Quando as Obras de Deus são manifestas

Três obras e o fim de uma escuridão

Deus estabelece um plano para agir em um homem, sempre Suas obras serão concluídas apesar de toda limitação humana, aliás as limitações do homem é que darão provisão às Obras de Deus.

Três Obras e um cego

João 9

E passando, viu um homem cego de nascença. E perguntaram-lhe seus discípulos, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que haja nascido cego? JESUS respondeu: Não pecou este nem seus pais, mas para que as obras de DEUS fossem manifestadas nele.” [João 9.1-3 – btx].

Há coisas maravilhosas nessa passagem que descortinam vários ensinos

A primeira coisa que precisamos nos deparar no versículo 1 é que as doenças geradas pelos pecados não foram negadas pelo Senhor; entretanto o caso específico é para que houvesse a manifestação das obras de Deus.

Também vemos Jesus, o Cristo, dizendo que eram obras, portanto não era somente uma obra; essas obras acontecem na vida daquele homem no capítulo 9 de João.

Primeira Obra

Já sabemos que Jesus tratou a palavra “obra” no plural e não no singular indicando, assim, que ao menos mais de uma obra seria feita. Quando toda essa historia é vislumbrada nos rendemos aos ajustes finos de Deus, ao seu arranjo soberano em lidar com pessoas, e quão belo são seus feitos.

A primeira obra acontece, simplesmente, quando Jesus de Nazaré o cura. É importante frisarmos o tipo de enfermidade, ele era cego de nascença, mas note que o fato do substantivo nascença [funcionando como um adjetivo], (…) nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença (v. 32 — tb), ser destacado indica que a doença que ele tinha era algo pertinente somente aos que nasciam, não era uma cegueira adquirida, e havia uma obviedade para que se notasse isso, embora no grego a palavra nascer funciona como um verbo passivo “nascido”, seu efeito é o mesmo, ele retrata uma causa, portanto, essa doença poderia indicar uma cegueira não somente pelo fato dela vir junto com o nascimento, mas que não pudesse haver outra forma dela ser adquirida; ao longo deste conteúdo o leitor poderá compreender o que de fato quero dizer.

Mas, seguindo em frente, a primeira obra está anexada à cura do cego. Essa é a primeira obra, vejamos:

Estando eu no mundo, sou a luz do mundo. 6 Tendo assim falado, cuspiu no chão e, fazendo lodo com o cuspo, aplicou-o aos olhos do cego, 7 dizendo: Vai lavar-te no tanque de Siloé (que quer dizer, Enviado). Ele foi, lavou-se e voltou com vista.” [João 9.5–7 — tb].

Ao usar a expressão “aplicou-o” também traduzida por “untar” pode indicar uma área ausente que precisava de algum preenchimento naquela região, isso fica mais evidente no versículo 13 onde o cego diz: “inseriu lodo nos meus olhos” o verbo grego é diferente de untar das primeiras menções é importante frisar que untar aparece quando o cego ainda não via, mas depois ele reconhece que foi aplicado algo sobre, insistimos nesta saliência porque untar seria uma camada leve “algo posto sobre”, enquanto que aplicar “inserir dentro ou sobre”, uma região, já neste caso oferece-se a ideia de uma aplicação com maior quantidade ou mesmo de modelagem. Jesus ao terminar de aplicar o barro ordena o cego a se lavar no tanque de Siloé, uma jornada difícil para um cego que estaria a uma boa distância daquele tanque.

Isso indica que o princípio mais relevante na vida de um filho de Deus é a obediência, se aquele homem julgasse a jornada muito penosa estaria cego para o resto da vida.

“Ele foi, lavou-se e voltou com vista” — Esta foi a Primeira Obra.

Segunda Obra

Jesus não o cura à toa, o processo de cura acarreta múltiplos eventos, então, o Senhor sabia o que viria depois e fica calmamente esperando por todo este desfecho.

Levaram aos fariseus o que fora cego. 14 Ora, era sábado o dia em que Jesus fez lodo e lhe abriu os olhos. 15 Então, os fariseus, por sua vez, perguntaram-lhe como recebeu a vista. Ele respondeu: Aplicou lodo aos meus olhos, lavei-me e agora vejo.” [João 9.13-15 — tb].

Eis o grande problema, o sábado; Jesus cura no dia de sábado e os teólogos fariseus não estão preocupados com o grande sinal miraculoso, mas com a possível infração religiosa do Senhor.

A Segunda Obra não tem mais vínculo miraculoso, não é um sinal sobrenatural embora o arranjo seja, não há mais necessidade de reaver o curso de natureza, agora o problema é religioso, havia a escola farisaica que havia determinado uma série de preceitos orais em relação ao sábado e além de criarem os preceitos os monitoravam para o cumprimento do povo judeu sob pena de exclusão da vivência e prática de cultos.

Sim, my friends, se algo não estivesse de acordo com o monitoramento deles o risco de expulsão, dos locais de reunião e culto, era evidente; e uma das coisas proibidas por esse escola rabínica era de alguém confessar que Jesus era o Cristo (v.22).

A conclusão farisaica era que, Jesus de Nazaré não poderia ser um homem de Deus porque não guardava o sábado: “Por isso, alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, porque não guarda o sábado.” (v. 16 — tb).

Os pais daquele que fora cego

Mas os judeus não acreditaram que ele tivesse sido cego e que tivesse recebido a vista, enquanto não chamaram os pais dele.” [João 9.18 — tb].

O milagre parece ter ido muito além da cura de um cego, pois Jesus havia curado vários outros cegos, mas nenhum deles haviam chamado a atenção dos judeus como este, talvez esta cura parecia ser algo muito surreal.

Então, eles chamam os pais. 

Voltemos ao início, Jesus diz aos discípulos que a doença não tinha origem no pecado nem dele, nem dos pais. Havia uma crença supersticiosa naquela época implantada pelo judaísmo de que alguém poderia pecar antes de nascer, pois como poderiam dizer os discípulos: “quem pecou este ou seus pais para que nascesse cego”, ora, como ele pecaria se ainda não havia nascido? Mas estudos comprovam que havia essa crença, entretanto não falaremos disso aqui, apenas saiba que esse entendimento era comum no judaísmo. 

Bom, os pais eram judeus religiosos, amavam a Lei e os encontros sabáticos na sinagoga para leitura, orações e participações litúrgicas, há fortes indícios de que os pais do cego tinham uma vida de ocupação na sinagoga e nos preceitos da tradição.

O cego também, pois ambos frequentavam a sinagoga e o cego tinha o direito de mendigar próximo aos locais litúrgicos.

Os pais temendo serem expulsos da sinagoga evitaram ao máximo falar do assunto, vejam:

É este vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora? 20 Responderam seus pais: Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego; 21 mas como agora vê não sabemos; ou quem lhe abriu os olhos nós não sabemos. Interrogai-o, já tem idade; ele mesmo falará por si. 22 Isso disseram seus pais, porque tinham medo dos judeus, porquanto estes já tinham combinado que, se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga.” [João 9.19–22 — tb, grifo meu].
Isso disseram porque tinham medo dos judeus

Era obvio que os pais do cego eram piedosos e tentavam seguir a tradição dos judeus, os ritos, as cerimônias, os encontros para leitura, a vida de sinagoga; e temiam perder isso.

Não eram pais imorais e que tinham vida desregrada existia alguma piedade neles inclusive religiosa, notemos que mesmo com medo os pais não mentiram, admitiram que o filho havia nascido cego. A única coisa que os pais queriam era manter suas vidas religiosas, portanto, ainda que tivessem ficados impactados preferiram não ir muito além de: “ele tem idade para responder…”

O Cego e o Judaísmo

Assim como os pais, o cego conduzia sua vida no caminho de Deus, entretanto, parecia que ele estava no lugar errado o mesmo lugar de seus pais, Jesus acima de tudo sabia disso, por esta razão disse que a doença dele era para a aparição (Lit.) de OBRAS e não OBRA. Como isso é belo, tudo estava no design de Jesus. Tudo estava arranjado!

As 5 respostas

O cego oferece ao menos cinco vezes respostas aos judeus e fariseus, a primeira no versículo 10, a segunda no versículo 13, a terceira no 17, a quarta no versículo 25 e talvez a última e quinta vez no versículo 26.

Percebamos o conhecimento teológico do cego na defesa de seu novo amigo.

O que dizes a respeito dele? v. 17

Confissão: “É Profeta” .

Sabemos que este homem é pecador vv. 24–25

Resposta: “Se é pecador eu não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo.” 

Nós sabemos que Deus falou a Moisés, mas este não sabemos donde ele é vv.29–33

Resposta parte-1: “Respondeu-lhes o homem: É maravilhoso que não saibais donde ele é; contudo, ele me abriu os olhos.” (tb).

Resposta parte-2: “Sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém temer a Deus e fizer a sua vontade, a este ele ouve.” (tb).

Resposta parte-3: “De entre as [ou das] eras, não ouviu que alguém abriu os olhos de um cego nascido.” (Lit. Grego).

Resposta parte-4: “Se esse homem não fosse de Deus, nada poderia fazer.” (tb).

Que aula que este homem – agraciado pela cura de um desconhecido – deu para os maiores teólogos da sua época!

Não só o defende de pecados, pois reconhece que Deus não ouve pecadores visão comum da tradição farisaica que ele traz à tona para a memória deles, mas para mais o reconhece como um Profeta, pois os sinais miraculosos praticados por homens de Deus eram executados por profetas e o cego entendeu muito bem isso e atribuiu aquele milagre ao Homem-Deus o vendo com um Profeta, pois ainda Ele não sabia quem era de fato Aquele Profeta.

A Expulsão

Os judeus e fariseus ao ouvirem isso fazem algo que seria muito doloroso para um praticante do judaísmo, frequentador da sinagoga e participante dos ritos e cultos e que além disso precisava daquele local para mendigar, o expulsam:

Responderam-lhe: ‘Tu nasceste todo em pecados e nos ensinas?’ E o expulsaram.” [João 9.34 — bj].

Percebam, mais uma vez aquela crença judaica da tradição rabínica de que se pode cometer pecados ainda no ventre e que ao nascer se nasce herdando daqueles pecados algum tipo de jugo ou maldição, por isso aquela pergunta dos discípulos: “Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”

Assim, os fariseus estavam dizendo algo tipo: “tu nasceste em pecados por isso nasceu cego, nós não, pois não nascemos como você”, e o expulsam da rotina religiosa da sinagoga.

A segunda obra trata do rompimento do sistema religioso, isso seria de uma importância enorme para aquele homem ainda que não parecesse num primeiro momento. Mas, temos que considerar algo, Jesus estava ansioso esperando este evento, Ele queria que o homem fosse expulso, aliás, criou todo o ambiente para que isso acontecesse, Jesus era uma espada de divisão (Mt 10.34; Jo 9.16c) e havia dividido os judeus. O cego agora, lançado fora, caminha em alguma direção como um peregrino sem rumo certo e nesta sublime caminhada depara-se com a maior e mais bela Visão de tudo que se pudesse ver. Ele vê sua Salvação Encarnada.

“Jesus ouviu dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe: ‘Crês no Filho do Homem?’” (v. 35 — bj).

Impressionante como Jesus estava atento aos acontecimentos que envolviam aquele homem, mas por quê? Porque ainda faltava uma obra, a mais importante de todas e por isso foi ao seu encontro.

Terceira Obra

Jesus ficou no caminho daquele que era cego, porque queria ser encontrado por ele, mas não antes dele ser expulso da tradição judaica; ao ser colocado para fora da sinagoga, Jesus se coloca no caminho.

É possível perceber esse belo design facilmente, porque muitas vezes isso aconteceu com os cristãos ao longo da história trágica da degradação da Igreja, o processo que antecedia a fogueira de muitos mártires era a excomunhão, mas ao mesmo tempo era o motivo da maior estreiteza com Aquele pelo qual morreriam, era o encontro com Jesus.

Desta forma como aquele que fora cego tinha em sua religião um entrave para Cristo, ele tinha que deixa-la, e ela tinha que sair da vida dele, quando isso acontece o que ele vê à sua frente é o Filho do Homem. O Homem-Deus, O Verdadeiro Homem, O Homem separado para derramar Seu sangue.

Crês tu no Filho do Homem?” v.35. E a resposta mostra a mais bela singeleza.

“Quem é ele, Senhor, para que eu creia nele? — respondeu-lhe o homem.” (v. 36 — tb).

E o interesse demonstrado por Jesus àquele homem só revela o que Ele quis dizer com: “para que as obras de Deus nele se manifestassem” v.2.

O cego apenas diz: “Quem é Ele Senhor”. Essa pergunta tem uma beleza indescritível, pois para aquele homem que viveu tanto tempo na escuridão e que tudo agora era novo, bastava apenas saber em quem deveria crer, que pessoa ele, agora, tinha que depositar sua fé, um design esculpido na obediência.

Agora as obras poderiam ter todo seu efeito e cumprimento, por isso a palavra grega φανερωθῇ (fanerōthē) que significa manifestar algo escondido, trazer à tona ou revelar-se, deixa seu toque especial, pois todas as experiências daquele cego foram verdadeiras revelações.

As obras de Deus se cumpriram e tiveram um efeito avassalador.

Jesus então responde àquele homem:

“Já o tens visto, e é o que fala contigo.” v.37 (ara).

E a resposta daquele que só havia experimentado escuridão foi:

“Então, afirmou ele: Creio Senhor; e o adorou” v.38 (ara – grifos meu).

Jesus ao dizer: “já o tens visto…” deixa bem claro que o cego fora curado para vê-lo!

Tudo o que aquele homem precisa ver ele viu!

A história começa com uma cegueira e termina com uma adoração!

Adoração de alguém que acabara de ser salvo por contemplar o próprio Deus encarnado.

 

Cegueira de Nascença o que poderia ter sido isso?

Quanto ao que aquele homem teve para ter nascido cego quero insistir em dizer – embora sem poder afirmar nada – que pode ter sido uma doença de má formação congênita porque há indícios e quero frisar bem que isto é apenas uma inferência minha, somente para calcularmos o tipo de milagre que Jesus fez e que os fariseus, atônitos, perguntarem varias vezes sobre como poderia ter acontecido, parecia muito surreal; o fato de Jesus moldar barro pode ter sido um ato criativo do globo ocular daquele cego, e isso poderia indicar que aquele homem havia nascido sem o seu globo ocular, a modelagem teria sido algo semelhante no ato criativo de Adão que foi modelado com barro.

O próprio cego exclama: onde se viu que alguém curou em qualquer era (Lit.) um homem que havia nascido cego; essa exclamação parece lembrar que aquele tipo de cegueira deveria ser muito rara, talvez nunca houvesse alguém no mundo daquela forma.

Jesus curou outros cegos, mas nenhum deles chamou tanto atenção dos seus adversários como este, foi muito difícil de ser aceito que aquele homem havido sido curado, pois seria uma ação absurdamente extraordinária. Seria isso, então, a construção de novos olhos que ele não tinha? 1 Contudo não sabemos de fato, mas os fariseus 5x fazem perguntas àquele cego sobre o que havia ocorrido com ele, o que no mínimo foi chocante para eles, mesmo sabendo de outros milagres que Jesus fizera e nem mesmo a ressurreição de Lázaro que viria acontecer depois, convidou os religiosos a fazerem tantos exames, investigações e perguntas.

 

Obras e não Obra

Por isso são obras e não obra, são obras porque envolveu:

Sua Cura;

Sua Expulsão;

Sua Salvação.

O Evangelho de João nos traz algo muito interessante, quando as pessoas perguntam sobre obras, Jesus responde no singular falando de apenas uma obra, veja:

Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus?” [João 6.28  — ara, grifo meu].

O Senhor responde:

A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado.” [João 6.28 — ara, grifo meu].

O Senhor Jesus diz de apenas uma obra, e esta é crer, a pergunta é feita no plural “obras”, mas Jesus responde no singular: “obra”.

Agora, quanto ao cego ele diz, obras de Deus, mas Ele sabia que das três obras apenas uma era necessária, porém Ele permite duas outras obras acessórias para que elas o levassem até Ele.

Não há nada mais belo que contemplar seu Salvador e o ex-cego creu e a Obra de Deus se cumpriu na vida dele.

Que o Senhor seja nossa Luz.

Abreviações
btx — Bíblia Textual 1ª Edição Português 2021, BvBooks, Sociedade Iberoamericana.
tb — Tradução Brasileira 1917, atualização para os nomes próprios e adequação para o novo acordo ortográfico, 2010, Sociedade Bíblica do Brasil.
bj — Bíblia de Jerusalém, 2002, nova edição, Paulus.
ara — Almeida Revista e Atualizada, 1993 Sociedade Bíblia do Brasil.
Lit. Grego — Extraído literalmente do texto grego não se preocupando com a linguagem vernacular. Geralmente o extrato será da 5ª UBS ou 28ª Nestle Aland.
Notas

1  Importante frisar que há atualmente um termo médico, denominado, Anoftalmia, que é uma má formação congênita caracterizada pela ausência de um ou ambos globos oculares. Há no mundo, catalogado hoje, apenas 3 registros de anoftalmia bilateral sendo o último registrado em 2019 na Rússia, o que torna essa anomalia algo muito raro.

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Série: Isso não vem de Vós Ep03

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