Salvação Eterna, Série: Isso Não Vem de Vós – Perseverar Até o Fim Para Ser Salvo (Mateus 24.13)
Excerto extraído (mais precisamente o capítulo 18) de uma obra denominada "Uma Salvação e Um Fogo", ainda a ser publicada. Também faz parte da coleção Salvação Eterna Isso Não Vem de Vós, cuja primeira coleção já foi publicada em formato e ebook-kindle, você pode adquir por esse link aqui.
Argumento da Perseverança Até o Fim Para Ser Salvo
“Todavia, quem persevera até o fim, esse será salvo.” —Mateus 24.13.
Aquele que Perseverar Até Fim
Esse argumento tem sido bastante usado para dizer que um cristão renascido pode se perder. Mas tal raciocínio é da mais alta incoerência e vamos tentar evidenciar isso. Antes temos que admitir o argumento, afinal é ele mesmo quem diz do que se trata: “Aquele que perseverar até o fim será salvo”.
Todavia, nossa análise não deve ser apenas uma análise precipitada; ela precisa ir além dessa primeira vista. Pois este versículo não é um princípio isolado, ou seja, um fundamento que pode ser aplicado em qualquer ocasião. Esse versículo é contextual, e a própria Bíblia reconhece isso.
A Interpretação Ternária da Bíblia
Essa passagem está em Mateus 24. Todos os leitores bíblicos que temem a Palavra de Deus consideram todo aquele cenário apenas dentro da órbita de Mateus 24, que é sobretudo escatológica. Por isso, dissemos que ele é contextual. Existem versículos de princípios e outros versículos de contexto, este é um caso.
Um exemplo de um versículo de princípio, “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estarei no meio deles” (Mateus 18.20). Esta passagem diz que onde quer que dois ou três se encontrem, desde que seja para o Nome d’Ele, Sua presença será garantida. O princípio desse versículo se dá pela capacidade de dois ou três, primeiro, se reunirem; segundo, de se reunirem no Nome d’Ele. Tudo o mais é desnecessário.
Você não vai precisar estar em Jerusalém, numa capela ou catedral. Você pode estar até mesmo na rua, mas se tiver um irmão que se reúna igualmente com você em nome de Jesus, Ele se fará presente; Ele estará acompanhando essa sessão.
Note que esse versículo se dá na forma de um princípio, não tem a ver com contexto, quero dizer, não de depende de qualquer contexto para ele funcionar. É claro que a trama está ali, mas não é ela quem rege. A circunstância não está me dizendo que Jesus estará no meio dessa reunião de dois ou três porque alguns cristãos se reuniram no Nome d’Ele em determinado local, ou em determinado dia, ou em determinada comemoração.
Então este de fato não é um versículo de contexto. Ainda que não seja — o que chamo de — um versículo de contexto, é importante estudarmos o contexto da passagem para extrairmos muitos outros ensinamentos.
Pois bem, se há versículos de princípio, igualmente, há versículos de contexto, este último me obrigará a ler todo o cenário que o envolve. Vejamos um exemplo de um versículo que me obriga olhar o contexto: “Jesus Chorou” (João 11.35). Essa passagem diz que Jesus chorou, a única coisa que posso extrair dele, isoladamente, é um fato: Jesus chorou. Este fato é constatado, e ninguém poderá negar que Jesus chorou na Bíblia. Pois ainda que existisse apenas esse versículo dizendo que Ele chorou, seria suficiente para garantir esse fato.
Então, estamos diante de um fato, um “versículo de fato”, mas se eu quisesse saber o motivo dele ter chorado, não poderia conseguir chegar a essa conclusão somente por essa passagem. Eu seria obrigado a admitir um fato, mas não teria condições de dizer mais nada. Se eu quisesse saber o que fez o Senhor chorar não poderia apenas olhar para o fato; seria obrigado a também analisar o contexto.
Os desequilíbrios entre os filhos de Deus acontecem quando eles supervalorizam o contexto em detrimento do princípio ou quando buscam princípios que, simplesmente, não são princípios, e sim fatos. Que princípio posso extrair de “Jesus chorou”? Nenhum, pois isso é um fato.
Obviamente, podemos aprender muitas lições preciosas com o choro de nosso Senhor, mas não podemos aplicar isso como uma lei para validar algo aqui e ali. Além disso, a lição que podemos extrair desse evento se dará pelo contexto, e não somente com o versículo “Jesus chorou”.
Por outro lado quando quero apresentar o “contexto” como um meio de solucionar um problema, e, geralmente, muitos cristãos fazem isso. Ou seja, quando eles não concordam com algo eles dizem: “temos que olhar o que o contexto diz…”. É verdade, mas o contexto não tem condições de anular fatos e princípios. Por isso insistimos em dizer que a Bíblia deve ser interpretada de maneira ternária: “Fato”; “Contexto”; “Princípio”.
O Perigo de Usar Passagens Bíblicas Como Antídoto
Creio que consegui de alguma maneira mostrar a importância dessa base.
Agora, podemos olhar para a passagem argumentativa que diz que podemos perder nossa salvação, uma vez que temos que perseverar até o fim, conforme Mateus 24.13.
Mas esta passagem muito claramente não se trata de um princípio. Pois muitas outras passagens dizem o contrário.
Um princípio não pode ser abalado. Por exemplo, a passagem: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê não pareça, mas tenha vida eterna (Jo 3.16)”. Fornece fato e princípio. Fato, pois contém verdades inabaláveis: “a capacidade de Deus amar o mundo e o envio do Filho”; mas também contém um princípio inabalável: “eu creio, logo não pereço e tenho vida eterna”. Alguma passagem da Bíblia pode contrariar essas verdades? Se aparentemente houver alguma passagem que diz algo contraditório (cf. 1Jo 2.15; 3.1) não posso tratá-la como um antídoto para anular o que foi dito em João 3.16.
O que tenho que fazer então? Estudar o contexto. Pois aí sim extrairei a verdade da Palavra e não cometerei engodo ou falácia. Certamente, o contexto explicará aquilo que aparentemente se tratava de alguma contradição.
E nossa experiência ao estudar a Bíblia desta maneira tem se provado verdadeira quanto a colher o melhor significado de determinado assunto da Palavra de Deus. Podemos não encontrar as respostas que queríamos, mas também não criaremos engodos. Qualquer mudança nesta base poder-se-á sustentar inverdades e até mesmo pecados doutrinários.
O Princípio da Salvação pela Graça (Efésios 2.8)
Consideremos novamente Mateus 24.13; já dissemos que ele não é um princípio. Temos um princípio, sim, na Bíblia para a salvação, e é uma passagem, realmente, de princípio e não de contexto, vejamos.
“Pela graça sois salvos mediante a fé, isso não vem de vós” (Efésios 2.8). Alguém teria coragem de dizer: “precisamos analisar o contexto…”? De forma alguma! Paulo está encerrando o assunto, ele coloca todos os meios de escape do assunto devidamente fechados.
1) Pela graça sois salvos (recebo justamente aquilo que não mereço);
2) por meio da fé (o meio é a fé, único requisito);
3) Isso não vem de vós (não tenho qualquer participação);
4) É o dom de Deus (uma dádiva total, reforça o item 1);
5) v.9 não pelas obras para que nenhum homem se glorie (reforça os itens 2 e 3).
Paulo colocou tudo isso em uma passagem da Bíblia, e ainda há irmãos que tentam romper alguma brecha para encontrar algum escape (para dizer: é possível perder a salvação), mas não conseguirão; é impossível. Mateus 24.13 não é um antídoto para Efésios 2.8,9.
Portanto, “aquele que persevera até o fim será salvo” não é um princípio, é um fato narrado de uma história triste e difícil, a perseguição aos judeus na Grande Tribulação.
O que Paulo fala em Efésios 2.8 não é uma história ou uma narração de fatos. Ele simplesmente fecha todas as portas para toda e qualquer argumentação, inclusive aquelas que ele mesmo teve que enfrentar (Atos 15.1,2, 11). Ele está alegando que a salvação é totalmente pela graça e não deve conter a mínima cooperação do homem, tanto para conquistá-la quanto para mantê-la.
O Cenário de Mateus 24.13
Mateus 24.13 não está dizendo como é a salvação, mas como será a sobrevivência na Grande Tribulação, em especial dos judeus, é um assunto totalmente judaico, e vamos mostrar isso de agora em diante.
“Então, sereis entregues à tribulação, e vos matarão; sereis odiados por todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar e trair-se uns aos outros, e uns aos outros se odiarão; hão de se levantar muitos falsos profetas e a muitos enganarão; e, por se multiplicar a iniquidade, resfriar-se-á o amor da maior parte dos homens. Todavia, quem persevera até o fim, esse será salvo. Quando, pois, virdes a abominação de desolação, predita pelo profeta Daniel, estabelecida no lugar santo (quem lê, entenda), então os que estiverem na Judeia fujam para os montes;”. —Mateus 24.9–13, 15. (TB, grifos meus).
Uma das primeiras coisas que devemos considerar na passagem é: “lugar santo”. Se refere, sem dúvida nenhuma, ao lugar santo do Templo que, a esta altura, havia sido reconstruído. Mas, que templo é esse? É o terceiro templo, aquele que Salomão construiu pela primeira vez. Este lugar é sagrado, mas sagrado para os judeus.
Temos mais a considerar nesta mesma porção: “Judeia”. O que seria a Judeia senão uma região que hoje faz parte da Cisjordânia, que está repleta de judeus, e consequentemente neste dia, estará sob o controle de Israel, que não seja um lugar onde moram judeus?
Todo cenário está montado em torno da geopolítica judaica. Vejamos.
“Rogai que a vossa fuga não suceda no inverno, nem no sábado; porque haverá então grande tribulação, tal como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem haverá jamais.” —Mateus 24.20-21 (TB, grifo meus).
É muito nítida a percepção regional, especialmente com a palavra “sábado”. Em que lugar do mundo atualmente o shabbat é observado? Você sabia que o primeiro dia útil em Israel é o domingo e não a segunda-feira? Se a fuga ocorrer no shabbat, é provável que os refugiados não encontrem nada aberto ou em funcionamento.
Além disso, seria um sacrilégio para esses judeus quebrantar a guarda do shabbat. Também seria ainda mais fácil encontrar aqueles que estivessem em fuga, pois certamente estariam enfrentando privações, como a simples necessidade de transporte, comércio e segurança. Tudo isso no sábado seria, seguramente, mais difícil. Entretanto, não havendo tempo, eles deveriam, mesmo assim, correr logo para os montes, como se estivessem fugindo de Sodoma e Gomorra (Gn 19.12).
É evidente que toda essa relação se aplica ao povo judeu que, de alguma forma, ouviu as palavras do Senhor. Isso pode incluir aqueles que têm alguma simpatia por Jesus, aqueles que se tornaram messiânicos, ou aqueles que ouviram palavras de rabinos que creram em Jesus como o Messias, ainda que fossem judeus, ou por fim, apor alguns terem em mãos o Novo Testamento e, portanto, terem chegado à leitura de Mateus 24. A soma de todas essas variáveis poderia levar muitos judeus a se deslocarem para as montanhas.
Agora, eu gostaria de te questionar; o que isso tem a ver, por exemplo, com o Brasil? A Judeia fica aqui? Temos um templo sagrado onde será violado seu lugar santo por meio de uma abominação? O comércio, transporte e segurança 2 brasileiros guardam o sábado? Nosso primeiro dia útil é o domingo?
É obvio que o contexto nos leva às terras judaicas, e nos conforma com sua geografia. Essas profecias são completamente judaicas. Embora nem tudo que nosso Senhor Jesus diz em Mateus 24 se refere, exclusivamente, aos judeus, contudo, em especial, nestas porções os acontecimentos são totalmente judaicos.
Por isto, compreendendo essa lógica contextual, essa perseverança para ser salvo não se deve a um princípio a ser observado para alcançar a vida eterna. Nós já temos um princípio, para isso, que é Efésios 2.8. Em Efésios 2.8 não está se referindo a judeus ou a acontecimentos do tempo do fim.
Em Efésios 2.8, na verdade, está se constatando um fato inquebrável de que a salvação é pela graça. Mas, em Mateus 24, não estamos lidando com um princípio de salvação, mas com um fato escatológico relacionado a um contexto geopolítico judaico que será cumprido em breve.
A Salvação do Corpo
O que queremos dizer que Mateus 24.13, na verdade, é um conselho que o Senhor dá aos judeus para poderem preservar suas vidas. A salvação dita ali não é a salvação do espírito humano (1Co 5.5) quando este é vivificado e a semente da vida de Deus entra nele (1Jo 3.9) e o homem nasce das alturas (Jo 3.6).
A relação de Mateus 24.13 de forma alguma, tem relação com a vida eterna; essa perseverança não é para alcançar a vida eterna, mas para salvar o corpo físico; é uma salvação da carne, do elemento físico humano.
E por que se refere à salvação do corpo e não do espírito? Primeiro, porque ninguém que foge para os montes nasce de novo. Você não é regenerado por fugir para as montanhas! Você nasce do alto por crer no Nome e receber Cristo (João 1.12). Fugir para os montes no máximo me salvará de ser pego por aquele do qual estou fugindo. É uma salvação de escape é uma salvação de preservar minha vida. Não tem ligação nenhuma com a vida eterna e sim a com vida biológica humana.
Mas a Bíblia deixa isso mais claro ainda, vejamos.
“Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados.” —Mateus 24.21-22 (TB, grifo meu).
No decorrer do capítulo ainda dentro de todo aquele cenário escatológico envolvendo a Grande Tribulação, é dito algo balizador, “Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo (v.22)”. Quando chega neste ponto todos são unânimes em dizer que este “ninguém seria salvo”, se refere ao corpo, ou seja, sobreviver. Mas quando leem a mesma sentença anterior atribuem a vida eterna, isto é, a salvação do espírito (Jo 3.6).
É muito desajustado, agora, eu dizer que essa salvação se refere ao corpo enquanto aquela ao espírito. Ambas as sentenças estão entrelaçadas. E os defensores da perseverança até o fim para ser salvo, ficam estilhaçados quando chegam neste ponto que não resta outra alternativa que não seja dizer que são salvações diferentes. Mas isso é uma tremenda insensatez com o texto, pois ambas citações estão diante do mesmo cenário.
O versículo 22 está explicando de fato o que é a salvação do versículo 13. Sejamos honestos quanto ao texto. A única maneira da salvação do versículo 13 se referir à vida eterna seria se a do 22 igualmente se referir à vida eterna; o versículo 22 endossa e interpreta a salvação do versículo 13.
Se porventura houvesse quem tivesse a ousadia de negar todo esse contexto e dizer que versículo 22 se refere à vida eterna, e não a salvação do corpo, para assim conformar também o versículo 13 à vida eterna, teria que igualmente dizer que o tempo salva, que o tempo é o salvador, pois as palavras-chave ali são: “dias” e “abreviados”, ou seja, os que foram salvos, conseguiram isso por causa da abreviação dos dias e não de um salvador em si. O fato dos dias acabarem rapidamente por causa dos escolhidos, foi o que os salvaram, indicando que se tivessem mais dias ainda a seguir, ninguém sobreviveria. Está muito claro! Essa salvação se refere ao corpo.
A Bíblia usa a palavra salvação para várias situações entre elas tem a aplicação da vida eterna. Não obstante, Jesus curou muitos enfermos e Ele dizia: “tua fé te salvou”; salvou do que? Da enfermidade. Você vai encontrar facilmente nos evangelhos inúmeras porções associando salvação com ser curado. Assim como no Antigo Testamento, salvação era vencer na batalha ou ser livre dos inimigos.
A palavra salvação é muito ampla, portanto, sempre temos que olhar o cenário que a envolve. A salvação em Atos 15, claramente se refere a ser salvo da condenação da Ira de Deus, ou seja, é de fato receber vida eterna, assim como a salvação dita em Efésios 2.8; mas de modo algum se refere à salvação de Mateus 24.
Mas para que não fique de fato nenhuma ponta solta vamos rever a mesma passagem olhando para o texto grego original:
A palavra traduzida na Almeida Atualizada para “ninguém seria salvo”, no grego é diferente; “ninguém” no grego é σαρξ (sarx), que literalmente significa “carne” e não “alguém” ou “ninguém” como se fosse um pronome indefinido. Sarx é o material daquele que seria salvo, primeiro por perseverar até o fim; e, segundo pelos dias serem abreviados. E sarx é carne. A melhor forma de traduzir essa passagem é como está na Bíblia Textual.
“E se aqueles dias não tivessem encurtados, nenhuma carne seria salva (…)” —Mateus 24.21-22 (BTX, grifo meu)
Portanto, o argumento de dizer que alguém pode perder a salvação se ele não perseverar até o fim como se estivesse em franca cooperação com Cristo para conseguir ser salvo, baseado em Mateus 24.13, é um erro contextual; uma falha em ver todo o cenário e uma incompreensão até mesmo do texto grego.
Era necessário, na verdade, poucas linhas para desmistificar este erro ao interpretar essa passagem, mas penso que foi valioso trazer os detalhes tanto do capítulo 24 de Mateus quanto em considerarmos a Bíblia numa visão ternária do seu conteúdo, dividindo-a e considerando-a em Fato, Contexto e Princípio, justamente, para não incorrermos em falhas de interpretação como esta.
Livro Salvação Eterna – Isso não vem de vós, coleção 01 formato ebook-kindle. Estude mais sobre a salvação (com sua a Bíblia aberta) e o seu caráter eterno. Saiba Mais.
UMA NOTA EXPLICATIVA
O texto utilizado segue fielmente o material original de estudo. Todavia, nós, do DoPeregrino.com, fizemos uma adaptação para o formato de conteúdo de internet e aplicamos a sumarização com o objetivo de facilitar a navegação por seções, bem como a leitura; isto se dá, tão somente, em seções que foram intituladas para tematizar aquele determinado bloco; queremos destacar que esses títulos temáticos não se encontram na obra original.