A Dualidade do Reino O Reino em Mistério – D. M. Panton
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O Reino em Mistério geralmente tem sido confundido com o Reino em Manifestação. O primeiro é presente e inclui toda a Igreja de Deus com base na graça; o segundo é futuro e inclui apenas os escolhidos com base na justiça de Deus, aplicada no Tribunal de Cristo. D.M. Panton, portanto, se torna um instrumento muito abençoado por Deus por dar clareza e profundidade nesta dualidade. Continue lendo e perceberá a riqueza singular de compreender devidamente este assunto.
UMA NOTA EXPLICATIVA
O texto utilizado segue fielmente o material original de estudo do autor. Todavia, nós, do DoPeregrino.com, fizemos uma adaptação para o formato de conteúdo de internet.
Todas as notas de rodapé são extraídas da obra original, exceto se for encontrada a sigla N.R (Nota do Redator).
TRADUTOR: A.FRIEND
O REINO EM MISTÉRIO
Talvez não haja fonte de erro mais comum na exposição do ensino bíblico, que por consequência frequentemente sugere algum defeito crônico na mente humana, do que a teimosia com a qual os homens vêem apenas um ângulo, quando Deus, na verdade, observa dois.
A dualidade — que é a atração para fora, ao mesmo tempo que é, a atração para dentro é o que equilibra o universo — faz parte da própria textura elementar de tudo que existe.
Contudo, nenhuma grande verdade cavalga em um carro, como se este carro pudesse ser uma revelação, o que na verdade configura o contrário. É como se houvesse algum condutor que, de alguma maneira desequilibrada, saltasse a bordo a fim de guiá-lo a um precipício.
Na exposição das Escrituras, é crucial evitar transformar os textos que aparentemente são conflitantes em campos de artilharia opostos, prontos para disparar e silenciar uns aos outros. Como afirma 2 Pedro 1:20, “Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação isolada”. Mas, sim, contribuir para um todo perfeito.
Essa dualidade reside ricamente e sutilmente na grande frase das Escrituras — o “Reino dos Céus”.
Contudo, várias parábolas do Senhor que contêm essa expressão [Reino dos Céus] alojam tal Reino nesta era; e é este aspecto que (desde a época apostólica) sempre apelou mais poderosamente para a esfera da Igreja de Deus.
Certa ocasião, o Tribunal de Apelação no Estado de Nova York, revertendo a decisão de um tribunal inferior sobre um testamento que deixava 1.000 Libras esterlinas para “o avanço do Reino de Cristo na terra”, definiu o Reino assim: “O Reino de Cristo na terra é a comunidade ou o todo corpo de fiéis de Cristo coletivamente; todos aqueles que estão espiritualmente unidos a Cristo como Cabeça da Igreja, sem levar em consideração as diferenças de credo e doutrina”.
Esta inusitada declaração continha uma mistura de equidade despojada e teologia sólida; pois entre o Semeador que inicia o plantio e os anjos que descem para colher, o Senhor estabelece “o Reino dos Céus”.
Este reino, ao ser visto como fermento, mostarda ou uma mistura de trigo ou, ainda, o joio, não pode, por nenhuma interpretação, ainda que se faça toda força para isso, ser restrito ao Milênio.
Nós os que cremos “estamos sendo trasladados para o Reino do Filho do Seu amor” (Colossenses 1:13); e quanto a todos os que rejeitam nosso Senhor enquanto o Nobre está ausente (Lucas 19:14)? Eles mesmos respondem como que por uma confissão: “Não queremos que este homem reine sobre nós.” Este é o Reino que nunca é abalado (Hebreus 12:28), pois, tal reino, nunca pode cessar.
Assim, o Reino, neste sentido, é como sinônimo da Igreja ou deste “intervalo” que se estabelece entre as duas vindas; o que nosso Senhor, na verdade, chama de “os mistérios”; ou seja, coisas escondidas desde a fundação do mundo (Mateus 13:35); ou podemos concluir o reino dos céus como a veracidade da Igreja (Mateus 13:11), e tal compreensão é percebida, tão somente, pelos discípulos a fim de que eles possam entender o reino místico da graça. É um reino sobre o coração e a vida, sem realeza visível e sem metrópole terrena1; sua cidadania está no céu (Filipenses 3:20, R.V)2, e, portanto, em qualquer lugar e em toda parte da terra, seus cidadãos são peregrinos e estrangeiros; este mesmo reino está constantemente em guerra, mas apenas com os governantes deste mundo de trevas, as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais; suas armas não são carnais, e, como consequência, é inadequado associá-lo a estabelecimentos estatais e poder temporal.
E assim [na Igreja de Deus] incorpora-se a graça do Rei Salvador, que é aceitar o martírio sem qualquer resistência, tendo como fundamento a Cruz da Vitória.
Seu comércio é nos lugares celestiais, e, portanto, é proibido acumular tesouros na terra e recebe com alegria o despojamento de seus bens; e está sem trono e sem lar até a hora em que a Santa Cidade paira sobre a terra do Milênio.
As portas deste Reino estão entreabertas para toda a humanidade; e tem apenas uma estrada real para entrar, um caminho exclusivo: “o segundo nascimento”.
Contudo, é igualmente certo que os mesmos Evangelhos e Epístolas, e pelos mesmos lábios sagrados, em passagens mais numerosas e claramente além de qualquer disputa, o Reino de Deus é considerado como totalmente futuro, na época imediatamente após a Segunda Vinda. Pois o trono de Davi é o presente do nascimento do Cristo (Lucas 1:32), e o trono de Davi nunca esteve nos céus.
Satanás percebeu isso; pois o que ele ofereceu ao nosso Senhor, os reinos do mundo, era o que ele tinha percebido da Profecia sendo aplicada ao Messias:
Então, quando Cristo revelou que alguns presentes não experimentariam a morte até que vissem o Reino de Deus chegar com poder, não era uma Igreja obscura e perseguida que era revelada, mas um Cristo literalmente presente e transfigurado, na terra, acompanhado pelos arrebatados e pelos ressuscitados — Elias representando os vivos arrebatados, e Moisés, representando os mortos ressuscitados. Da mesma forma, o Reino no qual nosso Senhor beberá novamente com Seus Apóstolos (Marcos 14:25) é o Milenar, já que vinho não é feito tampouco consumido no céu.
Este é o Reino pelo qual a Igreja deve orar, pois o Reino, em si, não é ela mesma, e deve ser orado para descer à terra: é o Reino do qual Paulo afirma decisivamente — “carne e sangue” — ou seja, os vivos, inalterados [sem glorificação] “não podem herdar o Reino de Deus; nem a corrupção” — ou seja, os mortos, não ressuscitados — “herdar a incorrupção” (1 Coríntios 15:50).
Quando a expressão “Reino” é mencionada de forma isolada, sem qualquer descrição adicional, é, sem dúvida, o Milenar (1 Coríntios 15:24); pois segue a ressurreição; porém, prepara o caminho para o Reino Eterno. O Reino dos Céus, diz nosso Senhor, está “naquele dia” (Mateus 7:21, 22); e anjos, não homens, o estabelecerão (Mateus 13:41).
Assim, visto que é um único Reino com dois aspectos — pois há apenas um Rei — Existem certas características essenciais que pertencem a ambos, conforme expressas nas Escrituras, e que não pertencem exclusivamente a nenhum deles.
O Reino de Deus não é comer e beber (em nenhum dos aspectos consiste em banquetear, embora em ambos haja alimento), mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Romanos 14:17).
Não é apenas em palavras, mas também em poder (1 Coríntios 4:20). Em ambos, publicanos e prostitutas entram mais cedo do que os ricos e os fariseus. Ambos os Reinos não vêm por observação ou descoberta local, mas apenas pelo novo nascimento (João 3:3); e o Reino deve estar dentro de nós antes que possamos estar dentro dele (Lucas 17:21).
João Batista anunciou ambos; Cristo pregou ambos; Paulo morreu com ambos em seus lábios. Uma vez que o princípio de um, o Reino Eterno, é a Graça; e o princípio do outro, o Reino Milenar, é a Justiça.
A conduta sob cada um está a mundos de distância, exatamente como a ação do Salvador nas duas épocas. O Reino em mistério é o prelúdio vital para o Reino em manifestação, e o reino da graça é o campo de treinamento para o reino da glória;4 mas para a Era, a Era Milenar, que sucede esta Era presente, uma pirâmide de santidade de sete camadas se desdobra, com as palavras de advertência: — “Se fizerdes estas coisas, jamais tropeçareis; porque assim vos será ricamente suprida a entrada” — a riqueza de uma prioridade de milênio — “no reino eterno. Assim, o grande mandamento, mesmo para os Apóstolos, é — “Buscai PRIMEIRO o Reino de Deus” (Mateus 6:33), pois toda a nossa vida regenerada deve ser a busca de uma glória além do túmulo; e “nenhum homem, tendo lançado mão do arado e olhando para trás, é APTO (pronto, preparado, maduro) para o Reino de Deus” (Lucas 9:62), já que a aptidão para o Reino vindouro não provém apenas da conversão, mas de um rosto que, tendo fugido de Sodoma, nunca olha para trás.