser traduzida como “mas”: “No princípio, Deus criou os céus e a terra, mas a terra era sem forma e vazia”. G. H. Pember, em seu livro “As Eras Mais Primitivas da Terra”, escreveu:
“O ‘e’ de acordo com o uso hebraico — assim como na maioria das outras línguas — prova que o primeiro versículo não é um resumo do que segue, mas uma declaração do primeiro evento no registro. Pois, se fosse apenas um resumo, o segundo versículo seria o início real da história e certamente não começaria com um conectivo. Uma boa ilustração disso pode ser encontrada no quinto capítulo de Gênesis (Gênesis 5.1). Ali, as palavras de abertura, ‘Este é o livro das gerações de Adão’, são um resumo do capítulo e, consequentemente, a próxima sentença começa sem um conectivo. Portanto, no segundo versículo de Gênesis, não temos o primeiro detalhe de uma declaração geral na sentença anterior, mas o registro de um evento completamente distinto e subsequente, que não afetou o céu estrelado, mas apenas a terra e seus arredores imediatos. E o que foi esse evento, agora devemos tentar descobrir.”
—G. H. Pember, “Earth’s Earliest Ages” Nova Edição, editada com adições por G. H. Lang (Grand Rapids: Kregel Publications, 1975), p. 31. (A obra original de Pember, com o mesmo título, foi inicialmente publicada em 1876 pela Hodder and Stoughton. Edições posteriores foram lançadas pela Pickering and Inglis e pela Fleming H. Revell Co.)Há mais de cem anos, o Dr. Chalmers apontou que as palavras “a terra era sem forma” podem igualmente ser traduzidas como “a terra tornou-se sem forma”. O Dr. I. M. Haldeman, G. H. Pember e outros mostraram que a palavra hebraica para “era” aqui foi traduzida como “tornou-se” em Gênesis 19.26: “Sua esposa olhou para trás, atrás dele, e ela tornou-se uma estátua de sal” (Versão em Inglês ASV). Se esta mesma palavra hebraica pode ser traduzida como “tornou-se” em 19.26, por que não pode ser traduzida como “tornou-se” em 1.2? Além disso, a palavra “tornou-se” em 2.7 (“e o homem tornou-se uma alma viva”) é a mesma palavra encontrada em Gênesis 1.2. Portanto, não é arbitrário para alguém traduzir ‘era’ como “tornou-se” aqui: “No princípio, Deus criou os céus e a terra, [mas] a terra tornou-se sem forma e vazia”. A terra que Deus criou originalmente não era desolada, ela só mais tarde tornou-se desolada.
“No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1.1) e “Em seis dias, o Senhor fez os céus, a terra, o mar e tudo o que neles há” (Êxodo 20.11). Comparando esses dois versículos, podemos ver facilmente que o mundo em Gênesis 1.1 era bastante diferente do mundo que surgiu após Gênesis 1.3.
No princípio, Deus criou os céus e a terra. Nos Seis Dias, Deus fez os céus, a terra e o mar. Quem pode medir a distância que existe entre “criado” e “feito”? Um é chamar à existência coisas a partir do nada, o outro é trabalhar em algo que já está lá. O homem pode fazer, mas não pode criar; Deus pode criar e fazer. Portanto, Gênesis registra que no princípio Deus criou os céus e a terra, mas mais tarde a terra havia se tornado sem forma e vazia devido a uma tremenda catástrofe, após o que Deus começou a refazer os céus, a terra e o mar e todas as criaturas neles.
2 Pedro 3.5-7 expressa o mesmo pensamento também: os céus e a terra no versículo 5 são os céus e a terra originais mencionados em Gênesis 1.1; a terra mencionada no versículo 6, que foi inundada com água e que pereceu, é a terra coberta de água que se tornou sem forma e vazia, como mencionado em Gênesis 1.2; e os céus e a terra que agora existem, como mencionado no versículo 7, são os céus e a terra restaurados após Gênesis 1.3. Portanto, as obras de Deus durante os Seis Dias são bastante diferentes de Sua obra criativa realizada no início.
Quanto mais estudamos Gênesis 1, mais convencidos ficamos de que a interpretação acima é a verdadeira. No primeiro dia, Deus ordenou que a luz brilhasse. Antes deste primeiro dia, a Terra já existia, mas agora estava coberta de água, imersa na escuridão e era sem forma e vazia. No terceiro dia, Deus não criou a terra. Ele simplesmente ordenou que ela saísse da água. F. W. Grant afirmou que “o trabalho dos seis dias simplesmente coloca a terra em um ‘novo programa’; não a cria do nada”.
No primeiro dia, Deus não criou a luz; em vez disso, Ele ordenou que a luz brilhasse a partir das trevas. A luz já estava lá. Da mesma forma, Deus não criou os céus no segundo dia.
O céu mencionado aqui não é o céu estrelado, mas o céu atmosférico, aquele que envolve a Terra. Portanto, de onde vieram todas essas coisas se elas não foram criadas durante os Seis Dias? A única resposta é que elas foram criadas no momento do primeiro versículo de Gênesis 1. Portanto, posteriormente, não houve necessidade de criar, apenas de refazer.
“No princípio, Deus criou os céus e a terra”. Note que aqui não há uma descrição detalhada. Portanto, não sabemos se o céu e a terra originais foram criados instantaneamente ou ao longo de muitas eras. Se isso foi feito em milhares de anos ou em milhões de anos? Em que forma e quão grandes? Só sabemos como Deus criou os céus e a terra no princípio. Também não sabemos quantos anos se passaram entre o primeiro versículo e o segundo versículo de Gênesis 1.
Não sabemos quando Deus criou os céus e a terra, nem sabemos quanto tempo se passou após a criação original até que a desolação descrita no versículo 2. Mas acreditamos que a criação original e perfeita deve ter passado por muitos e muitos anos antes de se tornar sem forma e vazia. Um período tão longo seria suficiente para abranger a chamada era pré-histórica.
Todos os anos que a geologia exige e todos os chamados períodos geológicos que ela distribui ao longo desses anos podem se encaixar nesse cronograma. Não sabemos quanto tempo a terra passou por mudanças nem quantas mudanças ocorreram antes de se tornar sem forma e vazia, porque as Escrituras não nos dizem essas coisas. No entanto, podemos afirmar que a Bíblia nunca afirma que a idade da terra seja apenas de seis mil anos. Ela apenas mostra que a história do homem tem aproximadamente seis mil anos. Ao compreender os dois primeiros versículos das Escrituras, podemos reconhecer que não há contradição entre a Bíblia e a geologia. O ataque dos geólogos contra a Bíblia é apenas golpear o ar. Quão maravilhosa é a palavra de Deus.
Não apresentamos essa interpretação para apaziguar a ciência. Pois a revelação de Deus nunca cede ao raciocínio do homem. Não abandonaremos a autoridade da palavra de Deus para fazer compromissos com as conclusões dos homens. Também não pretendemos tentar conciliar a ciência com a Bíblia (pois a contradição é esperada, já que “a mente da carne é inimiga de Deus” — Romanos 8.7). Pois uma interpretação como a que apresentamos aqui foi proposta mesmo já na igreja primitiva, muito antes de a geologia se tornar uma disciplina da ciência.
Aquilo que um cristão crê não pode ter relação com a sabedoria dos homens, mas se conforma tão somente com a Palavra de Deus. Além da rocha da Bíblia, não precisamos de outro fundamento em que nos apoiar. Enquanto as Escrituras o declararem, isso é considerado final para nós. Como é lamentável que muitos chamados defensores da fé cedam tão facilmente e alterem as Escrituras para reconciliá-las com teorias humanas.
Um exemplo disso é dado por A. W. Pink, que observou que, após a tradução de uma determinada tábua assíria, pessoas do tipo como as que foram mencionadas acima relataram entusiasticamente que a história do Antigo Testamento estava agora sendo confirmada por essa tábua. Isso realmente é uma inversão de valores.
A palavra de Deus precisa de alguma verificação? Vamos entender claramente que, se o registro na tábua assíria coincide com o da Bíblia, isso apenas mostra que a tábua não tem erro histórico e não que a Bíblia agora está certa. Tal situação não serve como base para favorecer a Bíblia, mas favorece a tábua.
E se há discrepância entre elas, isso simplesmente prova que a tábua está errada. Da mesma forma, se o ensinamento da ciência concorda com a Bíblia, esta última servirá para verificar a possível verdade da ciência. Mas, se não concordam, as Escrituras atestam a falsidade da hipótese científica.
O homem natural certamente zombará da nossa lógica, todavia, essa atitude zombeteira por si só, ironicamente, vai substantificar o que a palavra de Deus declara quando afirma que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e ele não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2.14), ou seja, tal atitude deles só provam que a Palavra de Deus está certa! Portanto, não coloquemos em risco nossa dignidade diante de Deus para concordar com o mundo. Não alteremos a Bíblia para agradar o gosto intelectual dos homens.
Quão maravilhoso é o primeiro capítulo de Gênesis! Um verso é usado para proclamar a criação original, um único versículo é chamado para pronunciar a ruína do mundo, e menos de trinta deles são utilizados para promulgar a reconstrução do mundo! Quem mais no universo poderia escrever um capítulo comparável a Gênesis 1? Um tópico tão difícil, mas tão claramente declarado. Uma história tão longa, mas tão simplesmente colocada. Não é científico, mas é cientificamente preciso. Se não foi escrito por Deus, então quem poderia escrever um capítulo assim? A razão pela qual Deus não fornece muitos detalhes adicionais é que Ele revelará aos homens as questões mais relevantes para o seu relacionamento com Ele. Como um estudioso bíblico certa vez observou:
“A revelação de Deus não é uma história que Ele nos conta sobre tudo o que Ele fez, mas é o que Ele deu ao homem para o seu benefício, é a verdade sobre o que Ele tem a dizer ao homem. Seu objetivo é comunicar tudo que conecta o homem a Si dentro de um relacionamento… Contudo, historicamente, a revelação é parcial. Ela comunica o que é para a consciência e afetos espirituais do homem… Por isso, não se menciona nenhum ser celestial… Da mesma forma, em relação a esta Terra, exceto o fato de sua criação, nada é dito mais sobre isso além daquilo que pode fazer o homem relacionar-se com Ele.”
— John Nelson Darby, “Synopsis of the Books of the Bible” (Kingston-on-Thames: Stow Hill Bible and Truth Depot, 1948), I:7-8.
Realmente, o que Deus revelou não é para satisfazer a curiosidade dos homens, mas com o propósito de expressar Seu caráter divino, a natureza pecaminosa do homem, o caminho da salvação e a glória e punição futuras. Quão perigoso é o conhecimento mundano, pois os homens, em sua autossuficiência, atacarão a Deus com seu conhecimento limitado.
Como é difícil para o homem intelectual ser humilde! Os homens sempre buscam conhecimento, mas Deus não está disposto a incentivar tal busca inserindo junto Sua revelação com o conhecimento humano. Consequentemente, Ele diz muito pouco aqui sobre a criação. O que precisamos agora não é mais ciência, mas uma espiritualidade mais profunda que perdurará pela eternidade. Vamos louvar a Deus nosso Pai, pois Ele é tão misericordioso. Ele não apenas nos criou, senão que também nos refez e ainda nos refará.