A Queda de Satã e a Diferença dos Anjos e Demônios – Watchman Nee

Excerto extraído (mais precisamente o capítulo 2) de uma obra denominada “The Mystery of Creation” de Watchman Nee. Essa porção retrata com tamanha precisão quem era o Querubim Ungido do Primeiro Éden e suas hordas angelicais. Além destas considerações, há um importante esclarecimento sobre a [possível] raça Pré-Adâmica, e qual a diferença entre anjos e demônios.  Quão rico são os detalhes deste estudo. Depois do aclamado clássico: “As Eras Mais Primitivas da Terra” de Pember, nosso irmão Nee traz, notas, detalhes e insights impressionantes. Tornando esse livro indispensável para o estudo dessa matéria.  Você pode adquirir esse livro em inglês se preferir por esse link aqui

Watchman Nee – A Queda de Satanás e o Pecado dos Anjos

Livro “The Mystery of Creation” – Versão impressa, publicada pela Christian Fellowship Publishers. Conheça mais sobre a Criação e o livro de Gênesis, um estudo detalhado e singular de Watchman Nee. Onde a revelação de Deus e Sua Palavra toma conta das considerações desse estudo precioso.  Saiba Mais.

Todas as citação bíblicas são da Tradução Brasileira (TB), 1917–2010. Sociedade Bíblica Brasileira. Salvo em outra indicação com a devida abreviatura.

Todas as citações de G. H. Pember são retiradas de seu livro “As Eras Mais Primitivas da Terra”, no qual o autor faz referência à versão inglesa.

UMA NOTA EXPLICATIVA

A Tradução desta obra foi realizada diretamente pela nossa equipe de redação, portanto, segue fielmente o texto em inglês disponibilizado por Stephen Kaung. Todavia, nós DoPeregrino.com, fizemos uma adaptação para o formato de conteúdo de internet e para aplicar sumarização com fins de facilitar a navegação por seção assim como a leitura; isto se dá, tão somente, em seções que foram intituladas para tematizar aquele determinado bloco; queremos destacar que esses títulos temáticos não, necessariamente, se encontram na obra original impressa, mas que, fazemos uso apenas como recurso organizacional, melhorando a usabilidade e a navegabilidade do leitor. Também é importante salientar que utilizamos estilos tipográficos próprios, portanto, grifos e destaques [como itálicos, negritos e sublinhados são nossos e] não refletem necessariamente os que estão na obra impressa. Todas as notas e menções de livros, autores e eruditos se dão tão somente da versão impressa original. Esperamos que a leitura possa ser de grande proveito a todo filho de Deus. Que O Senhor, tão somente Ele, seja nossa Luz.

Sumário

Capítulo 2 –

O Mundo Original e a Causa da Desolação

Já vimos como, no princípio, Deus criou um céu e uma terra perfeitos. Mais tarde — não sabemos quanto tempo depois — a terra originalmente bela tornou-se vazia e sem forma. No entanto, Deus se levantou e refez este mundo. Em seis dias, Ele restaurou este mundo desolado. Trataremos das obras destes Seis Dias em um capítulo posterior, mas aqui indagamos por que este mundo original foi transformado em desolação. Por que Deus permitiu que a obra de Suas mãos fosse destruída? Por qual razão tal catástrofe terrível caiu sobre uma terra tão bonita?

O assunto que examinaremos não é explicitamente declarado nas Escrituras, mas é encontrado implicitamente em muitos trechos. Por meio dessas indicações de luz, podemos entender um pouco mais sobre o mundo original e a causa de sua desolação. Somente a palavra de Deus pode orientar nosso pensamento. Na verdade, a compreensão de Sua palavra nos edificará em relação a qualquer assunto que possamos abordar. A vaidade das vaidades é confiar na suposição mental do homem em vez de se apegar à palavra de Deus.

Agora, ao examinarmos o capítulo 3 de Gênesis (e mesmo que Satanás não seja nomeado ali), podemos ter certeza de que a serpente mencionada ali era de fato um instrumento de Satanás; na verdade, era provavelmente o próprio Satã disfarçado. Pois é dito em Apocalipse 12.9 que “o grande dragão foi lançado fora, a antiga serpente, chamada Diabo e Satanás, que engana todo o mundo”. Visto que Gênesis 1 não registra a criação de Satanás, podemos legitimamente perguntar: de onde ele veio? Além disso, vemos menção ao longo do Antigo Testamento de muitos espíritos malignos; ao longo dos Evangelhos também nos deparamos com muitos deles com bastante frequência. De onde vieram? Além disso, não temos conhecimento da criação dos anjos, embora esses anjos sejam frequentemente mencionados ao longo da Bíblia.

De onde eles vieram? Essas perguntas estão legitimamente relacionadas ao nosso problema. Agora, visto que nada foi mencionado durante o trabalho dos Seis Dias em Gênesis sobre a criação de anjos ou de outros seres sobrenaturais, devemos presumir que eles não poderiam ter sido criados naquele momento. Se eles não foram criados durante o período dos Seis Dias, quando foram criados? A única resposta possível é que eles eram as criaturas do mundo anterior. Nessa trama, devemos considerar as observações de G. H. Pember:

“Como os restos fósseis claramente mostram, não apenas a doença e a morte, companheiras inseparáveis do pecado, eram prevalentes entre as criaturas vivas da terra, mas também a ferocidade e o abate. E o fato prova que esses restos não têm nada a ver com o nosso mundo; já que a Bíblia declara que todas as coisas feitas por Deus durante os seis dias eram ótimas e nenhum mal estava nelas até que Adão pecou… Portanto, uma vez que os restos fósseis são de criaturas anteriores a Adão e ainda mostram sinais evidentes de doença, morte e destruição mútua, eles devem ter pertencido a outro mundo e ter uma história manchada pelo pecado, uma história que terminou na ruína deles e de sua habitação.”

—G. H. Pember, “Earth’s Earliest Ages”  p. 34, 35.

Embora, ao estudarmos Gênesis, não aprendamos a origem de Satanás, no entanto, ao investigarmos a causa da desolação da terra no início, naturalmente podemos concluir que isso deve ser devido ao inimigo. Fora de Satanás, não há outra razão na Bíblia para explicar essa catástrofe.

Agora, examinemos outra passagem das Escrituras que parece nos contar a origem desse adversário de Deus, a quem descobriremos ser a causa da desolação do mundo original. É Ezequiel 28.1-19. Esses dezenove versículos podem ser divididos em duas partes: a primeira, dos versículos 1 a 10, é o aviso do profeta ao príncipe de Tiro; a segunda parte, dos versículos 11 a 19, é a lamentação do profeta pelo rei de Tiro.

A primeira parte sobre o príncipe de Tiro é facilmente compreendida. Ele era orgulhoso e arrogante, se considerava como um deus e se passava por mais sábio que Daniel. Seu coração se exaltava por suas riquezas adquiridas por meio do comércio. Portanto, Deus o castigou e o destruiu pelas mãos do terror das nações. Não muito tempo depois dessa profecia, Nabucodonosor, rei dos caldeus, veio e destruiu Tiro. O historiador judeu Josefo pensava que esse príncipe de Tiro era Ittobalus, enquanto na história fenícia ele era chamado de Ittobaal II.

Hoje sabemos que essa profecia já foi cumprida. Portanto, não encontramos dificuldades em explicar os versículos 1 a 10. Mas, ao continuarmos a leitura do versículo 11 em diante, encontramos muitos lugares difíceis de entender. Como isso está intimamente relacionado ao que estamos examinando, citaremos esta segunda parte na íntegra:

“Demais, veio a mim a palavra de Jeová, dizendo: Filho do homem, faze uma lamentação sobre o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o Senhor Jeová: Tu eras o selo da simetria e a perfeição da sabedoria e da formosura. Estiveste no Éden, jardim de Deus; cobrias-te de todas as pedras preciosas: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, a esmeralda, o carbúnculo e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras o querubim ungido que cobre, e estabeleci-te, de sorte que estivesses sobre o monte santo de Deus; andaste no meio das pedras de fogo. Tu eras perfeito nos teus caminhos desde o dia em que foste criado até que a iniquidade se achou em ti. Pela abundância do teu tráfico, encheram de violência o teu interior, e pecaste; portanto te lancei, profanado, do monte de Deus, e te exterminei, ó querubim cobridor, do meio das pedras de fogo. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem. Pela multidão das tuas iniquidades, na injustiça do teu tráfico, tens profanado os meus santuários; portanto, fiz sair do meio de ti fogo, que te devorou, e te reduzi a cinzas sobre a terra, à vista de todos os que te contemplam. Todos os que te conhecerem entre os povos ficarão espantados de ti; tu te tornas em pavor e tu não subsistirás mais.”

—Ezequiel 28.11–19

Esta passagem extensa é verdadeiramente difícil de entender porque há muitas palavras aqui que não podem ser aplicadas a homens. Se o rei de Tiro é apenas um ser humano, como você pode explicar as coisas mencionadas nos versículos 11 a 15? Quando o rei de Tiro esteve no Jardim do Éden, na montanha sagrada de Deus? Como ele poderia ser o querubim que cobria a arca? Nada mencionado aqui foi jamais a experiência do rei de Tiro. No entanto, também não podemos espiritualizar tudo sempre que encontramos dificuldades.

Considero que a primeira parte (versículos 1-10), a qual é dirigida ao príncipe de Tiro, seja aplicável a Ittobalus, mas que a segunda parte (versículos 11-19) — que é uma lamentação contra o rei de Tiro — aponta para o futuro Anticristo. O versículo 2 menciona Tiro como estando no meio do mar. Lendo Daniel 11.41-45, sabemos que quando o futuro Anticristo estiver na Palestina, ele provavelmente permanecerá em Tiro. Portanto, ele é chamado de Rei de Tiro. Na verdade, o Anticristo é apenas Satanás encarnado. Assim, muitas das coisas aqui têm referência ao próprio Satanás. 

Veja a opinião de J. N. Darby

Os versículos 11-19, embora continuem a falar de Tiro, vão, creio eu, muito mais longe e revelam, ainda que de maneira obscura, a queda e os caminhos de Satanás, que se tornou, por meio do nosso pecado, o príncipe e deus deste mundo.”

Arno C. Gaebelein tem a mesma percepção: 

O Rei de Tiro é um tipo do último homem do pecado (o Anticristo). Por trás deste Rei ímpio, vemos outro poder — que é Satanás. Naquela época, Satanás era o poder por trás do Rei de Tiro; agora ele ainda é o deus deste mundo que controla as nações.”

Se estudarmos a Bíblia cuidadosamente, veremos que não vai contra o ensinamento normal da palavra de Deus unir Satanás e o Anticristo. Sabemos, apesar de as pessoas terem sua própria vontade, que seu movimento é resultado do trabalho de Deus neles (Filipenses 2.13) ou do trabalho do espírito maligno (Efésios 2.2). As pessoas não têm liberdade completa. 

Normalmente, as pessoas do mundo estão sob o controle dos espíritos malignos. Às vezes, onde estão em jogo questões importantes, Satanás pode entrar pessoalmente e agir. Vimos como ele veio pessoalmente tentar Cristo no deserto; como mais tarde ele usou Pedro para dissuadir Cristo da cruz; e finalmente como ele entrou no coração de Judas para destruir Cristo.

Nos últimos dias, ele se juntará ao Anticristo, onde o mundo todo será seu palco. Portanto, a Bíblia afirma: “A vinda desse iníquo é segundo a eficácia de Satanás” (2 Tessalonicenses 2.9). Pois Satanás lhe dará “seu poder, e seu trono, e grande autoridade” (Apocalipse 13.2). Em vista do fato de que o Anticristo é Satã encarnado, o Espírito Santo fala deles como um só.

Portanto, nestes versículos, todas as coisas sobrenaturais têm referência a Satanás, enquanto o restante fala sobre o Anticristo. 

Nosso propósito aqui não é estudar sobre o Anticristo, mas conhecer as criaturas do mundo original e descobrir a razão de sua desolação. Consequentemente, vamos deixar de lado os lugares onde o Anticristo é mencionado e focar nossa atenção nas coisas que envolvem Satanás.

“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva!” (Isaías 14.12) Antes da queda do arcanjo, ele era chamado de Estrela da Manhã, Filho da Alva. Após sua rebelião, no entanto, ele é chamado de Satanás, que significa o adversário.

“Tu eras o selo da simetria, e a perfeição da sabedoria e da formosura” (Ezequiel 28.12). Essa era a condição do arcanjo antes de seu pecado. Ele era superior a todos os outros anjos. Esses termos — “medida… cheio… perfeito” — indicam que ele era o maior entre as criaturas originais.

Deus o colocou acima de todos os outros. Além disso, ele estava cheio de sabedoria, indicando sua compreensão da vontade de Deus. Provavelmente, ele tinha naquele tempo o ofício de profeta.

“Tu estavas no Éden, o jardim de Deus; cada pedra preciosa era a tua cobertura” (v.13a). Em Gênesis 3, vemos a presença de Satanás.

Ele estava lá, não tendo cada pedra preciosa como sua cobertura, mas sim como um tentador para Adão e Eva. E, portanto, esses dois Édens não coexistem.

No tempo do Éden de Adão, Satanás já havia caído; mas no Éden mencionado aqui, Satanás ainda não havia caído. Portanto, este jardim do Éden deve ter existido antes do Éden de Adão.

Se assim for, deve ter pertencido ao mundo anterior, não ao mundo presente. Pode ser comparado à Nova Jerusalém no futuro, com muitas pedras preciosas como sárdio, jaspe, e assim por diante. Todavia, o Éden que Adão habitava não era assim. A Bíblia chama a atenção apenas para as árvores nele, nada sendo dito sobre sua cobertura adornada. Portanto, o Éden aqui deve ser diferente do Éden de Adão. Era muito mais antigo no tempo. As pedras preciosas que o arcanjo usava nos lembram das pedras preciosas que o sacerdote Arão tinha (ver Êxodo 28). Isso pode sugerir, provavelmente, que Deus o havia estabelecido como sacerdote.

“A obra dos teus tambores e das tuas flautas estava em ti” (v. 13b). Na Bíblia, vemos que instrumentos musicais eram usados por reis. Notamos, por exemplo, como Davi tocava a harpa diante do rei Saul, como, em referência a outro rei, sua “pompa é trazida até o Sheol, e o som de [seus] violinos” quando o rei da Babilônia foi destruído (Isaías 14.11), e como a corneta, a flauta, a harpa, o alaúde, o saltério, a cítara e todos os tipos de música foram tocados quando o rei da Babilônia estava exaltado (veja Daniel 3). Evidentemente, o arcanjo naquele tempo foi feito rei e, portanto, Deus lhe deu todos esses instrumentos musicais.

“Tu eras o querubim da unção que cobre” (v.14a). “Ungido” significa que ele estava sendo separado. A função de um “querubim” ou “ser vivente” (cf. Ezequiel 10.15) é liderar na adoração ao Senhor (veja Apocalipse 4.9,10; 5.11-14). Portanto, o trabalho de Lúcifer no início era liderar as criaturas daquela época no intuito de  adorar a Deus. Isso também indica que ele tinha o ofício de sacerdote.

“Eu te coloquei, de modo que estiveste sobre o monte santo de Deus; tu andaste no meio das pedras de fogo” (v.14b). O monte de Deus é provavelmente o lugar onde a glória de Deus se manifesta.

Como ele é sacerdote de Deus, Lúcifer naturalmente ficaria diante de Deus e o serviria. Qual é o significado de “andaste no meio das pedras de fogo”? De acordo com Ezequiel 1.26, o lugar dos querubins ou “seres viventes” (veja Ezequiel 1.19 em diante) está logo abaixo do trono de Deus.

Quando Moisés e setenta dos anciãos de Israel foram chamados ao Monte Sinai, diz que “viram o Deus de Israel; debaixo de seus pés havia como um pavimento de pedra de safira, tão límpido como o próprio céu… E a aparência da glória do Senhor era como fogo devorador no cume do monte aos olhos dos filhos de Israel” (Êxodo 24.10,17). Assim, este pavimento de pedra de safira que parecia fogo devorador são as “pedras de fogo” mencionadas aqui em Ezequiel 28.14b. Isso indica que, originalmente, este arcanjo foi colocado na habitação do Altíssimo, diretamente sob o trono de Deus, onde estava muito perto de Deus.

“Tu eras perfeito em teus caminhos desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti” (v.15). Tudo o que Deus criou era perfeito, porque Ele não é o autor do pecado. A iniquidade começou com este pecador arcanjo, Lúcifer. Ele foi criado por Deus e recebeu um livre arbítrio, assim como Deus nos deu, seres humanos, o livre arbítrio. Que tristeza que este anjo criado tenha abusado dessa liberdade! Quantas pessoas hoje em dia abusam de sua liberdade, assim como Satanás fez outrora.

“Pela abundância do teu comércio, te encheram de violência e pecaste” (v.16a). Podemos aplicar essa palavra ao Anticristo, já que sabemos que nos últimos dias o comércio será muito aumentado (veja Apocalipse 18). Devido ao aumento do comércio, muitos pecados também ocorrerão. Isso é facilmente comprovado ao observar a história humana passada.

Contudo, essa palavra também pode ser aplicada a Satanás. Pember apontou que a palavra “comércio” pode ser traduzida como “detração” ou “calúnia”. Sabemos que a palavra “diabo” no original significa “caluniador”, “difamador” ou “acusador maligno”.

Como Satanás acusou Jó e o atacou sem misericórdia! No final desta era, ouviremos estas palavras: “Agora chegou a salvação, o poder e o reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo; pois foi lançado fora o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa diante do nosso Deus dia e noite” (Apocalipse 12.10).

A expressão “lançado fora” aqui corresponde à “lançado fora” em Ezequiel 28, e a razão para ele ser lançado fora é igualmente a mesma. Provavelmente em Ezequiel, Deus é visto condenando o pecado de Satanás, enquanto na passagem do Apocalipse Ele é observado enviando Miguel para executar o julgamento contra Satanás. Por que Deus permite que Satanás permaneça no ar hoje? Possivelmente porque (1) o tempo de Deus ainda não chegou e/ou (2) ainda há muito lixo nos filhos de Deus que precisa ser purificado por meio deste forno ardente.

O versículo 17 declara explicitamente a causa da queda de Satanás: “O teu coração se elevou por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor.” A descrição dada ao Rei da Babilônia em Isaías 14.12-14 é bastante semelhante ao que é descrito aqui em relação a Satanás. Portanto, muitos servos de Deus acreditam que o que foi dito pelo Espírito Santo se aplicava não apenas ao Rei da Babilônia, mas, em um sentido mais profundo, também se aplicava àquele que estava por trás do Rei da Babilônia, Satanás. 

Isso fala da causa da queda de Satanás. Acredito que Ezequiel revela a causa do orgulho de Satanás, enquanto Isaías revela quão orgulhoso ele era. Pode ser que interiormente, ao se comparar com as outras criaturas de Deus, ele começou a ficar orgulhoso e arrogante. Mais tarde, até mesmo pensou em si mesmo como igual a Deus. Assim, ele incorreu no julgamento de Deus: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! […] Tu dizias no teu coração: Subirei ao céu, exaltarei o meu trono acima das estrelas de Deus e sentar-me-ei no monte da congregação, nas extremidades do Norte. Subirei acima das alturas das nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.” (Isaías 14.12-14).

Pelo seu orgulho arrogante, ele foi punido por Deus. Todos os seus poderes no céu estavam sendo retirados dele. (Visto que a profecia que segue não tem relação com nossa investigação atual, encerraremos nossa consideração a partir de Ezequiel neste ponto).

Se nossa interpretação estiver correta, podemos facilmente perceber, a partir desta passagem profética de Ezequiel, como, no mundo anterior, Deus criou um arcanjo (Lúcifer) mais belo e sábio, a quem Ele estabeleceu como líder dessa criação. Deus o colocou no Jardim do Éden, um jardim muito mais antigo e superior àquele do tempo de Adão. 

Tal lugar pode ter a aparência de como será a futura Nova Jerusalém. Lá, no Éden, o arcanjo deveria atuar como profeta, usando sua sabedoria para instruir todos, que habitavam naquele mundo original, sobre como servir a Deus. Ele também era o sacerdote de Deus para liderá-los em adoração e louvor ao Senhor. Entre aqueles seres dos quais foram criados naquele dia, ele deveria servir como rei, pois sua posição era a mais elevada de toda a criação. Ele poderia ter permanecido nesse estado abençoado por um bom tempo (por favor, releia o versículo 15); porém, ele pecou, e a partir de então ele se tornou o maior inimigo de Deus.

Já que vimos a queda de Satã, a pergunta que podemos fazer é: e quanto aos anjos sob seu comando? E o que são os demônios?

Conforme o Novo Testamento, podemos encontrar dois grupos de subservientes de Satanás: (i) os anjos e (ii) os demônios. 

Vamos primeiro considerar os anjos. “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41). “E a sua [do dragão] cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu” (Apocalipse 12.4). 

As “estrelas” aqui referem-se aos anjos (cf. Apocalipse 1.20). O texto continua mais tarde com estas palavras: “Foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama Diabo e Satanás, aquele que engana todo o mundo; sim, foi precipitado na terra, e, precipitados com ele, os seus anjos.” (v.9). Esses anjos devem ser aqueles espíritos que Deus estabelecera no início para auxiliar o arcanjo a governar o mundo. Eles são chamados de “deuses” em Salmo 82.1 (cf. João 10.35).

Portanto, na queda de Lúcifer, tais anjos provavelmente conspiraram com ele, ou pelo menos estavam em simpatia com ele. Assim, caíram em pecado com Satanás e agora se tornaram os principados, as potestades, os governadores deste mundo tenebroso e as hostes espirituais da maldade nas regiões celestiais (Efésios 6.12). 

Esses anjos não são demônios desencarnados. Eles têm, em vez disso, um corpo etéreo, pois o Senhor nos revela que na ressurreição as pessoas serão como os anjos no céu.

Satanás tem outra ordem de súditos. Estes são os espíritos malignos ou os demônios. “Chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele com a sua palavra expulsou os espíritos e curou todos os enfermos” (Mateus 8.16). Aqui o Espírito Santo usa essas duas palavras “demônios” e “espíritos” de forma intercambiável.

Da mesma forma, em Lucas 10.17,20: “Voltaram os setenta, cheios de alegria, dizendo: Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome.”; e o Senhor respondeu o seguinte: “Mas não vos regozijeis em que os espíritos se vos submetem; antes, regozijai-vos que os vossos nomes estão escritos no céu”. Aqui, o Senhor Jesus considera “demônios” e “espíritos” como sendo o mesmo.

Novamente, Mateus 17.18 registra como o Senhor expulsou “o demônio” de um menino. Em relação ao mesmo incidente, Marcos se refere ao demônio como “o espírito imundo”, um “espírito mudo e surdo” (9.25).

Esses demônios ou espíritos provavelmente eram uma raça pré-adâmica que habitava o mundo original. Eles provavelmente ajudaram Satã na rebelião ou o seguiram depois. E assim, foram destruídos por Deus, ficando desprovidos de corpo. Esses seres consequentemente se tornaram espíritos desencarnados.

Embora não haja evidência clara nas Escrituras, ainda podemos encontrar algumas sugestões na Bíblia. Por exemplo, em Mateus 12, há a situação daquele espírito após deixar um corpo humano: ele “passa por lugares áridos, buscando descanso, e não encontra” (12.43). 

Tornou-se impotente e, vagando muito além do corpo humano, não conseguia encontrar descanso. Finalmente, foi compelido a voltar para o lugar original — o corpo humano. 

Se esses seres não são, de fato, espíritos desencarnados, por que precisam entrar em um corpo humano? Além disso, em Lucas 8, lemos como o demônio chamado Legião estava relutante em deixar o corpo humano. Quando foram pressionados, preferiram entrar nos corpos dos porcos. Esses demônios são diferentes de Satanás e seus anjos caídos porque estes não têm desejo de entrar em corpos humanos, uma vez que ainda retêm seus próprios corpos etéreos. Os demônios, por outro lado, são diferentes. Tanto seu caráter quanto seu desejo parecem provar que eles são de fato espíritos desencarnados. Se isso for verdade, quando foram desencarnados? Sabemos que os espíritos dos mortos hoje estão ou no Paraíso, ou no Hades. Então, de onde vieram esses espíritos? Eles devem ter vindo do mundo anterior. Quando estavam vivos, o lugar de habitação deles deve ter sido o mundo que Satanás governava anteriormente.

O fato de haver habitantes naquele mundo remoto pode ser deduzido por outra porção das Escrituras. Entretanto, já apontamos a partir de Isaías 45.18 que o mundo — isto é, aquele antigo — não foi criado como um deserto, mas foi formado para ser habitado. Isso parece implicar que havia habitantes na terra original.

Ao estudarmos a Bíblia mais a fundo, descobrimos ainda mais informações sobre este assunto. Hoje existe um lugar de detenção para os espíritos malignos. Os espíritos chamados Legião, que estavam entre os endemoninhados de Gerasa, conheciam esse lugar. Foi por isso que eles estavam tão aterrorizados a ponto de implorar ao Senhor “que não os mandasse para o abismo” (Lucas 8.31).

Quanto ao abismo, Pember escreveu: “É chamado de abismo; e em alguns trechos, como o nono capítulo do Apocalipse, este termo é evidentemente aplicado a uma cavidade ardente no centro da terra: mas também é usado para as profundezas do mar, um significado que se alinha bem com sua derivação.” 

O livro de Apocalipse nos informa que um dia Satanás será lançado neste abismo (20.3). Evidentemente, alguns dos demônios estão agora aprisionados lá, mas alguns deles continuam livres, esperando o momento apropriado em que também serão fechados lá. 

Este abismo provavelmente está no mar, não no centro da terra. E no momento do julgamento final (veja Apocalipse 20.11-15), todos os prisioneiros serão lançados no lago de fogo, e no Novo Céu e na Nova Terra não haverá mais mar (Apocalipse 21.1). Provavelmente há apenas um abismo, mas ele está disperso em dois lugares — no centro da terra e na profundidade do mar.

Temos ainda mais alusões nas Escrituras a este centro de detenção dos demônios. 

Conforme a Septuaginta, a palavra “profundo” em Gênesis 1.2 é a mesma que a palavra “abismo” aqui no Novo Testamento grego. Já mencionamos como esses demônios eram provavelmente a raça pré-adâmica que habitava o mundo antigo. 

Ao ler Gênesis 1.2, nos parece bastante razoável que aqueles que habitavam originalmente a terra tiveram seus corpos destruídos por Deus devido aos seus pecados, e o lugar em que habitavam também foi julgado por Deus ao ser transformado em desolação e vazio, de modo que toda a terra foi coberta por água e tornou-se um mar profundo

Em tal situação seria natural que os espíritos daqueles antigos habitantes estivessem aprisionados na profundidade do mar.

Mais tarde, quando Deus restaurou a terra no terceiro dia, Ele ordenou que a terra aparecesse sobre as águas e chamou o ajuntamento das águas de Mares. Essa terra seca, se tornaria a habitação dos homens do novo mundo.

Para onde, então, foram esses demônios? Naturalmente, nossa resposta seria que esses demônios foram deixados com o mar. Quando lemos Apocalipse 20.13 (“E o mar entregou os mortos que nele havia; e a morte e o além entregaram os mortos que neles havia”), entendemos como a morte e o Hades entregarão os mortos, mas ficamos frequentemente intrigados sobre como o mar entregará os mortos que estão nele. A interpretação comum é que o mar devolverá os corpos de todos que se afogaram. Entretanto, se assim for, a terra também deve devolver seus mortos, já que mais corpos foram sepultados na terra do que no mar. A terra, por outro lado, não devolverá seus mortos. Consequentemente, o que o mar devolverá não pode ser os corpos das pessoas mortas, mas os espíritos que já estavam aprisionados nele. 

As almas humanas são retidas na Morte e no Hades. A Bíblia nunca sugere que as almas humanas são retidas no mar. Portanto, quem podem ser os mortos entregues pelo mar, exceto aqueles que pertenciam ao mundo antigo? A ordem aqui é bastante reveladora: “E o mar entregou os mortos que nele havia; e a Morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia”. Esses habitantes do mundo anterior morreram primeiro, portanto, serão entregues primeiro. 

As pessoas do nosso mundo atual serão entregues em seguida, já que todos serão julgados em ordem de tempo.

Tocamos brevemente na origem de Satanás, de seus anjos e desses demônios. Quanto à forma como a raça pré-adâmica viveu na antiga Terra, isso parece estar além do nosso conhecimento. Contudo, podemos obter alguma compreensão por meio de algumas insinuações nas Escrituras. Muitos estudiosos da Bíblia, incluindo C. I. Scofield, acreditam que Jeremias 4.23-26 refere-se às condições do caos mencionado em Gênesis 1.2. Embora o que antecede e o que segue estejam fazendo menções das desolações de Judá, esses versículos, todavia, parecem ter um caráter mais amplo, pois parece que Deus mostrou ao Seu profeta as desolações da Terra original. 

Se nossa interpretação estiver correta, então sabemos por este trecho que havia “campos frutíferos” e “cidades” (v.26) no mundo anterior. 

Os primeiros habitantes viviam em cidades e cultivavam os campos. A ira intensa do Senhor caiu sobre eles e sobre toda a terra devido a sua rebelião com Satanás. E assim a terra tornou-se deserta e vazia.

Se a nossa meditação estiver correta, então as condições do mundo original e a causa de sua desolação podem ser resumidas da seguinte forma: No início do tempo (em contraste com a eternidade), Deus criou os céus e a terra.

A terra não era, naquela época, desértica e sem forma (Is. 45.18), mas era, em vez disso, muito bonita. Nessa terra, havia não poucos habitantes. Porém, antes de Deus ter criado a terra e sua raça pré-adâmica, Ele criara os anjos (ver Jó 38.6,7). Das miríades de anjos criados, Ele estabeleceu Lúcifer como líder. Este arcanjo era mais belo e sábio do que todas as outras criaturas criadas.

Ele era uma obra-prima do ato criativo de Deus. Habitava no antigo Jardim do Éden pré-adâmico e recebeu domínio sobre o mundo. 

Como resultado, era chamado de príncipe do mundo (João 14.30). Muitos anjos estavam sob sua autoridade; eles o ajudavam a governar este mundo. Mas, devido à sua posição e glória, ele ficou orgulhoso e rebelde. Desejava elevar-se para ser igual a Deus. 

Não estava satisfeito em ser uma criatura e desejava ser um criador. Assim, começou a difamar Deus perante a raça pré-adâmica e a acusar esta perante Deus. 

Sua falta de retidão foi descoberta, ele foi devidamente condenado, e no tempo certo, Lúcifer foi lançado do céu para a terra. 

Um terço dos seres angelicais o seguiram em sua rebelião, tornando-se assim mensageiros do diabo. Para eles, Deus preparou o inferno (Mat. 25.41); e para o inferno serão lançados Satanás e seus seguidores no momento apropriado. 

A raça pré-adâmica que habitava a antiga terra estava sob o domínio deste arcanjo e seus anjos. Essa raça foi seduzida, e seus pecados tornaram-se plenos (podemos entender facilmente essa situação comparando-a com o nosso próprio mundo hoje). 

Assim, através da ira feroz de Deus, a terra e todos os que nela habitavam foram destruídos. 

Muitos espíritos malignos foram aprisionados no abismo do mar. Satanás, seus anjos e os espíritos malignos compõem o reino das trevas. Não sabemos quanto tempo essa condição continuou antes de Deus tomar uma nova ação.

Mas, o Espírito de Deus moveu-se sobre a face das águas, e o Deus triúno começou a reparar o mundo. E, depois de terminar a restauração da terra, Ele criou Adão e Eva. 

Ele ordenou que eles estivessem alerta para que, por meio da união do homem com o céu, o poder de Satanás pudesse ser aniquilado. 

Todavia, Adão foi tentado ao pecado e caiu. Em vez de subjugar o mundo e devolvê-lo a Deus, ele entregou o mundo que Deus lhe havia dado a Satanás mais uma vez. 

Os anjos haviam falhado anteriormente, e agora o homem falhou. Assim, Deus mesmo veio a ser homem como o Último Adão, o qual é o Senhor Jesus Cristo.

O Senhor Jesus tornou-se o profeta, sacerdote e rei de Deus. Na terra, Ele foi o imaculado profeta de Deus. Em direção à hora de Sua morte, Ele pôde declarar ousadamente que “o príncipe do mundo vem; e ele não tem nada em mim” (João 14.30). Ao morrer, todos os que estão em Adão foram crucificados Nele. 

Sendo Deus, Ele foi capaz de ter a antiga criação adâmica crucificada em si mesma e começar uma nova criação. 

Através de Sua morte e ressurreição, Ele recuperou o mundo que o primeiro Adão havia perdido. 

Assim, pecadores que merecem morrer podem morrer para o velho Adão por Sua morte e ser unidos em vida a Ele — isto é, ao Cristo. Isso é salvação e tal é o significado de crer na morte do Senhor Jesus. Todos que creem no Senhor estão, portanto, em inimizade com o diabo. Este último nos atacará em todas as coisas, mas devemos resistir a ele, seus anjos e seus demônios o tempo todo. E isso é uma verdadeira guerra espiritual.

Dessa forma, Satanás foi julgado uma vez no “monte santo de Deus” e mais uma vez em Calvário. Seu pecado já foi condenado, e apenas a execução ainda não foi totalmente realizada. O tempo chegará quando ele será lançado à terra. E quando o Filho de Deus retornar à terra, então Satanás será lançado no abismo. 

E, após mil anos, ele será lançado no lago de fogo para sofrer eternamente. Hoje, nosso Senhor Jesus detém as chaves da Morte e do Hades. 

Ele esperará até eliminar todos os vestígios de rebelião. Ele trouxe seu próprio sangue ao lugar santíssimo, tendo purificado o céu, e desde então atua como sacerdote de Deus. 

Em Seu retorno, todas as coisas serão restauradas ao projeto original de Deus. Então Ele será o Rei de Deus. Ele, com Seus santos vencedores, governará este mundo do céu. Ele instruirá os habitantes da terra sobre a vontade de Deus e o modo de adorá-Lo. 

As condições do reino milenar serão semelhantes às do mundo antes da entrada do pecado.

Tendo restaurado todas as coisas ao seu design original, Cristo cumpriu o propósito eterno de Deus. Então este mundo será consumido pelo fogo e um novo céu e uma nova terra serão criados nos quais a justiça reinará.

Por essa razão, nós, que somos filhos de Deus, devemos ter um sentido mais profundo de inimizade para com o diabo. 

Nestes milhares de anos, o único propósito de Deus tem sido unir os homens a Ele para destruir o poder de Satanás. Nosso Deus é Aquele que não pode negar a Si mesmo. 

O mundo que foi perdido através do homem Ele não o recuperaria sozinho. Portanto, Ele enviou Seu Filho para se tornar um homem e, como homem, recuperar o que foi perdido. 

Nós, os salvos, devemos trabalhar com esse Homem único, o Senhor Jesus. 

Devemos resistir ao diabo em nossa vida, trabalho, ambiente e em todas as coisas. Resistimos pela fé (1 Pedro 5.9) e não com armas carnais (2 Coríntios 10.4).

Como astuto e belo era Satanás antes, mas devido a seu orgulho, ele caiu em um estado irreversível. Quão perigosas são aquelas pessoas que se consideram inteligentes e bonitas! Cuidado, para que seu orgulho e arrogância não os levem a “cair na condenação do diabo” (1 Timóteo 3.6). 

O orgulho e a autoconfiança não são a bênção do homem; o temor do grande e incomparável Senhor Deus é sabedoria!

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Watchman Nee

Watchman Nee foi um influente líder cristão chinês no período anterior ao regime comunista. Sua conversão se deu aos 17 anos. Desde então teve sua vida totalmente dedicada a servir o Senhor e sua Igreja. Seu rico ministério permitiu que se produzisse muito conteúdo que viria mais tarde se tornar livros, dos quais ajudam, até os dias de hoje, inúmeros cristãos espalhados em todo mundo, ao ponto de ser difícil considerar alguém sério no trabalho cristão que não tenha sido influenciado direta ou indiretamente por meio de suas obras.

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Série: Isso não vem de Vós Ep03

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