Os 24 Anciões – Watchman Nee
Excerto extraído de uma obra denominada “Come Lord Jesus” de Watchman Nee – um estudo do livro do Apocalipse, essa obra encontra-se com sua versão em Português do Brasil e é publicada pela editora Tesouro Aberto.
Os 24 Anciões do Apocalipse
A interpretação comum acerca dos 24 anciãos, conforme apresentada pela maioria dos comentaristas, é que eles apontam para toda a gloriosa igreja.
Mas esses comentaristas têm provas suficientes para oferecer essa interpretação? Recentemente, alguns deles citaram 4.4, dizendo que esses anciãos têm tronos e, portanto, reinam como reis; eles também apontam que em 5.8 esses anciãos são mostrados tendo harpas e taças de ouro cheias de incenso, e, portanto, são sacerdotes. E não diz 1 Pedro 2.9 que os crentes são “uma linhagem escolhida, um sacerdócio real”? Uma vez que esses 24 anciãos são tanto reis quanto sacerdotes, certamente, concluem, esses anciãos representam a gloriosa igreja.
De acordo com essa interpretação, toda a igreja deve ser arrebatada junta e, assim, ela não passa pela tribulação. Mas como, então, pode ser explicado Ap 3.10? Além disso, existem outras dez razões pelas quais os 24 anciãos não representam uma única igreja gloriosa.
(1) O nome de ancião não é o nome da igreja. Se os anciãos aqui apontam para a igreja, será quase como dizer que toda a igreja é composta por anciãos. De acordo com o fato histórico, Deus primeiro escolhe os anjos (Isaías. 14.12; Ez. 28.11-19), depois os judeus (Gênesis. 12.1-3) e, em terceiro lugar, a igreja (pois ela é formada na época de Atos 2). Não apenas a igreja não pode ser considerada como anciã, nem mesmo os judeus são considerados anciãos (a eleição mencionada em Efésios 1.4 refere-se ao propósito eterno de Deus e, portanto, é bastante diferente dos anjos eleitos, como mencionado em 1 Timóteo 5.21).
(2) O número dos anciãos não é o número da igreja. O número da igreja nas Escrituras é sete ou múltiplos de sete, mas 24 não é esse múltiplo.
(3) A igreja não pode ter o trono e a coroa antes que o Senhor Jesus tenha os Seus. Aquele que está sentado no trono, como visto em 4.2, é Deus Pai (o Cordeiro está de pé, de acordo com 5.6).
Os 24 anciãos também se assentam em tronos e todos usam coroas de ouro, como descrito em 4.4. Se eles representam a igreja, como pode ser que a igreja esteja sentada enquanto o Cordeiro está em pé? De acordo com essa interpretação, em 5.6 a igreja já está coroada. No entanto, observe que o Senhor Jesus não será Rei até que o tempo do capítulo 20 seja alcançado! Como a igreja pode receber glória antecipadamente ao Senhor? Além disso, após 19.4, não há mais vestígios dos 24 anciãos. Se esses anciãos realmente representam toda a igreja, o que aconteceu com a gloriosa igreja depois disso?
(4) As vestes brancas que os anciãos usam não são ditas como purificadas pelo precioso sangue; no entanto, em outro lugar (7.14), as vestes brancas são ditas como lavadas e tornadas brancas no sangue do Cordeiro. As vestes brancas aqui mostram que os anciãos estão sem pecado.
(5) O cântico que esses anciãos entoam não é de redenção, já que o cântico em 4.11 fala da criação de Deus. Eles conhecem apenas a criação de Deus; não têm conhecimento pessoal da redenção de Deus. Embora entoem um novo cântico, como mencionado em 5.9-10, isso ocorre porque o Senhor resgatou “eles” — [esse “eles”] não [são] esses anciãos, mas homens de toda tribo, língua, povo e nação.
(6) Todos os fenômenos no capítulo 4 representam o estado do universo. Além do trono e dos sete Espíritos, há as quatro criaturas viventes e os 24 anciãos; nenhum outro é mencionado. Isso indica que esses anciãos são os anciãos do universo. Podemos possivelmente dizer que a igreja é a mais velha no universo?
(7) Levar orações a Deus, como é mostrado em 5.8, isso não é a ação da igreja. Mesmo que a igreja seja ordenada nas Escrituras a orar pelos outros, Deus não a instruiu a apresentar as orações dos outros a Ele. A igreja não tem esse poder. Muitos comentaristas concordam que o anjo mencionado em 8.3-4 refere-se ao Senhor. Se é ou não o Senhor, pelo menos pode-se dizer que a tarefa de levar orações a Deus é realizada pelos anjos. Portanto, trazer as orações dos santos a Deus, conforme mencionado em 5.8, deve ser uma tarefa realizada pelos anjos.
(8) Em nenhum momento os 24 anciãos se identificam como a igreja. O “eles” [ou “os” – dependendo da sua tradução] em 5.10 é uma referência à igreja desenvolvida por esses anciãos. Se o “eles” [“os”] realmente fosse uma expressão de auto-identificação, os anciãos deveriam ter dito “nós” ao invés disso. O que os anciãos dizem claramente os distingue da igreja.
Os 24 anciãos não podem representar toda a igreja. Existem três classes de pessoas em vista em 7.13-17, a saber: (i) anciãos, (ii) João e (iii) aqueles vestidos em vestes brancas. Se os 24 anciãos fossem uma alusão a parte da igreja, ainda faria algum sentido os anciãos perguntarem a João: “Quem são eles, e de onde vieram [aqueles vestidos em vestes brancas]”? Mas se os 24 anciãos significam toda a igreja, seria absurdo toda a igreja perguntar sobre parte da igreja.
(9) João se dirige a um dos anciãos como “meu senhor” (7.13-17), mostrando assim a posição superior do ancião sobre João. Caso contrário, como o ancião permitiria que João o chamasse de “meu senhor”? (cf. 22.8-9).
(10) A postura dos 24 anciãos diante de Deus é bastante peculiar. Eles nunca passaram fome e sede como a igreja, nem derramaram lágrimas. Eles não têm medo de Deus, nem possuem qualquer senso de pecado. Eles são estranhos à experiência de serem redimidos.
Todos esses pontos provam que eles não são a igreja redimida.
Quem, então, são esses anciãos? Vamos assumir que são os reis e sacerdotes entre os anjos, que são os anciãos do universo (ou seja, eles governam sobre os anjos e o universo no serviço de Deus). As evidências para essa conclusão são as seguintes.
Eles se assentam em tronos e usam coroas de ouro, portanto, devem ser reis.
Eles usam vestes brancas, que são as vestes dos sacerdotes (ver Êxodo 28; Levítico 6.10, 16.4). Eles têm harpas, cantam cânticos e seguram taças de incenso douradas – tudo isso são evidências de seu sacerdócio.
A razão pela qual eles são os sacerdotes entre os anjos é porque são os anciãos do universo. Nos capítulos 4 e 5, Deus é Deus, o Senhor é o Cordeiro, o Espírito Santo é os sete Espíritos, as quatro criaturas vivas representam a criação animada, e os 24 anciãos são os anciãos do universo, pois são os mais antigos entre os seres criados.
Além dos anjos, quem mais deteria o direito de se assentar em tronos e usar coroas de ouro antes do Senhor Jesus? Deus originalmente designou anjos para governar o universo. Mas um dos arcanjos caiu e se tornou Satanás, originando assim o reino satânico. Quanto aos anjos que não seguiram Satanás na rebelião, Deus ainda lhes atribuiu o governo do universo.
Assim como Miguel é o príncipe chefe sobre a nação de Israel (Daniel 10.13), da mesma forma, todos nós que somos redimidos temos nossos anjos da guarda (Atos 12.15; Mateus 18.10; Hebreus. 1.14). Os 24 anciãos se assentam enquanto os sete anjos que tocam as trombetas ficam em pé diante de Deus (8.2). Eles estão agora encarregados do universo.
Quando veem pessoas sendo salvas, não ficam com ciúmes; ao contrário, louvam a Deus por isso. Eles governarão o universo até que o reino venha; e então renunciarão sua funções e haverá a transferência do governo do universo para os homens (Ap. 11.16-18; Hb. 2.5-8). Por isso, não há menção dos 24 anciãos após 19.4.
O número dos 24 anciãos representa o número do sacerdócio. Na época de Davi, o sacerdócio era dividido em 24 turnos (1 Crônicas 24.7-18).
A função do sacerdócio é apresentar as orações dos santos a Deus. As harpas são para cantar, e as taças de ouro são para as orações.
(Extraído diretamente da obra original em inglês – Come, Lord Jesus de Watchman Nee, publicado pela Christian Fellowship Publishers, Inc.)