O que a Escritura pode nos fornecer acerca desse assunto? A diferença é somente no número (plural/singular) ou há algo escondido nesses termos que podem nos revelar algo mais? Que o Senhor, conforme lhe agrada, nos conceda alguma luz para seguirmos jornadeando neste assunto.
Parece que o Novo Testamento destaca a palavra obras como um pilar, exclusivo, do trabalho divino ternário; quando sua aplicação aparece aos homens há uma conotação, geralmente, negativa se estiver no plural, é como se isto não fosse aprovado por Deus de nenhuma forma (Ef 2.8; Mt 7.22; Lc 10.39-42).
“Porque por graça haveis sido salvos por meio da fé, e isto não vem de vós, é o dom de DEUS, não por obras, para que ninguém se glorie.”
—Efésios 2.8–9, btx, grifo meu.
Note prezado leitor que Paulo diz: “não por obras” ao invés de “não por obra”; há uma diferença toda vez que a Bíblia no Novo Testamento enumera “obras” no plural, quando acontece, quase sempre, denota algo exclusivo de Deus, pois só Ele tem a imanência de que em tudo o que ele faz é bom e, portanto, somente Ele tem o direito e a capacidade de fazer obras.
Quando Paulo lista obras no versículo 9 ele está dizendo que nada no homem é capaz de ser justo em si mesmo, e, portanto, não tem condições de se justificar diante de Deus, o homem não tem direito à obras e nem de utilizar obras para sua salvação.
Mas, importante compreendermos que isso no que tange às obras e não obra. Paulo não cita: não pela “obra” e sim não pelas “obras”. Por quê? Porque o homem tem que crer no Senhor após a obra de Deus o atingir, neste caso estamos falando da fé, primária, do homem; e isto significa ele cooperar com a obra que não é dele, e sim de Deus.
A pluralidade de obra é algo que cabe a Deus, pois Ele é o único Ente autorizado por Si Mesmo a fazer qualquer coisa; e tudo que Ele faz é perfeito, harmônico e justo; já o homem não está autorizado a fazer nada fora de Cristo, pois para Deus nada tem valor fora de Seu Filho; então ao homem não pode restar qualquer outra obra, que não seja confiar em Cristo; devido a isso é que obras (aparecendo no plural) ao aplicar ao homem quase sempre conota algo ruim, pois está fora de Deus, e, ao mesmo tempo, é antagônico à Sua vontade.
Já a palavra no singular pode conter algo divino [no homem] quando conduzida pelo agir do Parácleto.
O Espírito, por exemplo, convence alguém do seu pecado; justiça e do juízo, tal convencimento é algo pertinente somente a Ele que é Deus, e, isso é a obra de Deus, ou seja, operar ações para que alguma pessoa creia em Deus.
Essa ação gera a motivação no homem de se achegar a Deus, neste sentido há uma obra por ele praticada, mas tal não é dele é de Deus e o reconhecimento dela é feito pelo Espírito Santo, assim o homem opera a confiança por um lado e a fé, para aquisição da graça, por outro.
Você pode estar pensando que este autor, que está escrevendo, pode estar tirando tudo isso da cabeça, ou fazendo manobras de ideias para encaixar esses conceitos, mas não, ainda que por minha fraqueza possa estar completamente equivocado, o que escrevo não vem, simplesmente, da minha cabeça, a Palavra da Bíblia nos dá algum parecer muito sólido sobre isso incluindo a Palavra que sai da boca do Próprio Senhor!
“Eles lhe perguntaram: Que havemos de fazer para praticar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou.”
—João 6.28–29, tb, grifos meus.
Alguns daqueles que se fartaram dos pães do milagre de Jesus foram até Ele e fizeram uma pergunta: “O que havemos de fazer para praticar as obras de Deus?”. Note que Jesus percebe a pergunta numa ótica de “o que homem deve fazer quanto àquilo que seria a obra de Deus?”, porém a pergunta é feita no plural, o Senhor poderia responder com vários mandamentos ou ordenanças algo como ele fez com o jovem, o rico, quando diz para ele guardar os mandamentos (Mt 19.18); mas aqui não.
O Senhor nem sequer responde no plural, diz de apenas uma ação a realizar, pois do lado do homem deve haver apenas o desejo, a espontaneidade de ir até Ele e confiar n’Ele:
“A obra de Deus é esta: que creias naquele que ele enviou (v.29)”.
Note prezado leitor que a pergunta dos interrogantes era de como seria possível praticar as obras, mas Jesus diz que “as obras de Deus” é apenas uma.
Quando o Senhor diz no singular, ouvindo a pergunta no plural, Ele estava refutando o pensamento deles; não há obras que Deus reconheça como Sua no homem, exceto a de crer no Seu Filho. Isso é tudo para Deus. Dessa obra tudo o mais se realiza.
“Por isso, deixando a doutrina dos princípios elementares de Cristo, passemos à perfeição, não lançando de novo o fundamento de arrependimento de obras mortas e de fé em Deus.”
—Hebreus 6.1, tb, grifos meus.
Nesta passagem de Hebreus fica claro que como Deus vê as obras no homem. São consideradas ações mortas, por isso que o homem deve arrepender-se delas sendo isso um fundamento inicial da vida cristã do qual diante dessa ação o discípulo pode continuar avançando, isto é um fundamento da fé, ou seja, se arrepender de tudo aquilo que esteve fora de Cristo, mas também é um princípio, ou seja, tudo que é do homem é digno de morte. Olhe como Isaías destaca essa verdade:
“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam.”
—Isaías 64.6, arc, grifos meus.
Note que o profeta não está falando que nossas más ações são como trapo de imundícia, mas as boas ações. Ele ao citar novamente aparece a ideia plural (nossas justiças).
Mas, as nossas justiças, são consideradas algo imundo; isso significa que mesmo as consideradas boas obras do homem são como trapos imundos que cobrem a lepra.
Por que Deus não aceita que façamos obras? Porque elas serão e já são impuras em si mesmas, vejamos como Gálatas 5 nos instrui:
“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias, inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Declaro a vocês, como antes já os preveni, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus. ”
—Gálatas 5.19, naa, grifo meu.
As obras são listadas no plural isso é um sinal negativo e que o homem não está autorizado a realizá-las, e por quê? Porque ao fazê-las elas se tornarão obras mortas, obras da carne; o homem tem que depender de Cristo na realização de qualquer obra e isso como vimos no versículo 29 de João 6 é uma atitude singular, crer e confiar em Cristo é de responsabilidade do discípulo, pois dessa atitude tudo o mais se realizará; nada além disso tem relevância para Deus.
Tudo está no Seu Filho se não estivermos atuando com a fé no Filho nada funcionará e as obras de Deus que são legítimas, também, não serão dispensadas a nós; é da disposição de crer em Cristo estando no Espírito que tudo o mais acontece, mas lembrem-se esse “tudo o mais acontece” é do Espírito e não nosso, a nós cabe estar no Espírito, ao Espírito cabe todo o resto, vejamos:
“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos.”
—Gálatas 5.22–24, naa, grifos meus.
Ao contrastar as obras, Paulo utiliza duas palavras-chave, “fruto” e “Espírito”. Fruto está no singular assim como também Espírito, isso parece deixar claro não está se referindo ao espírito humano – ainda que ele esteja em harmônia com o Espírito Santo –, além disso no capítulo 4 versículo 6 o contexto parece explicitar que é o Espírito Santo. Quanto à carne temos a palavra-chave “obras” quanto ao Espírito, “fruto”, este no singular; aquela no plural; tal situação só comprova o que já dissemos aqui, que a palavra obras aplicada ao homem não é boa, ela tem conotação de morte.
Por outro lado, a palavra “fruto” é boa e está no singular, por qual motivo? Pelo motivo de que o homem só precisa de uma coisa: “estar no Espírito Santo”. Ele não precisa de penitências, de sacramentos, de confissões, de estar debaixo da Lei; ele precisa dirigir-se ao Espírito e o Espírito só dá um fruto, só que este fruto que Ele dá contém tudo o que o homem precisa. Esse fruto é TODO INCLUSIVO.
Assim, se alguém diz ter amor, mas nutre alguma inveja, ele não tem nem o amor que alega e nem nada que está no fruto do Espírito, porque ao estar no Espírito ele terá o fruto e este fruto inclui amor, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Ao ter amor, e faltar a bondade, não há a bondade nem o amor; o fruto do Espírito é inclusivo, tudo está ligado, são elos como de uma corrente.
Portanto, não devemos nos esforçar para sermos bons, ou amorosos, temos, na verdade, que pedir para o Espírito Santo nos guiar por graça, ainda, que signifique quebrantamento.
É devido a isso que aos seus servos, Deus ordenou que apenas confiassem no Seu Filho (Jo 6.29), porque as obras que viriam depois dessa fé incluiriam as ações de Deus para o homem.
“Nem todo aquele que me diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsa-mos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres?” Então eu lhes declararei: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’. ”
—Mateus 7.21–23, bj, grifos meus.
Quando virmos obras na Bíblia temos que procurar imediatamente a fonte, se a relação é o homem ela será algo desconstruído de Deus e, portanto, vista como iniquidade.
Assim como é narrado nesta passagem de Mateus. Quando chegam aqui muitos cristãos falam que estes que estão sendo narrados por Jesus são crentes professos, hipócritas; falam isso por causa da palavra muito forte: “nunca vos conheci” no versículo 23, mas é claro que ela é forte porque está se referindo às obras daqueles obreiros que não tinham validade para Deus, não que tais estavam perdidos; se alguém ainda insistir neste argumento terá que explicar o vocativo κύριε, κύριε, que significa Senhor, Senhor; está no vocativo porque é uma invocação, ora, eles o chamavam de Senhor. Jesus não nega este fato e nem diz que proferiram essa invocação de forma ilegítima, e, ainda o Senhor atesta duas vezes a expressão para indicar que de fato eles o chamaram de Senhor – não é pelo testemunho de duas ou três testemunhas? – tais indicativos validam a filiação daqueles obreiros:
“Ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo.” (1Co 12.3 – nvi).
Eles disseram 2x dando todo o parecer que eles podiam invocar o nome d’Ele.
Mas o Senhor reprova suas obras. Apesar disso fizeram obras miraculosas, como expelir demônios, operar milagres, pregar; essas obras não haviam sido negadas e nem ditas que não foram realizadas. Jesus, na verdade, atestou que elas foram feitas. Como uma pessoa sem o Espírito Santo pode operar tais sinais?
Apenas para que isso fique bem claro vamos analisar a expulsão de demônios. Se houver tal atividade e ela for autêntica, é possível que seja feita por alguém fora da Igreja?
—Marcos 9.38–41, naa, grifos meus.
O texto por si só é auto-explicativo. João tenta proibir alguém que expulsava demônios em nome do Senhor, mas que não andava no círculo dos 12 ou dos discípulos mais próximos, e Jesus disse para deixa-lo, por quê?
1. Quem faz um milagre em nome do Senhor não pode falar mal dele;
2. Quem não é contra é a favor;
Jesus utiliza um princípio aqui, ainda, que João não o incluísse o Senhor o tinha feito, pois qualquer demônio expelido por alguém que proclama o nome d’Ele indica que ele tem o direito de fazer isso, e não somente, que ele ao fazer isso é a favor de Jesus e dos discípulos, como alguém do mundo ou desprovido da vida de Deus poderia ter essa condição?
Vejamos mais um testemunho:
—Atos 19.13, naa, grifos meus.
Esse texto também é auto-explicativo. Lucas narra a tentativa de alguns invocarem o nome do Senhor Jesus para expulsão de espíritos maus, mas não tiveram sucesso, pois não eram regenerados pelo Espírito e o nome de Jesus não era autoridade para eles, eles foram espancados a resposta do espírito maligno foi muito clara:
Sei quem é Jesus e sei quem é Paulo, mas vocês quem são?
Como é possível algo, fora da vontade do Pai, ser feito com milagres e proclamações poderosas?
Deus por um lado vai permitir por causa das pessoas que receberão. Quando Deus pediu para Moisés, na segunda ocasião que os israelitas tiveram sede, falar à Rocha, ele desobedeceu e bateu nela, contudo mesmo assim saiu água, porque Deus estava interessado no provimento do povo naquela ocasião, mais tarde ele lidaria com Moisés no seu ato reprovável, creio que todos sabem o que aconteceu depois.
Em Mateus 7.22 é a mesma situação, ainda que fora da vontade de Deus, Deus quer que demônios saiam das pessoas que estão sendo atormentadas por eles, ainda, que ele tenha que lidar com o obreiro depois.
Eles foram reprovados, não por serem ímpios ou por não crerem no Senhor Jesus, mas porque faziam, ainda que, baseado em algum dom, de maneira carnal tais obras; sem a dependência do Espírito Santo; não tinham veracidade espiritual, eles não faziam pensando na vontade do Pai que está nos céus, mas em si próprios.
Mais uma vez vemos obras como algo negativo, tais obreiros tiveram que ser julgados e ficaram de fora do Reino dos Ceús que se manifestará na nova dispensação milenar. Contudo, eram salvos e mais tarde estariam na Nova Jerusalém.
A única coisa que Jesus atentou era a falha deles perceberam a vontade do Pai. Essa era a obra que faltava para eles, apesar de terem muitas outras; posso fazer milagre e expelir espíritos iracundos de forma isolada de Deus e ainda fazer com prepotência, nada disso representa a vontade do Pai.
“Quando iam de caminho, entrou ele em uma aldeia; e uma mulher chamada Marta hospedou-o. Esta tinha uma irmã chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, ouvia o seu ensino. Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e, chegando-se, disse: Senhor, a ti não se te dá que minha irmã me tenha deixado só a servir? Manda-lhe, pois, que me ajude. Mas respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, ansiosa e te ocupas com muitas coisas. Entretanto, poucas são necessárias ou, antes, uma só. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada.”
—Lucas 10.38–42, tb, grifos meus.
Marta, como podemos ver era uma boa anfitriã estava ocupada em tentar servir melhor seu Mestre, e se incomodava de sua irmã ficar aos pés d’Ele para ouvir seus ensinos sem ajudá-la, mesmo com tamanha diligência é Maria que fica com a melhor parte; não é isso, exatamente, o que tragicamente vem atingindo os filhos de Deus? Estão ocupados o tempo todo em “servir Jesus”, e tudo que eles precisam é do próprio Jesus; é muito fácil qualquer distração mesmo que esta seja em prol de trabalhar na obra de Deus, serviços aparece aqui e acolá o tempo todo. Jesus diz de apenas uma obra, uma coisa necessária, e quem tinha escolhido era Maria.
É verdade que esse termo aparece na Bíblia, e de fato temos que praticar boas obras, mas analisemos a relevância de alguns fatores.
Por exemplo, Tiago diz que Abrahão foi justificado pelas obras não somente pela fé, lembrem-se que o apóstolo não nega a fé de forma alguma, inclusive de que a justificação é por meio da fé, mas não somente, por quê? Porque ao haver a realização da obra de crer no Filho obras seguirão esse filho de Deus, e, portanto, haverá uma justificação (Mt 5.20) focada nessas obras, claro que não com fins para salvação o propósito de Tiago é falar de atos governados pela vontade de Deus e que tais justificam as ações humanas justamente por que a fonte delas é o próprio agir de Deus.
Suponhamos que haja um reservatório de água inapropriada para consumo, todavia, vez ou outra alguém pega um copo desta água e ferve a água coletada, assim poderá beber, mas a quantidade de água é muito grande e fazer esse trabalho de toda vez que tiver sede será uma tarefa extenuante e aquele reservatório nunca será de fato útil. Isso é o homem tentando fazer obras, esta “água impura” são muitas obras, se bebe-la ainda que saciado irá passar mal ou ser acometido de alguma doença.
Agora suponhamos ainda nesta ilustração, que conseguíssemos um filtro muito potente capaz de tornar toda essa água impura em pura, além disso com sabor agradável resultando numa bebida também saudável. Esse filtro é uma única coisa, ele sozinho resolve todo o problema, nada é mais necessário.
Coletar água em um copo e ter toda vez o trabalho de ferver a bebida, aparentemente não resolve o problema a água restante continuará suja.
Mas agora com filtro toda aquela água ficará limpa, bastou apenas uma coisa e tudo se resolveu.
Podemos dizer que Jesus é esse filtro, tudo o que passa por Ele no outro lado ficará limpo porque na verdade vai levar algo d’Ele. Um filtro contém elementos como carvão e prata e outros recursos que melhoram inclusive o pH da água, essa água está na verdade levando o poder do filtro com ela.
O que quero dizer, my friends, é que nós ao passarmos por Cristo como nosso purificador, não somente somos uma água pura, mas levamos o poder da fonte da purificação conosco, e assim podemos ser úteis, não somos úteis por sermos águas, não somos úteis por nós mesmos, mas somos úteis por causa d’Aquele que nos purificou e tudo o que fazemos desde então, não somos nós na verdade que fazemos, e sim Aquele que nos purificou, portanto as obras são d’Ele a glória dessa pureza é d’Ele, a nós coube apenas aceitar o filtro como balizador da nossa pureza, de outro forma estaríamos entregando algo totalmente impuro e estragado.
“Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é viticultor. Toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que o dê mais abundante. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado.”
—João 15.1–3, tb, grifos meus.
Agora vamos analisar essa belíssima passagem de João 15. Antes de mais nada atentemos para essa expressão dita por Jesus: “Vós já estais limpos“. Isso indica que os discípulos eram a representação daquele que foi purificado, isto é, salvo; a partir de então, este salvo, agora pode dar frutos, só alguém limpo pela palavra de Cristo pode dar frutos.
Vejamos como é então essa frutificação:
“Permanecei em Mim, e Eu em vós. Como o pâmpano não pode produzir fruto por si mesmo se não permanece na vide, assim tampouco vós se não permanecerdes em Mim. Eu sou a vide, vós os pâmpanos. O que permanece em Mim e Eu nele, este produz muito fruto, porque separados de Mim nada podeis fazer.”
—João 15.4–6, btx, grifos meus.
Essa palavra de Jesus é da maior relevância; agora os limpos devem dar fruto, e como?
Permanecendo na vide; Jesus insere agora uma responsabilidade que é do discípulo, note que está no imperativo, é o discípulo que permanece; portanto uma pessoa purificada, limpa pode não permanecer em Cristo, essa questão é de frutificação não de justificação. Quanto a sermos unidos a Cristo por meio de Sua justiça não podemos jamais ser separados d’Ele (Quem nos separará do amor de Cristo? Rm 8.35); contudo isso não é algo inabalável na questão do fruto. O objetivo da nossa limpeza pela palavra de Cristo é permanecer n’Ele.
Mas olha que interessante, quando Ele diz: vós já “estais limpos” depois Ele diz: “permanecei em Mim”, isso indica claramente que quando somos lavados dos nossos pecados por Cristo estamos n’Ele. Quando somos salvos estamos n’Ele experimentando grande gozo e alegria, mas temos que nos manter n’Ele porque agora ele quer que demos fruto, o fato de permanecer n’Ele é porque já estamos n’Ele, o que nos fez estar n’Ele foi a fé.
Portanto, a fé é também o único meio de permanecer na seiva da vide; Paulo diz que se vivemos no Espírito também devemos andar no Espírito (Gl 5.25).
O fato de eu ter vida por causa do Espírito ainda não é fato de eu andar n’Ele; ainda que eu não ande tenho Sua vida, pois isso é algo orgânico.
Estar limpo é algo feito por Cristo é orgânico, permanecer n’Ele é uma atitude que tenho por crer n’Ele. Paulo quando percebe que foi crucificado com Cristo diz: “e a vida que agora vivo na carne vivo a na fé do Filho de Deus…” (Gl 2.20).
Olha como as coisas fazem sentido agora; perguntaram a Jesus quais eram as obras de Deus, perguntaram no plural, mas ele respondeu no singular: “A obra de Deus é crer naquele que ele enviou” (Jo 6.29).
Essa fé não é somente para ser salvo, mas para também dar fruto. Portanto, quando perco a confiança em Cristo ou quando sou tentado com as potentes tentações do mundo que assedia minha alma e a deixo ser levada, me separo de Cristo quanto a receber a vida para frutificação, ainda que eu esteja limpo quanto à justificação dos meus pecados diante de Deus, posso simplesmente ser infrutífero.
Ao ter experiência de separação da seiva da vide tudo o que eu fizer será obra morta, trapo de imundícia, mesmo tendo o Espírito Santo dentro de mim e mesmo operando com dons miraculosos (Mt 7.22).
A tragédia da vida cristã não são os pecados, pois tais, são perceptíveis e podemos nos esconder no preciso Sangue do Cordeiro. Mas, quando estamos em atividade fora da seiva da vide, podemos levar anos para compreender essa separação, e vamos levando uma vida totalmente maquiada a ponto dos pecados que outrora vencidos retornem violentamente dominando em condições de trocar o fruto do Espírito pelas obras da carne.
Quão terrível é praticarmos as obras de Deus quando na verdade tínhamos que apenas crer no Seu Filho.
A versão btx nos dá uma clareza maior quanto a essa distância de Cristo, a sentença separado de mim, indica que o discípulo não permaneceu, isto acontece por não crer e não descansar no Filho de Deus; não permanecendo há separação da seiva que é a comunicação da vida para o fruto; agora, atente-se por uma palavra assombrosa: “NADA PODEIS FAZER!” Isso mesmo, separado de JESUS nada será possível fazer!
Mas consideramos honestamente, muitos coisa são possíveis fazer mesmo separado de Cristo, nem precisamos falar dos que estão limpos, qualquer pessoa gentia e pecadora pode acordar cedo mesmo sem ter aceitado Jesus, pode cozinhar, trabalhar, inclusive pode pecar. Por que então Jesus diz: “Sem mim nada podeis fazer?”
Para entendermos isso temos que compreender um princípio de Deus; Paulo diz: “(…) Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Rm 3.4 – nvi).
Essa palavra não está dizendo que Deus é verdadeiro por que Ele simplesmente nunca mente, mas por que d’Ele tudo é veraz e que tudo fora dele é sem veracidade, sem valor; do mesmo jeito todo homem mentiroso não é por que simplesmente os homens saem por aí espalhando boatos falsos, enganando pessoas e dizendo toda sorte de mentira, é porque tudo o que é do homem não tem veracidade para Deus não tem qualquer valor, a casa edificada na areia (pó da terra, carne) cairá com a mínima tempestade (Mt 7.26), não devido ao ornamento ou pela capacidade arquitetônica desta casa, mas por que a base dela é corrompida é da carne. Nada do homem tem proveito para Deus. Não percebem que Jesus diz: “[o homem] não pode produzir fruto por si mesmo”(Jo 15.4).
“Nada podeis fazer” não é uma questão de atividade humana, pois muitos homens e mulheres fazem muitas coisas ainda que nem sequer creiam que Deus existe. Essa palavra foi direcionada, na verdade, para discípulos crentes, este NADA representa que tudo aquilo que é feito fora de Cristo ainda que seja executado, seja lá o que for, para Deus é apenas NADA!
Aquilo que é feito fora de Cristo é NADA, isto quer dizer que não tem qualquer valor ou consideração. Ainda que sejam obras e serviços realizados para Deus não tem valor espiritual porque não tem a vida de Cristo. Cristo é tudo. Ele é a plenitude de Deus. Portanto, para nós que fomos redimidos, temos apenas uma coisa que Deus Pai considera da mais alta importância, estar e permanecer no Filho d’Ele, tudo o mais é um eterno NADA.
A Obra é de Deus, qualquer atitude do homem operaremos no princípio da anti-veracidade, Deus procura aqueles que querem cooperar com Seu Filho, tal atitude é de uma genuína fé simples, da qual Cristo é tomado como TODA SUFICIÊNCIA deste cristão, nada mais pode ser almejado porque tudo o mais sem Cristo seria de fato o maior NADA do universo.
As obras de Deus serão praticadas em nós pela seiva da vide. Estamos limpos, portanto, permaneçamos n’Ele por meio da fé, para que Ele seja a vida que nos substitui.
Por isso que a Obra de Deus é crer no Filho toda produção valiosa virá dessa base. A areia derrubará a casa, mas a Rocha a manterá firme.
Que o Senhor seja nossa Luz!