Bíblia de Jerusalém – Mais que uma Análise, uma Resenha Completa

Fizemos uma DESCRIÇÃO DETALHADA. Conheça aquela que é considerada por muitos como a melhor tradução de Bíblia no equilíbrio entre os erros e acertos. Mas antes de você ter sua pergunta respondida: “A Bíblia de Jerusalém é Boa?” Leia essa resenha com a gente até o fim e descubra o que pensamos dessa tradução em todos os principais âmbitos de análise.

Review da Bíblia de Jerusalém

Sumário

Conhecendo a Bíblia

De fato, a Bíblia de Jerusalém é uma obra notável. Embora seja uma produção católica, incluindo os livros deuterocanônicos reconhecidos pela tradição romana — mas rejeitados pela tradição judaica e cristã reformada —, seu corpo editorial envolveu diversos exegetas e tradutores protestantes ao longo do processo de tradução. Isso suscita a questão: “A Bíblia de Jerusalém é confiável?”. Isso significa que, embora ela tenha uma base católica, sua tradução não apresenta viés em favor da teologia romana, assim valerá a pena não se deter se a Bíblia de Jerusalém é católica ou evangélica, mas reconhecer que ela conseguiu oferecer uma tradução imparcial, ainda que mantenha, inevitavelmente, uma ligação com suas origens confessionais.

Considerada tanto por Evangélicos quanto por Católicos, como a Melhor Tradução

É verdade que muitos cristãos de diferentes segmentos têm colocado a Bíblia de Jerusalém em alta consideração. Muitos reconhecem que ela é uma tradução que busca um equilíbrio médio e é considerada proporcionalmente acertada.1

Crítica Protestante

Alguns teólogos evangélicos insistem em descredibilizar a Bíblia de Jerusalém, alegando que ela é muito enviesada em favor da teologia católica. No entanto, é importante admitir que a Bíblia contém inserções da tradição romana, mas isso não significa que sua tradução tenha sido distorcida. Alguns teólogos, ao fortalecerem esse argumento, citam a passagem em que o termo “hóstia” é utilizado.

“Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual.” 2

—Romanos 12.1
Sim, é verdade que a Bíblia de Jerusalém substituiu o termo “sacrifício” por “hóstia” na versão de 1981. No entanto, na versão de 2002, o termo foi readequado para “sacrifício” como uma expressão mais precisa. Portanto, usar esse exemplo para afirmar que a Bíblia possui inclinações puramente religiosas é um equívoco. Além disso, é importante destacar que, para a teologia católica, as palavras “hóstia” e “sacrifício” são sinônimas, assim como “eucaristia” e “comunhão”. O problema é que o termo “hóstia” pode causar desconforto na comunidade evangélica. Contudo, vale ressaltar que esse termo não está presente na versão mais atual da Bíblia de Jerusalém. Portanto, qualquer insistência nesse assunto revelará, no mínimo, estar desatualizado.

Prerrogativas da Bíblia de Jerusalém

A Bíblia de Jerusalém é fruto do trabalho da Escola Bíblica de Jerusalém, e é por essa razão que carrega o nome da escola como marca comercial.

Compreendemos que um trabalho de tradução tende a ser mais assertivo quando é realizado de forma colegiada, envolvendo um corpo de eruditos e estudiosos. Embora isso não seja o único critério, pelo menos dificulta a ocorrência de tendências unificadas. Não devemos esquecer que a Septuaginta, por exemplo, foi produzida por mais de 70 sábios eruditos judeus.

É claro que, com relação à Bíblia de Jerusalém, vale ressaltar que, por mais que ela tenha tido em seu corpo de tradução católicos romanos, ortodoxos orientais e protestantes, não se equivale, em nenhuma hipótese, ao processo que aconteceu com a lxx3. Nós vemos, inclusive, que a tradução dos Setenta foi uma providência divina para guardar o texto das corrupções que viriam. Contudo, sua forma de trabalhar a tradução merece considerações, pois permitirá um alcance maior do estudante, principalmente no Novo Testamento, para avançar no estudo da Palavra de Deus e das devidas considerações textuais.

Diferenças e Abordagem de Tradução

Existe numa visão macro duas formas ou abordagens de tradução que dividimos em equivalência formal – que evita interpretar ou parafrasear –, e equivalência dinâmica – que em maior ou menor grau, tenta dar mais sentido às palavras e textos em prol da língua vernacular – que pode fazer uso de paráfrases (nem precisamos dizer muito sobre o perigo que pode haver nesta abordagem).

A Bíblia de Jerusalém, eu diria, fica entre ambos. Ela não é totalmente formal, de modo que toca em alguma medida no campo da abordagem dinâmica e conceitual, mas não se vale das traduções mais modernas nesse campo. Nós publicamos um post onde falamos detalhadamente sobre esses estilos de tradução. Acesse-o aqui.

Para ficar mais claro veja esse gráfico abaixo e perceba onde se localiza a BJ e verá que ela está entre as versões formais e dinâmicas, porém mais perto das formais.

Bíblias Equivalência Formal e Equivalência Dinâmica.

Em algum momento ou outro, a BJ (Bíblia de Jerusalém) faz uso da interpretação ou de uso de outras palavras que fogem do senso comum, mas que também são apoiadas dentro do texto original. Ela faz isso principalmente em relação ao campo semântico aberto da palavra “espírito”. Afinal, essa palavra pode ser traduzida como sopro, vento, hálito, espírito; pode ser algo causal ou fenomenal, assim como pode ser pessoal.

É verdade que tanto no hebraico quanto no grego é praticamente impossível ter total clareza, e essa dificuldade permite observar o contexto e, por assim dizer, o critério teológico de alguma forma. Contudo, mesmo valendo-se dessas vertentes, tanto entre católicos quanto entre protestantes, não é possível ter clareza em algum ponto ou outro da tradução. Vejamos alguns exemplos dessa questão, que creio que valem a pena destacar.”

Em 2 Reis 9.7 é dito de acordo com a Bíblia Tradução Brasileira da seguinte forma:

“Eis que estou para lhe dar um espírito, e ouvirá uma nova e voltará para a sua terra; e fá-lo-ei cair à espada na sua terra.” (tb grifo nosso).

—2 Reis 19.7 – 24

A TB verte espírito e utiliza o verbo “dar”, vejamos como a BJ verte esse mesmo versículo:

“Vou insuflar-lhe um espírito e, ao ouvir certa notícia, voltará para sua terra e farei como que pereça pela espada em sua terra (BJ, grifos nosso).”

A BJ trata como algo não pessoal, como uma influência soprada, o texto pode dar essa configuração, pois de alguma maneira traz esse arcabouço. Alguns eruditos evitariam dizer que era uma espírito maligno ou enganador, pois foi dado por Deus e não permitido ou enviado por Deus. De qualquer forma em termos de tradução cabe tanto o que se apresenta na versão TB quanto na BJ, ficando para o estudante considerar melhor a análise. Vejamos ainda como está vertido na Bíblia King James.

“Eis que enviarei uma rajada de vento sobre ele, e ele ouvirá um rumor, e retornará para a sua própria terra; e farei com que ele caia pela espada na sua própria terra. (King James 1611, grifos nosso).”

A King James verte rajada de vento, embora traduza o verbo por “enviar” ele não carrega esse sentido no original hebraico, o verbo no original contém as consoantes ntn נתן; ntn ou vocalizando na·tan significa: “dar”, seu equivalente grego é δίδωμι. O verbo também carrega o sentido de transferência é diferente técnicamente de “enviar”. Vejamos um caso que Deus envia um espírito pessoal de ordem maligna.

“Deus enviou um espírito mau para o meio de Abimeleque e dos cidadãos de Siquém; estes se houveram aleivosamente contra Abimeleque.”

—Juízes 9.23 – tb

Aqui está claro e não há margem para tratar esse espírito sem pessoalidade, portanto, neste caso há uma entidade pessoal em forma de espírito que Deus envia, aqui o verbo não é na·tan נתן e sim shalach de acordo com o dicionário de sentido bíblico ele tem uma ideia de direção, algo como sair de um ponto de partida a outro.

Frisamos isso porque a palavra ruach hebraico e pneuma grego servem como vento, sopro, influência, inspiração como também algo pessoal do tipo espíritos, Espírito Santo, espírito de vida, espírito humano e outras formas; assim tentar encontrar a pessoalidade e a não pessoalidade passa a ser uma tarefa difícil e, ao mesmo tempo, importante, e, portanto, a análise de cada verbo ajudaria a fornecer uma melhor noção disso.

Portanto, em 2 Reis 19.7 não se pode descartar que Deus soprou ou influenciou através de um vento, inclinação ou sopro interno o rei da Assíria a ir ao destino que resultaria em sua tragédia, talvez não se tratou de uma possessão demoníaca ou de perda de seu controles pessoais. Porém já no caso de Abimeleque um espírito iracundo do mal fez oposição a ele influenciando diretamente o povo a conspirar contra ele.

A BJ também verte sopro de Deus na ação do caos de Gênesis 1.2, a maioria das versões de Bíblia aplica a pessoalidade do Espírito Santo o que penso estar mais correto, pois a ação da criação e restauração envolveu a divindade.

Os Infernos

Assim como a maioria das versões católicas a Bíblia de Jerusalém também é feliz na tradução dos termos que vieram da vulgata latina como inferno, quando na verdade o senso comum de inferno, tanto para o catolicismo quanto para o protestantismo além de vago é ambíguo, pois embora sua etimologia nos leva para um lugar abissal como o Sheol do Hebraico e o Hades do grego, sua conotação principalmente após a influência medieval é de um local de intenso fogo e tormento. Desta maneira se assemelhando muito mais ao Lago de Fogo do que ao Sheol do qual Jacó disse que iria ver seu filho (cf. Gn 37.35).

Nesta hora, a Bíblia de Jerusalém traz um ganho significativo ao não interpretar os termos originais e ao não conformá-los ao termo latino, mantendo a cada expressão seu devido sentido de origem. Os termos diferem-se em Gueena (grego) e ge-hinom (hebraico); Hades (grego) e Sheol (hebraico); a BJ usa os termos gregos no Novo Testamento. Isso nos permite saber quando o assunto se refere a um local intermediário dos mortos, um local de condenação, ou ainda um local de depuração. Sem uma Bíblia como a de Jerusalém, chegar a esse entendimento seria quase impossível.

“(…) aquele que lhe chamar ‘renegado’ terá de responder na geena de fogo.”

—Mateus 5.22b – bj, grifo nosso.
A mesma passagem na Almeida Revista e Atualizada.

“(…) quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo (ara, grifo nosso).”

Felizmente há uma excelente versão evangélica que também tratou com o mesmo cuidado da BJ, que é a Tradução Brasileira, inclusive já fizemos um review dela, acesse aqui.

“(…) e quem lhe chamar: Tolo estará sujeito à Geena de fogo” (tb, grifo nosso). 

O vocábulo guehena é importante porque retrata em determinada ocasião aquilo que é chamado de Segunda Morte, e em outras aquilo que é chamado “Dano” da Segunda Morte. O primeiro se aplica aos incrédulos e o último aos crentes. Esse conceito está envolto nesta palavra e ela tinha desde os tempos judeus uma conotação de purificação, entretanto quando chegamos no Apocalipse esse vocábulo é descartado e passa a ser usado o termo “Lago de Fogo”. O autor de Hebreus parece se referir à guehena quando usa a expressão “perto” está de maldição ao invés de estar em maldição, isso pelo motivo de que maldição seria a separação total de Deus, portanto o Lago de Fogo; enquanto estar perto indicaria um local próximo a ele reservado aos tratos dos crentes derrotados.

Tal design não seria possível de ser percebido apenas vertendo a palavra guehena para inferno, uma vez que inferno seria a condenação eterna e final.

Além disso a palavra Hades que representa o submundo dos mortos não poderia jamais ser traduzia para inferno como faz nossas Bíblias Almeidas.

“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”

—Mateus 16.18 (ara, grifo nosso).

Aqui aparece novamente a palavra inferno, neste caso de Mateus 16.18, a palavra no original é Hades as bíblias Almeidas a interpretam para inferno, mas em Apocalipse 20 é dito que o Hades será lançado no inferno, mas se ele é inferno como o inferno seria lançado no inferno?

Bíblias como a BJ, TB, NVI e Bíblia Textual, por exemplo, corretamente não traduziram a palavra Hades para inferno, antes a mantiveram em seu estado original. Vejamos

“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas dos Hades nunca prevalecerão contra ela.”

(bj, grifo nosso).

Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do Hades não prevalecerão contra ela.

(tb, grifo nosso).  

“E eu digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.”

(nvi, grifo nosso).

Tradução Correta do Pecado de Sodoma

Já está surgindo por meio de canais importantes uma relativização do pecado de Sodoma, parece-me que talvez estejam tentando suavizar certos assuntos difíceis. Contudo isso não pode passar batido quanto à veracidade, e sim, o pecado de Sodoma envolveu atuações sexuais depravadas.

A Bíblia de Jerusalém faz uma tradução no campo interpretativo da palavras gregas σαρκὸς ἑτέρας (carne diferente) traduzido como natureza diferente, inserindo ainda o substantivo plural (seres). Acho essa tradução impecável, pois a nota explicativa da Bíblia dá o termo literal e explica também anomalia do desejo desenfreado daquele povo.

Vejamos como ficou vertido na Bíblia de Jerusalém

“De modo semelhante, Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas, por se terem prostituído, procurando unir-se a seres de natureza diferente, foram postas como exemplo, ficando sujeitas ao castigo de fogo eterno.”

—Judas 7, bj, grifo nosso.

Verteu Corretamente Filipenses 2.6

Esta passagem sofreu um abuso na tradução das Bíblias Almeidas e neste caso, infelizmente, o mesmo ocorreu com a excelente Bíblia Young e a aclamada Tradução King James. Temos que ser honestos verter uma tradução errada nesta porção afeta imensamente a Teologia. Devemos identificar essa falha e orar para que as sociedades bíblicas corrijam, tais como Sociedade Bíblica Trinitariana e a Sociedade Bíblica do Brasil.

“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus.” (King James 1611; acf; arc). “Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus” (ara).”

—Filipenses 2.6, grifos nosso.

A palavra grega permite utilizar o termo “usurpação”, mas tal tradução não faz o menor sentido, pois Paulo fala que Ele estava na forma de Deus, o vocábulo morphe indicava a mais plena igualdade com a divindade, como ele diria em seguida que se ele agisse como sendo Deus haveria de ser usurpação Como se ele tivesse tomando algo para si ilegalmente e forçosamente? Tal tradução só beneficia seitas enganosas de background ariano como as Testemunhas de Jeová, ademais é um assalto quanto ao entendimento da língua grega.

Tal erro é tão nítido que a nova tradução da Almeida Atualizada corrigiu esse lapso, contudo a Sociedade Bíblica do Brasil deveria igualmente corrigir nas Bíblias Almeida Revista e Corrigida e Almeida Corrigida Fiel, embora esta última tradução esteja sob a responsabilidade da Sociedade Bíblica Trinitariana; não seria nenhum problema as duas sociedades em comum acordo resolverem este erro que só fere e macula a divindade de Cristo e de forma alguma representa a opinião do apóstolo Paulo.

Vale destacar que a Bíblia AEC (Almeida Edição Contemporânea), antiga ECA (Edição Contemporânea de Almeida), que a editora Vida serviu-se para confeccionar a Bíblia Thompson, já corrigiu essa passagem bíblica. Essa revisão da versão anterior (ECA), mesmo mantendo o texto parecido e alinhado com a primeira versão, trouxe melhorias importantes, entre elas a atualização para o novo acordo ortográfico e também ajustes que fazem hoje a aec não ser como acf e arc no texto de Filipenses 2.6

Vejamos como A BJ verteu Filipenses 2.6, teria ela utilizado o termo usurpação? 

“Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como um deus.”

(grifo nosso).

Aqui o foco da tradução é dizer que JESUS sendo totalmente Deus poderia ter o direito de uso das prerrogativas divinas entre elas, aquela que o manteria imortalmente vivo, ou seja, ele não precisaria experimentar a morte, por isso ela verte “um deus” no sentido que somente “deuses” não morreriam, não que Jesus pudesse ser um deus, o que está mais do que claro no início “estando na forma de Deus”.

O fato é que além da tradução estar adequada ela descarta totalmente a possibilidade da opção que faz uso do termo “usurpação” colocando em sua nota (h) outras possíveis traduções: “não considerou o estado de igualdade com Deus como presa a se agarrar” e também “não reteve ciumentamente a condição que o igualava a Deus”.

Neste ponto temos que admitir que as Bíblias católicas em geral foram muito mais cristocêntricas nesta passagem e temos que reconhecer que estão melhores traduzidas, vejamos outras traduções católicas-romana.

Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus” (Bíblia Ave Maria).

“Ele apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus” (Bíblia do Peregrino).

Embora a Vulgata Latina tenha sido a tradução oficial da religião católica e essa noção de “rapina” ou “usurpação” ter vindo diretamente da tradução de Jerônimo, não são as traduções católicas, atuais, que se servem deste erro, e sim as evangélicas.

Contudo, para deixarmos todas as questões mais claras possíveis, temos que admitir que várias traduções protestantes-evangélica também verteram corretamente esta passagem ainda que seja em sua maioria versões de Bíblias mais recentes, exceto, claro, a boa e velha Tradução Brasileira de 1917, vejamos como ela tratou o texto de Filipenses 2.6.

“O qual, subsistindo em forma de Deus, não julgou que o ser igual a Deus fosse coisa de que não devesse abrir mão” (Tradução Brasileira – tb).
Nesta porção acertadamente a tb não usa usurpação nem rapina ou roubo, ou seja, JESUS poderia agir livremente como Deus Todo-Poderoso, mas preferiu embora fosse Deus manter-se na sua limitação humana, sem perder sua essência divina. E não disse que se fizesse o contrário estaria cometendo usurpação ou rapina. Outra Bíblias que surgiram mais recentemente, também fizeram a tradução do texto de uma maneira mais correta, vejamos.
“Que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se” (nvi).

“Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar” (nvt).

Como podemos ver, dificilmente, hoje, alguma bíblia ousaria dizer rapina ou usurpação, a própria Sociedade Bíblica do Brasil percebendo a falha desta ocorrência corrige a Bíblia Almeida, mas somente na versão Nova Atualizada de Almeida, mantendo ainda na versão Corrigida. Vejamos como verte o versículo na última versão de Almeida:

“Que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo.” (naa).

Portanto, consideramos o bom trabalho em verter mais adequadamente com o termo grego original não só a BJ como a maioria das Bíblias católicas, e neste quesito podemos salientar também que a Tradução Brasileira já em 1917 acertava na hora de traduzir essa passagem não seguindo o padrão da Bíblia King James nem da Vulgata Latina.

Mantém o Nome de Deus Basedo no Tetragrama

O nome de Deus no Antigo Testamento está vertido com base fonética aproximada do tetragrama sagrado: yhwh, evitando a forma híbrida Jeová; todavia, ela aplica vogais para o que se entende chegar mais proxima da pronúncia de yhwh. Diferente de outras Bíblias que aplica um padrão mais focado numa transliteração universal usando Yahweh (como a King James Atualidaza da Abba Press). A Bíblia de Jerusalém apenas troca o “Y” por “I”: Iahweh.

Usa O Nome Paráclito

Igualmente à Bíblia Tradução Brasileira, Tradução dos Monges Beneditinos de Maredsous e a Bíblia Textual, a BJ não traduziu o termo grego paraklētos, para consolador (João 14.16), tal atitude se dá pela gama semântica dessa palavra, podendo na verdade punir o verdadeiro significado contextual dela, uma vez que pode ser traduzida não somente por consolador, mas também por: “advogado”; “companheiro”; “intercessor”; “defensor”; “conselheiro”; “representante”; “ajudador”. 

Como o Paráclito viria para fazer lembrar todas as coisas ditas; permanecer para sempre; ser o Espírito da Verdade; o Enviado pelo Pai; Aquele que explicaria o sentido futuro das palavras do Senhor; entre outras ações. Parece claro de alguma maneira que o vocábulo Paráclito no arranjo divino seria para realmente ter acomodação em vários significados. Além disso, também parece indicar uma nomenclatura pessoal do Espírito Santo na língua grega, algo como se tornou a palavra Ungido, passando a ser incorporada como parte do nome de Jesus, sendo conhecida como Cristo. Se assim o for, o nome Espírito Santo poderia ser definido como Paráclito, evento que só poderia denotar que estamos na era do Espírito Santo.

Se é isso ou não, de qualquer forma a Bíblia de Jerusalém fez um excelente trabalho não somente em não traduzir paracleto, como ainda em deixar a palavra com letras maiúsculas indicando, sem qualquer dúvida, mais que um significado, também um nome.

É Cristocêntrica?

 A Bíblia em geral tende a ser Cristocêntrica o que implica em manter a deidade de Cristo e a formulação trinitária, é bem verdade que as Bíblias em geral excetuando traduções desonestas tendem a ser Cristocêntricas, contudo a BJ ainda se vale de alguns fundamentos importantes que podem ser úteis nas considerações de quem é Cristo e sua essência, vejamos.

“É ele o resplendor de sua glória e a expressão de sua substância (…)”

—Hebreus 1.3a

A palavra substância parece ter sido uma boa escolha quando queremos olhar para uma visão ampla de Cristo, ou seja, aquilo que excede seu propósito humano ou sua figura humana, pois o termo está revelando a espécie de JESUS e garantindo sua dupla natureza inseparável a humana, mas, neste caso específico, a sua divindade. Jesus é divino porque contém a mesma substância de Deus. Substância sustenta a natureza de Cristo e que por si só mostra que Ele não pode ser outra que coisa que não seja Deus. Além disso o termo é tão pedagógico que explica indiretamente com tanta a potência a palavra Deus no que tange à Divindade e da palavra Deus no que tange à pessoalidade humana. Sendo Jesus Aquele que tinha tanto a pessoalidade quanto a divindade (substância) de Deus.

A maioria das traduções trazem o termo “expressão do seu ser”. Substância mostra que Deus tem uma família composta de 3 Pessoas que carregam entre Si essa mesma substância das quais os homens não participam nem qualquer outra criatura.

A boa Tradução Brasileira segue a mesmo orientação da BJ nesta passagem, vertendo para “…imagem expressa da sua substância…” 

Sua Redação Textual

A tarefa inicial de tornar a tradução da Bíblia de Jerusalém em solo brasileiro se deu no ano de 1973 pela editora católica Paulus. Até então ela era considerada em muitos países a melhor tradução de Bíblia Sagrada em face dos seus manuscritos utilizados, assim como o equilíbrio para adotar este ou aquele texto, além disso sendo composta por um coletivo interdenominacional que ajudou a levantar o status da Bíblia para uma tradução mais fidedigna.

Contudo temos que salientar muito que existe diferenças marcantes entre BJs de outros países e idiomas, podemos encontrar facilmente diferença da BJ em espanhol da BJ em português, podendo por assim dizer que podemos estar diante de traduções diferentes, é claro, que isso não fere o princípio de tradução deste texto, pois ainda assim se vale dos mesmos ideias de tradução para cada vernáculo.

A Bíblia de Jerusalém em suma se vale do texto massorético no Antigo Testamento, mas também com importantes interpolações do texto grego (LXX). E consulta dos outros manuscritos, por isso suas notas apresentam outras equivalências e formas de tradução baseadas nos manuscritos, não é uma escolha teológica e sim escriturística, suas notas vez por outra faz o papel de apresentar outras variantes textuais, assim como dizer que tal texto apresentado não se encontra em determinados manuscritos mais antigos, como é o caso da perícope da mulher adúltera de João, muito bem apresentada em nota de rodapé. 

Texto Massorético

Por outro a BJ em sua principal ênfase escolhe utilizar o texto massorético para o Velho Testamento, mais precisamente o texto dos “sábios judeus” que fixaram a grafia das vogais, isto se dá a partir do século VIII indo até o século IX. Notadamente um texto tardio e passível de muitas corrupções.

Embora a BJ se norteie também pelo texto grego, o faz somente em situações mais emblemáticas que podem afetar a Cristologia. Mas, entendemos que isso pode representar um perigo sutil, uma vez que seria difícil determinar as possíveis corrupções presentes, o que pode levar a erros de performance sem que nos demos conta. É neste momento que nós da DoPeregrino.com expressamos nossa incompreensão em relação à falta de priorização dos textos pré-massoréticos, incluindo a Septuaginta e o Pentateuco Samaritano. Por que não enfatizar também os textos Qumrânicos, que são mais antigos?

Adotar o texto massorético como norte principal tem sido a falha no nosso entendimento da maioria das nossas traduções de Bíblia, mesmo àquelas Bíblias que nós consideramos de boa tradução e de teor fidedigno alto como a Tradução Brasileira, por exemplo. Por isso consideramos que a crítica textual vai se valer de inúmeros problemas sempre que essas considerações não forem observadas.

A tradução desta Bíblia por outro lado destaca que sempre que se encontra em situações de difícil interpretação acerca do texto massorético, irá apelar para outros manuscritos como siríaco e o latim, e por assim dizer, ela destacará isso em nota. Não à toa a BJ sempre recorre a versão dos Setenta em determinadas situações. O que nos chama a atenção mais uma vez é: “por que não usar a LXX desde o começo como o modelo norteador, uma vez que ela tenha sido a versão mais utilizada pelos apóstolos e o próprio Senhor?”. Contudo não temos essa resposta.

Bíblia Equilibrada

Porém, é importante destacar que percebemos, em suma, um grande equilíbrio na Bíblia de Jerusalém, o que faz com que esta tradução possivelmente esteja entre as mais equilibradas diante das variantes textuais que temos. Não estamos afirmando com isso que acertaram na escolha de determinada testemunha textual, mas sim que equilibra melhor esse jogo, notificando textos que ela não considera ideal e, por outro lado, nos surpreendendo ao incluir, por exemplo, a menção do anjo que agita as águas em João 5.4,4 sendo esta porção mais evitada atualmente devido à ausência nos manuscritos mais antigos.

No Novo Testamento, por exemplo, a Bíblia de Jerusalém se baseia principalmente no texto crítico, que utiliza os manuscritos mais antigos, como o Sinaítico, Vaticanus e o Alexandrino. No entanto, ela também considera o que tradicionalmente vinha sendo observado na maioria das traduções de outros manuscritos, como o final longo de Marcos e a inclusão da perícope da mulher adúltera em João 8. Apesar dessa tendência, a Bíblia de Jerusalém remove a glossa adicional do versículo 37 de Atos 8, onde se acrescenta: “[é lícito se crês de todo coração, disse o eunuco: ‘creio que Jesus é o filho de Deus’]”.

Esse texto parece ter sido adicionado posteriormente por algum copista, ou como uma possível nota referencial de um ou mais escribas, que entendeu, por pura inferência, que a conclusão não havia sido mencionada no diálogo entre Felipe e o eunuco. Parecia ser muito fácil receber o batismo. É bem provável que Felipe já tivesse abordado o assunto do batismo durante o processo de evangelização, e o eunuco já teria crido no Senhor antes de pedir o batismo. Os manuscritos do Textus Receptus mantêm o versículo 37, mas a Bíblia de Jerusalém segue os manuscritos mais antigos, que não contêm essa glossa, embora ofereça uma nota de rodapé explicando que esse texto fazia parte da liturgia batismal, mesmo que não estivesse presente no texto original de Atos.

A tradução também remove o que parecia ser um comentário do escriba copista em Romanos 8.1 “que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito”. Além é claro de não adotar a comma joanina uma pequena cláusula trinitariana, porém notadamente espúria: “Porque há três que testemunham no céu: O Pai, o Verbo e o Espírito Santo e estes três são um só…” Tal texto amplamente tardio ausente nos melhores e mais antigos manuscritos seguramente se trata de uma glossa marginal.

A BJ faz referência a tal texto devidamente em nota de rodapé.

Atualmente no Brasil há poucas versões que trazem essa glossa marginal, apenas Almeida Revista e Corrigida e Almeida Corrigida Fiel. Até mesmo Erasmo de Roterdã se opôs, a princípio, a esse acréscimo sendo convencido (ou talvez obrigado) por uma força clerical da época. O importante é que tal cláusula existe, sendo ela inserida como uma forma de combate as heresias arianas e unitaristas, contudo ainda que sirva de fórmula apologética não podemos adotá-la como texto original.

O que podemos destacar da BJ é que entre erros e acertos na escolha de um manuscrito ou outro, podemos considerar que há um equilíbrio entre a tradição e a manuscritologia. Claro que não afirmamos os possíveis acertos tampouco os possíveis erros. Mas as considerações detalhadas em notas faz muito bem o papel de esclarecer o leitor bíblico, e tais notas são excelentes nas explanação da crítica textual, ainda que não concordemos com a adoção no texto canônico.

Também observamos esse equilíbrio, não como definitivamente algo positivo em si, mas técnico, ela é tecnicamente equilibrada e não acertadamente equilibrada. Esse julgamento de fato será subjetivo e virá do estudioso. No ponto da crítica textual, nos critérios cientificamente adotados, ela não segue um alinhamento mais strictu sensu; ela, na verdade, é mais ampla na adequação da crítica textual, para sermos honestos, em língua portuguesa, ou mesmo a nível mundial, chegamos à conclusão que a Bíblia mais textualmente crítica atualmente seja a Bíblia Textual (btx).

Excelente para Estudo

Sem dúvida é uma Bíblia que não pode ficar de fora do estudo do cristão, ela por si só oferece como uma tradução alternativa uma gama de avanços consideráveis e acertos nas observaões que por vezes são duvidosas.

Além disso, a Bíblia de Jerusalém não adere às teorias difusas e não sacraliza em excesso conceitos que, por vezes, beiram o absurdo conspiratório de um texto que foi protegido, apesar da clareza de muitos pontos corrompidos e glossas embutidas no conteúdo textual. Assim, ela faz a correta observação da crítica textual e do peso dos manuscritos mais antigos, especialmente no caso do Novo Testamento. Às vezes, a Bíblia de Jerusalém utiliza o Textus Receptus (ou da Vulgata Latina), é verdade, mas e em outras ocasiões, faz uso do estudo da crítica textual e das últimas descobertas de manuscritos. 

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O Problema da Tradução do Antigo Testamento

Nosso grande lamento ainda ecoa como um desabafo e isso não é exclusividade da Bíblia de Jerusalém, e sim de praticamente a maioria esmagadora das traduções e versões mundiais, que usam a BHS5 como a estrutural central das traduções do Antigo Testamento, quando deveriam se nortear precisamente pelo texto da LXX.

Se for usar o Texto Massorético que fosse para trazer importantes paralelos da língua hebraica em prol do hebraico para estudo do hebraico e não do texto rabínico que com sua tradição corromperam muitas passagens, principalmente devido às menções messiânicas claras do Antigo Testamento a respeito de Jesus.

Se orientar por um texto assim é como usar água suja para lavar um carro e, logo depois, usar água limpa para remover a sujeira. Seria mais adequado usar água limpa desde o início. Mesmo que haja benefícios textuais, é muito arriscado se guiar pelo texto mais duvidoso e recente. Deveria ser o contrário: usar a tradução dos Setenta como base e, quando necessário para o estudo e a riqueza semântica do hebraico, recorrer ao texto rabínico, nunca o contrário.

Este erro não é exclusividade da BJ, mas de todas as Almeidas, King James, Versões Inglesas, até mesmo traduções conceituadas como de a Young e Darby. 

Pode ser Usada como Bíblia Principal

Com certeza, em face de muitas traduções modernas de equivalência dinâmica que fornecem paráfrases e interpretações dos versículos. A Bíblia de Jerusalém se sai mais fidedigna e melhor traduzida que a ampla maioria das Bíblias, incluindo Bíblias mais formais como Almeida Corrigida Fiel.

Contudo, ser a Bíblia principal não deveria significar ser a Bíblia infalível, muito pelo contrário, mas a disposição de se ter uma boa tradução sempre tendo o esforço de consultar as línguas originais e os melhores manuscritos, isto significa ter um Novo Testamento Grego, como a 5ª Edição ou Nestlē Aland 28ª. E o texto da Septuaginta como a de Rahlfs. Servirão de boa base para poder considerar as porções mais duvidosas na hora do estudo.

Suas Notas

Contém excelentes notas que podem ser úteis em muitos casos. No entanto, é importante ressaltar que nem todas as notas devem ser totalmente confiáveis. Algumas delas apresentam conceitos teológicos e argumentos técnicos que podem desacreditar detalhes importantes ou incluir especulações sobre alterações no texto por diversos motivos. Além disso, é possível que certas tradições tenham influenciado o uso de certos termos, e é importante estar atento às inferências teológicas católicas que ocasionalmente podem ser mais evidentes nas notas. É necessário ter cuidado ao considerar essas inferências e avaliar criticamente as informações fornecidas em cada uma delas.

Onde Comprar

Felizmente, é fácil encontrar a Bíblia de Jerusalém para compra em formato impresso. Contudo, é verdade que pode ser mais difícil encontrá-la em meios não impressos, como aplicativos ou versões online. Até onde tivemos conhecimento, a Bíblia de Jerusalém não possui um aplicativo oficial e não está amplamente disponível para uso na internet ou em aplicativos, pelo menos no Brasil. É importante verificar sempre que possível as opções disponíveis no mercado e em plataformas digitais para encontrar uma versão digital futuramente da Bíblia de Jerusalém.

Quanto à sua versão impressa vale ressaltar que ela está bem confeccionada e seu preço que um dia já foi inacessível, hoje, está bem competitivo e podemos dizer, barato. Há geralmente duas versões a capa mole denominada “capa cristal” com uma espécie de película de plástico fazendo o papel de uma capa protetora da Bíblia, mas que nem sempre funciona muito bem, pois sempre sai facilmente da capa original. Já por outro lado há a versão em capa dura, com um preço um pouco mais elevado, contudo tendo com uma acabamento mais premium que remete a uma durabilidade maior.

Abreviações
acf — Almeida Corrigida Fiel, 2011, Sociedade Bíblica Trinitariana.
aec — Almeida Edição Contemporânea, 1990, 2010, atualizada em 2020, Editora Vida.
ara — Almeida Revista e Atualizada, 1993 Sociedade Bíblia do Brasil.
arc — Almeida Revista e Corrigida, 2001 Sociedade Bíblia do Brasil.
bj — Bíblia de Jerusalém, 2002, nova edição, Paulus.
btx — Bíblia Textual 1ª Edição Português, Junho 2020, BvBooks Editora.
naa — Nova Almeida Atualizada 2017, Sociedade Bíblica do Brasil.
nvi — Nova Versão Internacional, 2001, Society (IBS).
nvt — Nova Versão Transformadora, 2016, Mundo Cristão.
tb — Tradução Brasileira 1917, atualização para os nomes próprios e adequação para o novo acordo ortográfico, 2010, Sociedade Bíblica do Brasil
lxx — Versão dos 70, Septuaginta, século III a.C
Lit. Grego — Extraído literalmente do texto grego não se preocupando com a linguagem vernacular. Geralmente o extrato será da 5ª UBS ou 28ª Nestle Aland.
Notas
1 Na média entre os erros e acertos. ↩︎
2 Versão de 1981. ↩︎
3 Número 70 em algarismo romano, utilizado como forma abreviada de identificar a tradução dos Setenta ou Septuaginta. ↩︎
4 Ele aparece geralmente nas Bíblias, porém entre colchetes ‘[]’ para indicar que o texto não se encontra nos manuscritos mais antigos. ↩︎
5 Bíblia Hebraica Stuttgartensia ↩︎
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Equipe de Redação

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