Salvação Eterna, Série – Isso Não Vem de Vós – A Difícil Salvação do Justo de 1 Pedro 4.18
Excerto extraído de uma obra denominada “Uma Salvação e Um Fogo”, ainda a ser publicada. Também faz parte da coleção Salvação Eterna Isso Não Vem de Vós, cuja primeira coleção já foi publicada em formato e ebook-kindle, você pode adquir por esse link aqui.
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Sumário
Argumento da Difícil Salvação do Justo
CAPÍTULO 14
Argumento da Difícil Salvação do Justo
Baseado em 1 Pedro 4.18.
“E, ‘se ao justo é difícil ser salvo, que será do ímpio e pecador?’”. [1 Pedro 4.18 – nvi].
Estamos iniciando os argumentos negativos da série: “Isso não vem de vós”, isso quer dizer que de agora em diante iremos pegar as passagens mais difíceis que sugere entender que podemos perecer, entretanto que com um pouco mais de cuidado na leitura e observação se mostrará, justamente, o contrário. Começamos os argumentos negativos com o capítulo 14 do estudo que estamos catalogando para trazer aqui em formato de post.
Possa esse conteúdo ajudar os irmãos e irmãs a buscarem mais o Senhor e conhecer a salvação que Deus proveu a todos seus filho.
As divergências quanto à salvação eterna irão usar o recurso da dificuldade como o ponto de que, se é difícil ser salvo, deve configurar em alguma perda no meio do caminho, senão de outra forma essa dificuldade seria convertida em facilidade, afinal, se ninguém perder a salvação, qual seria a dificuldade então de ser salvo?
Nossos amigos argumentadores ao sustentar seus raciocínios que merecem nosso maior respeito, ainda mais, quando há alguma lógica. Argumentos lógicos não devem ser “passados por cima”; pelo contrário, devem ser encarados com esmero por respostas. Porém, se for levar tal afirmação a fim de concluir que é difícil para um cristão ser salvo (como na leitura de 1Pe 4.18), então também se concluirá que não é possível ter certeza da salvação.
Se o argumentador se vale da honestidade sem intenções de praticar falácias — será obrigado a dizer, então, que ninguém pode afirmar claramente que tem certeza de sua salvação. Com esse argumento mantido, ninguém pode dizer-se salvo, a menos que subestimemos aquilo que é considerado como dificuldade.
Ninguém que se presa de sua faculdade lógica dirá que, tendo que encarar uma prova considerada muito difícil, que assim mesmo ele teria facilidade em ser aprovado nela, e que teria certeza de sua aprovação. Ao considerar a dificuldade, ele deve também ponderar a possibilidade de não obter êxito.
A partir do momento que alguém reconhece uma dificuldade e, em seguida, diz que passará irretocavelmente por ela, está, na verdade, a contrariando; e, ao mesmo tempo, ela deixou de ser considerada dificuldade.
O obstáculo introduz uma espécie de ponto “de respeito” no meio do caminho. Aquele que enfrenta uma adversidade reconhece que tem que se esforçar e que isso poderá lhe dar alguma chance de vencê-la, o que indica também que a, mesma, adversidade teria uma chance de derrotá-lo. Qualquer que subjuga uma adversidade, ou ele está muito ciente de si e de seus próprios poderes, ou não sabe de fato o que está enfrentando.
Portanto, aceito seu argumento de que é difícil ser salvo; então você obrigatoriamente deve aceitar o meu de que não é possível mais ter certeza da salvação.
Entretanto, se eu usasse uma ilustração com duas possíveis experiências causais, como em um caso de alguém dizer de outra pessoa, que ela terá que fazer um teste difícil, algo como um vestibular ou concurso público para, então, ser aprovada; assim alguém diz: “como é difícil para senhorita Luana ser aprovada naquele teste”. Com essa frase podemos entender que a Luana poderá não passar no teste porque ele é muito difícil, então ela pode perder sua vaga. Agora, se mudarmos a forma verbal “ser” para “é”, vejamos: “com dificuldade Luana é aprovada”, note que a dificuldade é mantida, mas Luana alcança seu objetivo, entretanto penosamente. Entenderemos melhor a forma verbal na língua original mais adiante.
Essa pergunta deve ser respondida, pois faz parte do argumento. Pedro diz: “se é difícil um justo ser salvo”. Você e eu devemos concordar que no argumento de Pedro, justo significa justo, tal pessoa é justificada, e você diz que ele pode perder a salvação, pois ser salvo é uma tarefa difícil. Logo, Deus pode condenar uma pessoa justa!
O justo colocado por Pedro contrasta com o ímpio, ele, ao fazer essa comparação está nitidamente se referindo ao justo que foi justificado pela fé em Cristo pela graça, pois do contrário Pedro não o poderia comparar ao ímpio e incrédulo, essa comparação denota que o justo recebeu algo que o ímpio e o incrédulo não; logo, a única coisa visível, aqui é que um recebeu a vida de Cristo e o outro não, assim apelamos para o argumento da transferência que escrevemos no capítulo 81. Ou seja, da morte para a vida. Este é tornado justo, pois não entra mais em julgamento, pois passou da morte para vida, essa transferência da morte para vida é o que o torna justo, de outro modo ele entraria em julgamento.
Não é, exatamente, isso que nos ensina João 5.24? Não podemos mais entrar em juízo, pois equivaleria a Deus condenar um justo, se isso fosse possível, claro que, seria possível um cristão perder a salvação, mas sinto muito em lhe dizer prezado argumentador, isso é impossível!
O juízo descrito em João 5.24 é o juízo condenatório em nada tem a ver com o julgamento da Casa de Deus onde Pedro diz que é difícil para um justo ser salvo, mas salvo do que? Primeiro, permitamos reconhecer o paralelismo, o justo tem um julgamento e o ímpio também, o que é difícil para justo será considerado impossível para ímpio, esse é o grande ponto. O “difícil” aqui não está apontando o justo ser salvo com juízo do ímpio; estamos entrando em tribunais diferentes, inclusive isso seria anacrônico, pois o julgamento do ímpio se dará bem depois do da Casa de Deus. Assim, no julgamento do ímpio há uma sentença para o ímpio e ele não poderá escapar; no julgamento da Casa de Deus há, igualmente, uma sentença [disciplinatória] um trato com o justo e ele poderá escapar, pois é dito apenas que é difícil ser salvo desse trato.
Sigamos, não podemos dizer baseado em tudo o que já vimos e principalmente por João 5.24 que um justo pode ser condenado com a condenação do ímpio, olhe essa passagem a seguir:
“quando, porém, somos julgados pelo Senhor, somos corrigidos, para não sermos condenados com o mundo.” [1 Coríntios 11.32 – ara].
Reparem que Paulo fala que somos julgados pelo Senhor — naquele momento era um julgamento presente — isso implica em não sermos condenados, logo, sermos julgados nos livra da condenação, assim se o Senhor nos julga e nos reprova Ele, mesmo, aplica uma correção ou disciplina, e ao fazer isso afeta nossa salvação tornando-a difícil. Veja, não estou de modo algum dizendo que nossa salvação se torna inacaba ou mal feita, apenas que ela levará mais tempo no curso preparatório para que a recebamos por completo.
Ser salvo na Bíblia nem sempre implica na toda e completa salvação. Por exemplo, o Senhor Jesus diz que se nascermos do Espírito somos espírito, que nascimento é esse? É a regeneração conforme João 1.12:
“A todos os que o receberam, aos que creem no seu Nome, deu lhes o direito — de a partir de então — serem gerados filhos de Deus. [Tradução minha a partir do texto grego].
Olha como Tiago aborda este ponto:
“Segundo sua vontade, gerou-nos com a palavra da Verdade para que sejamos primícias de suas criaturas” [Tiago 1.18 – btx].
Está claro que fomos gerados e o Senhor nos ensina onde fomos gerados:
“O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito”. [João 3.6 – nvi].
A pergunta é muito simples, o que nasce da carne? É o nosso corpo físico; esse nascimento podemos adquirir de nossos pais; e o que nasce do Espírito? Só pode ser o espírito [do e no homem] e tal nascimento é providenciado pelo Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
Assim quando somos gerados pela palavra da verdade conforme nos ensina Tiago, somos na verdade salvos para sempre, mas onde? No espírito, a Bíblia diz que é no espírito, portanto, essa salvação começa no espírito — percebem que a salvação, ela é ampla? — se é no espírito, somente, há essa primeira experiência, restam ainda mais dois elementos humanos a serem alcançados, a saber, alma e corpo, e isso não acontece automaticamente no dia que nascemos do Espírito, pois ainda somos carne, o próprio Senhor disse isso. Então quando a salvação alcança minha alma e meu corpo? Ter essa resposta terá a interpretação do que é dificuldade.
Ainda iremos abordar mais a fundo a salvação da alma e a do corpo, mas saibamos que salvar a alma de acordo com Jesus é na verdade perdê-la, veja você mesmo:
“Dizia então diante de todos: O que deseja vir após mim, negue a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois quem deseja salvar sua alma, este a perderá, mas quem perder sua alma por minha causa este a salvará” [Lucas 9.23-24 – Bíblia Peshitta, grifos meus].
A Bíblia Peshitta deixa como está no original, seja no grego ou na versão aramaica (que é a base da Peshitta), já os nossos tradutores em português do Brasil preferiram adotar o termo vida, ao invés de alma, o que torna oculto a palavra correta; mais uma vez destaco que logo mais adiante falaremos com mais detalhes sobre a salvação da alma, aqui fica apenas a meditação e reflexão que ela não é a salvação do espírito e de que também ela não foi regenerada, ela é tão caída quanto o corpo, por isso o Senhor coloca a cruz aqui; Jesus não coloca a cruz para o meu espírito, e sim para minha alma. Ela precisa morrer, por isso é dito que tenho que tomar minha cruz todos os dias.
Além disso Jesus de Nazaré, nos diz para perdermos a vida se tomássemos isso para o espírito equivaleria que teríamos que nos perder novamente, ficando afastados de Deus e condenados, para depois recebermos vida, algo parecido como ir para o inferno e depois ser salvo novamente isso depois de ter se tornado um discípulo do Senhor, pois essa palavra foi dita aos discípulos, pois somente um cristão pode tomar sua cruz; um tanto absurdo não acham? E se a vida fosse somática, ou seja, biológica, do corpo, eu teria que me matar por que isso é perder o corpo, para depois ganhá-lo, ser salvo; assim um suicídio seria o primeiro passo para ser salvo, outro novo absurdo.
Perder a alma neste mundo é perder o prazer que ele oferece, esse prazer é experimentado em essência pela alma, abrindo mão disso você a teria em outro lugar, em um outro tempo para desfrutar do ápice da felicidade e prazer, neste caso bastasse eu viver como um peregrino neste mundo não fincando meus alicerces aqui. Os cristãos poderiam deixar de ter muitos dos seus direitos, mas fariam isso em prol de colocar suas almas no Reino, isso é salvar a alma; aqui, nesta era, implica em perda, lá [na que há de vir] em salvação; logo, na verdade aquele que perde é aquele que a ganha, isso é cruz.
My friends, essa percepção de salvação da alma era um princípio claro entre os apóstolos eles repetiram isso constantemente, se fossemos diligentes em entender isso nunca ficaríamos confuso em uma suposta divergência entre Tiago e Paulo, por exemplo; a ótica de um não era a do outro. Desta forma, Paulo via, ou: tudo acabado e cumprido, ou: tudo iniciado; enquanto Tiago via o processo devendo ser experimentado além do espírito humano e não via — na linha do tempo — tudo acabado ainda, era uma visão presencial da alma por isso ele coloca obras como princípio que atesta a justificação, essa justiça não tinha a ver com o que Cristo alcançou em nosso lugar, mas aquilo que o Cristo nos ordenou dizendo: “Se sua justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5).
Bom temos uma boa base agora para entender o que seria: “…difícil para um justo ser salvo…”
Primeiro, essa pessoa é justa, e tal justiça não é da cooperação dela, senão ela não enfrentaria essa dificuldade ela teria cumprido Mateus 5.
Segundo, se ele é justa é por que alguém a tornou assim, pagando a pena dela, desta maneira além de justa ela é inocente, pois sua pena já foi paga e o juiz não pode de maneira alguma cobrá-la sem que cause perda no ato do substituto, e já sabemos a essa altura quem é o Substituto.
Terceiro, se Deus está tratando com um justo, e de fato o é, pois Pedro não diz: “…difícil é para [aquele] que era justo, ser salvo…”, ele na verdade diz: “difícil é para o justo…”. O tal é justo, o Espírito Santo teve o cuidado de deixar isso bem claro. Mas como já dissemos na comparação com ímpio e pecador, aplica-se a palavra difícil, mas, note, se a ideia é haver uma comparação com o pecador, e, neste caso, o justo está em apuros, algo de pior deveria ser considerado com o ímpio no tribunal que ele irá encarar. Já sabemos e é um princípio que Deus disciplina seus filhos para que não os condene (1Co 11.32; Hb 12.10; Ap 3.19), se assim o for poderia haver algo pior que a dificuldade que um justo enfrentaria para ser salvo de algo? Sim, pois aqui, em especial, é algo que excede o que é difícil e tal coisa somente irá cair sobre o ímpio e pecador.
Já vimos que o justo o é por causa de Cristo e a primeira experiência disso é no espírito e não na alma, tampouco no corpo, pois não nascemos de novo nem no corpo nem na alma. Vejamos uma passagem muito importante:
“Pois se nossos pais na carne nos disciplinavam, e nós os respeitávamos, quanto mais, pois, devemos nós sermos submissos ao nosso Pai dos espíritos e sermos salvos”. [Hebreus 12.9 – Bíblia Peshitta].
Essa passagem nos oferece inúmeras respostas, a primeira delas é que temos pais na carne, desta forma nascemos deles, mas segundo a carne apenas; Jesus havia nos ensinado isso em João 3 em seu diálogo com Nicodemos; mas temos aqui algo mais, não temos somente pais da carne, mas também Pai dos espíritos. Parece estranho essa expressão do autor de Hebreus, mas não devíamos nos espantar tanto, afinal ele distingue muito bem alma e espírito como está em Hebreus 4.12.
O autor sabe que tem o Pai dos espíritos e ele O compara com os pais terrenais, agora por que o autor de Hebreus tem o cuidado de dizer que Deus é somente Pai dos espíritos? Porque atualmente esta é a única parte nossa que está regenerada, lembrando que ainda não está regenerada nem nossa alma nem nosso corpo. Esse corpo caído nosso será desfeito, pois é corruptível, o único corpo que não sofre corrupção é o corpo de glória e não o temos ainda, pois não fomos ressuscitados, desta maneira só resta ao autor ver a órbita da nossa regeneração que é nosso espírito conforme já constatamos por João 1.12; João 3.6; Tiago 1.18.
Ele é o Pai do nosso espírito porque foi no nosso espírito que houve nascimento; só podemos desfrutar daquilo que vem de nossos pais por nascimento, se pelo nascimento experimentamos morte por causa do pecado isso nos foi inserido de algum modo por nossos pais terrenos e o método de inserção foi através de um nascimento, assim também a vida só poderia vir por algum nascimento, então somos regenerados, mas de forma alguma na nossa carne e sim no nosso espírito, na carne temos pais e no espírito, também, temos Pai. Agora, vou viver por qual natureza? Essa escolha que não implica mais em nascimento, mas em morte, se eu tomar a cruz para não deixar as paixões herdadas pelo meu nascimento terreno, terei vida em minha experiência, o que equivale a dizer que a vida sai do meu espírito regenerado e transborda para alma, e assim o corpo é controlado pelo espírito isso é vida; por causa dessa órbita de vivência Paulo escreve:
“E o mesmo Deus de paz vos santifique por completo a todos vós, e mantenha irrepreensível todo o vosso espírito, alma e corpo até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” [1 Tessalonicenses 5.23 – Bíblia Peshitta, grifos meus].
Paulo separa os três elementos, mas tem o cuidado de estabelecer a ordem, porque primeiro vem o espírito? Por que a vida vem dele e tudo começará nele, ele é o primeiro elemento conquistado e é conquistado por nascimento os demais são conquistados por morte; o primeiro vem pela fé e graça os demais são trabalhados pela cruz.
Senão entendermos detalhes tão básicos e fundamentais iremos confundir tudo no Novo Testamento, e achar que Deus pode condenar um justo, nem mesmo juízes humanos são capazes de fazer tal coisa a menos que estejam em total separação da equidade, até mesmo juízes levianos não seriam rápidos em condenar justos.
O que quer dizer então de um justo dificilmente ser salvo como parece nos indicar 1 Pedro 4.18?
Primeiro temos que verificar essa tradução que adotamos da nvi, ela utiliza o verbo “ser”, ficando: “ser salvo”, esse verbo não aparece no original grego, sendo vertido por suposição ou adequação, e por quê digo isso? Porque há um verbo no presente passivo que é “ser salvo” não estou dizendo que a nvi errou ao colocar o verbo “ser”, apenas que ele não está ali, e foi utilizado para reforçar a ideia de colocar o verbo na voz passiva, mas tudo isso é um ordenamento mecânico para nossa língua portuguesa para passar a ideia de verbo passivo, mas eu poderia utilizar o verbo “é” para essa ideia, porque ele se ajusta melhor. Posso explicar o verbo σῴζεται, vem de salvar no sentido passivo, ou seja, salvo; ao dizer isso Pedro está dizendo que está pessoa [o justo] já é salva, entretanto ela encontrará dificuldades, não que esse justo não está salvo e que é difícil ser salvo ou manter-se salvo, NÃO, ele já é, o que se diz é que ele é salvo ou foi salvo e que sua jornada até completar sua salvação é uma jornada penosa, difícil e com correção.
“Amados, rogo-vos como peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais dos desejos carnais, que combatem contra a alma.” [1 Pedro 2.11 – tb].
Note, my friends, que Pedro fala de desejos carnais combatendo a alma e não o espírito, ao analisarmos Paulo estaríamos certo que ele usaria o espírito humano e talvez o Espírito Santo como elemento de contraste, fato é que em Romanos e outras epístolas de Paulo fica até mesmo difícil distinguir quando ele ao usar a palavra espírito se é o humano ou o Santo; já Pedro usa a palavra, “alma”, um tanto estranho não acham? Parece que a alma é algo puro ou espiritual, diferente das “duras” repreensões de Tiago e Judas em suas epístolas ou do autor de Hebreus ao dizer que era necessário o espírito ser separado da alma parecendo ela ser um problema.
Bem, como podemos entender a passagem de Pedro? Eu não vejo muito problema, pois há vários elementos que nos explicam que “alma” era essa, ela era uma “alma” de um peregrino, “…rogo-vos como peregrinos e forasteiros…”. Ora, irmãos, o que é uma alma de um peregrino e forasteiro?
Vamos falar um pouco do deserto, ele era um local de difícil construção, é muito difícil haver construções alicerçadas no deserto; isso quer dizer que o peregrino não tem morada fixa, ele é um mochileiro-aventureiro com uma missão interna que o impede de ter morada fixa e cidade fixa (Hb 13.13). Assim ele não coloca a alma dele “neste deserto”, deserto na Bíblia é um tipo do “mundo”, assim como o Egito, mas o Egito representa os prazeres do mundo enquanto que o deserto as provações que ele causa no cristão.
A tentação do peregrino é voltar ao Egito no coração (At 7. 39) ou tentar construir morada fixa no deserto para amenizar suas provações, ao fazer isso ele deixa de ser um peregrino e forasteiro, isto é, ele perde a alma, se ele é um peregrino sua alma não está aqui, pois o peregrino não constrói nada aqui, não coloca nenhuma esperança aqui, isto é remover a alma daqui, guardá-la para um futuro do qual o peregrino pretende chegar, desta forma esta alma está preservada para o Reino do Senhor, por isso que Pedro diz que as paixões carnais combatem a alma e não o espírito porque embora as paixões combatam o espírito, esta alma é uma alma de um peregrino que tirou sua esperança deste inóspito mundo e colocou toda sua vocação num Reino futuro, em uma cidade que tem alicerces; esta alma está posta no espírito é uma alma negada, uma alma peregrina, uma alma que leva as humilhações de seu Senhor.
Como salvação da alma é algo que falaremos com mais propriedade dentro deste conteúdo, vamos encerrar a premissa de falar dela neste ponto aqui, pois entendo já ter sido suficiente para nós, creio que temos já alguma pequena luz para entendermos que salvação da alma é uma coisa e salvação do espírito é outra.
Pedro está dizendo aqui da salvação da alma, e não do espírito, pois estes que ele se refere no contexto já são justos, se são justos não cabe mais nenhuma condenação, os justos são salvos nos seus espíritos, mas podem não serem salvos em suas almas automaticamente, por isso eles passarão pelo tribunal de Cristo, um julgamento que é da Casa de Deus, é um trato de família; a palavra Casa de Deus reflete que é um assunto de Pai e filhos e não de Juiz condenando criminosos.
Se os justos também negarem suas almas como peregrinos e forasteiros receberão recompensa, entretanto, aqueles que não, perderão a recompensa, porém serão salvos, pois Deus o justo juiz, reto e equânime não seria capaz de condenar um justo.
Já podemos concluir que Pedro não pode estar falando da dificuldade do justo ser salvo do lago de fogo, ele fala claramente de uma salvação que é dada ao justo, e tudo que se diz de salvação aos santos não pode mais ser comparada a fuga do lago de fogo, tal ação seria aplicada apenas à salvação dos perdidos, um perdido ser salvo de fato lhe diz respeito a não ser lançado ao lago de fogo, como acontecerá com o Anticristo, falso profeta, Satanás e seus anjos, pois estes são caídos, um homem caído ser salvo é de fato ser protegido do lago de fogo, entretanto um justo [aquele que já foi salvo] ser salvo é algo diferente e que pode acontecer somente a um justo de forma negativa. Vale destacar que Pedro em sua epístola está sempre citando salmos e provérbios, e parece que essa porção foi influenciada por uma passagem de Provérbios, vejamos:
“Se o Justo é salvo penosamente [ou com dificuldade ou a duras penas], quanto mais o ímpio e pecador” [Provérbios 11.31 – Tradução literal minha, baseada na – lxx].
O mesmo advérbio presente na Septuaginta que é μόλις é o que Pedro disserta, e mólis significa literalmente algo penoso, duro, difícil ou com sofrimento. Vale notar que o termo ímpio é de fato a representação daqueles que não conhecem a Cristo e não de um crente relaxado que perdeu a salvação, pois o termo que vem em seguida ἁμαρτωλός que significa pecadores é o termo, por exemplo, que Jesus usou para descrever a Geração que era incrédula e pecadora em Marcos 8.38; tal expressão se refere a um ciclo de tempo imoral do sistema mundano, é claro que o termo contrapõe o justo, assim como Provérbios 11.31 separa muito bem justos de ímpios. Então, tanto para o autor de Provérbios quanto para Pedro o justo significa justo, e o pecador, pecador. Condenar um justo tornaria Deus injusto, então, ainda que se alguém pudesse dizer que é muito difícil um justo ser salvo, por mais difícil que seja ele será, da mesma forma que se fosse possível enganar um eleito ele seria, isso não significa que ele foi (Mt 24.24).
A penalidade indica que o crente será disciplinado e a salvação significa que ele será salvo, a duras penas, com sofrimento, ou com dificuldade como preferir, a única certeza é que, ele será salvo.
Façamos, então, a seguinte conclusão que é o que parece que Pedro levanta, “se aquele que foi justificado (1Pe 1.18-19) passa por dificuldades e dores (1Pe 4.12; Hb 12.5-7; 1Co 3.15; 1Co 11.32; Ap 3,19.) para completar a salvação o que será então do ímpio que não foi justificado tampouco salvo?”. De forma alguma Pedro expõe algum risco de perda de salvação do justo, de outro forma haverá um injusto nesta história toda e em hipótese alguma isso pode ser atribuído a Deus.