O Destino dos Filhos de Deus no Arrebatamento da Igreja

PERGUNTA E RESPOSTA

Por G. H. LANG

PERGUNTA: Nem todos os verdadeiros cristãos serão arrebatados quando Jesus voltar? Se não, quem ficará para trás? Jesus disse: “Orai para que sejais considerados dignos de escapar…” O que isso significa?

RESPOSTA – “Vigiai, pois, e orai sempre, para que sejais considerados dignos de escapar de todas essas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do Homem.” Lucas 21.36.

Os dois versículos anteriores (Lucas 21.34–35) esclarecem essa advertência. O povo de Deus é alertado contra a negligência em sua experiência cristã. A implicação é que as condições serão tais que muitos se tornarão descuidados e seguirão o espírito da época. A tradução de Weymouth diz: “Cuidem-se, para que suas almas não sejam sobrecarregadas com indulgência própria, embriaguez ou as preocupações desta vida.” Esses perigos estão presentes hoje e provavelmente continuarão até o Arrebatamento. O dinheiro está abundante. Bebida, abuso de drogas, jogos, glutonaria e tabagismo por ambos os sexos tornam esses males populares. Todo tipo de autoindulgência é praticado.

Milhares de cristãos foram arrastados de seus alicerces nos últimos anos. A oração é negligenciada, resultando em um declínio geral na espiritualidade. Somos instruídos a orar para que sejamos plenamente fortalecidos para escapar de todas essas coisas malignas e ocupar nosso lugar na presença do Filho do Homem.

As virgens insensatas e todos aqueles que se tornaram descuidados em sua experiência cristã estão em uma condição espiritual decadente e serão deixados para trás. Moffatt afirma que aqueles que falham em permanecer vigilantes e perseverar em oração, esse dia os surpreenderá repentinamente como uma armadilha.

Como este ensino de nosso Senhor (dado os seus discípulos na época) é antagônico quando comparado ao ensino daqueles que esperam que todos sejam arrebatados antes dos últimos dias; e, ao mesmo tempo, contrário ao ensino daqueles que esperam que todos tenham que suportá-los!

Existem duas visões principais sobre o Arrebatamento e a Tribulação: uma, de que a Parusia começará antes dos Tempos do Fim, e que no seu início todos os crentes da vocação celestial, vivos ou mortos, serão levados à presença do Senhor nos ares; a outra, de que a Parusia ocorrerá ao final da Grande Tribulação, até quando nenhum crente será ressuscitado ou transformado. Uma visão diz que nenhum crente entrará nos Últimos Dias, a outra que nenhum dos que estiverem vivos então escapará deles.

Uma implica que o máximo grau de infidelidade ou carnalidade em um crente não o coloca em perigo de perder a suprema honra do arrebatamento ou de ter que suportar os temíveis Dias Derradeiros; a outra visão implica que nenhum grau de fidelidade ou santidade permitirá que um santo escape desses Dias. Quanto a isso, piedade e infidelidade parecem irrelevantes em ambas as visões; o que levanta dúvidas sobre ambas.

1. Nosso Senhor Jesus Cristo declarou distintamente que a fuga é possível. Em Lucas 21 há um registro de instruções dadas por Ele a quatro apóstolos no Monte das Oliveiras. É um relato paralelo a Mateus 24 e 25 e Marcos 13, e trata especificamente dos Tempos do Fim e Sua Parusia. Ele profetizou grandes guerras internacionais, acompanhadas de terremotos, fomes e pestilências, seguidas de terrores e grandes sinais do céu (vv. 10, 11: cf. Selos 1–4, Ap 6).

Essas coisas serão precedidas por uma perseguição geral de Seus seguidores (v. 12), que será o primeiro indício de que os Últimos Dias estão próximos. Então Jerusalém será pisoteada pelos gentios até que os Tempos dos Gentios se completem (v. 24: comp. Ap 11.2, onde o mesmo termo “pisoteada” é usado, e Zacarias 14.1–5). Isso mostra que é dos Últimos Dias que Cristo está falando, conforme evidenciado por Sua declaração anterior de que naquele tempo de vingança “todas as coisas que estão escritas” serão cumpridas. Todas as coisas escritas pelos profetas sobre Jerusalém, Israel e os gentios de forma alguma foram cumpridas na destruição de Jerusalém em 70 d.C.

Então Ele menciona as perturbações na natureza e os medos da humanidade agrupados sob o sexto selo em Apocalipse 6:12-17, e acrescenta explicitamente que “então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com poder e grande glória,” e que quando essas coisas começarem, Seus discípulos saberão que sua redenção está próxima (vv. 27, 28).

Ao concluir este esboço do período da Besta, o Senhor emitiu esta exortação e promessa: “Mas cuidem de si mesmos, para que talvez seus corações não sejam sobrecarregados com excessos, embriaguez e as preocupações desta vida, e para que aquele dia não vos surpreenda repentinamente como uma armadilha: porque assim cairá sobre todos os que habitam na face de toda a terra. Mas vigiem a cada momento, fazendo súplicas, para que possam prevalecer em escapar de todas essas coisas que hão de acontecer, e para estar em pé diante do Filho do Homem.”

Isso declara claramente: (1) Que é possível escapar de todas essas coisas sobre as quais Cristo falava, ou seja, de todo o período dos Últimos Dias. (2) Que esse dia de provação será universal e inevitável para qualquer pessoa que estiver na terra, o que envolve a remoção da terra de qualquer um que deva escapar dele. (3) Que há um perigo terrível de os discípulos se tornarem mundanos de coração e assim ficarem enredados nesse último período. (4) Que, portanto, é necessário vigiar e orar incessantemente, para que possamos superar todos os obstáculos e perigos e assim escapar dessa era.

Essa declaração mais importante e inequívoca de nosso Senhor desconsidera a opinião de que todos os cristãos escaparão independentemente de seu estado moral e também nega a noção de que nenhuma fuga é possível.

Há uma porta de escape; mas, como em todas as portas, apenas aqueles que estão despertos a verão, e apenas aqueles que são sinceros a alcançarão antes que a tempestade estoure. Em todos os lugares no Novo Testamento, a palavra “escapar” tem sua força natural — fugir de um lugar de problemas e sair completamente dele.¹ Nunca significa suportar com sucesso a prova. Neste discurso do Senhor, ela contrasta com a afirmação: “Aquele que perseverar até o fim (dessas coisas) será salvo” (Mateus 24:13). Um escapa, outro suporta.

A tentativa de evitar a aplicação deste passo aos cristãos sob o pretexto de que se refere aos “discípulos judeus” de Cristo é infundada: (a) Nenhum “discípulo judeu” de Cristo é conhecido pelas Escrituras (Gálatas 3.28; Efésios 2.14–18). (b) O remanescente piedoso de Israel dos Últimos Dias de forma alguma escapará dessas coisas que hão de acontecer (Malaquias 3.1–4; Zacarias 13.8,9; Jeremias 30.7,8). (c) Nem crerão em Jesus como seu Messias até que O vejam vindo em glória (Zacarias 12.9,10; 13.6; Mateus 23.39). (d) A afirmação de que o título Filho do Homem é “judaico” é igualmente injustificada, pois o termo “homem” é necessariamente universal para a raça humana e não pertence peculiarmente a qualquer nação. (Comp. João 3.14,15; 5.25–29: “qualquer que” e “todos”).

2. Em harmonia com essa declaração de nosso Senhor está Sua afirmação adicional à igreja de Filadélfia (Ap 3.10): “Porque guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei da (ek) hora da provação, aquela hora que há de vir sobre toda a terra habitada, para provar os que habitam sobre a terra.” Aqui também são declarados: (a) A universalidade daquela hora de provação, de modo que qualquer fuga dela deve envolver remoção; (b) A promessa de ser guardado dela; (c) A intimação de que tal preservação é consequência de uma certa condição moral: “Porque guardaste… também Eu te guardarei.” Como isso é dirigido a uma igreja, nenhuma questão de aplicação “judaica” pode surgir. Nem os fatos conhecidos, nem as Escrituras permitem a suposição de que todo cristão guarda a palavra da paciência de Cristo (Mateus 24.12; Apocalipse 2.5; Gálatas 6.12; Colossenses 4.14 com 2 Timóteo 4.10 sobre Demas); de modo que essa promessa não pode ser estendida para significar todos os crentes.

No The Bible Treasury, 1865, p. 380, há uma nota instrutiva de J. N. Darby (veja também Collected Writings, vol. 13, Crítico 1, 581) sobre a diferença entre (apo) e (ek). O primeiro refere-se a pessoas hostis e ser entregue delas; o segundo refere-se a um estado e ser mantido de entrar nele. Sobre Apocalipse 3.10 ele escreveu: “Assim, em Apocalipse 3, os fiéis são mantidos de entrar nesse estado, preservados de entrar nele, ou, como dizemos, mantidos fora dele. Pois as palavras aqui correspondem totalmente ao inglês ‘fora de’ ou ‘de’”. Que o pensamento não é ser preservado de ser ferido na alma pelas provações está implícito na expressão “Guarda-te fora daquela hora”; é do próprio período de tempo que os fiéis devem ser guardados, e não apenas de seus perigos espirituais.