"Bons Sonhos" Enviados por Deus para um Mundo em Pesadelo Constante

É interessante como nos contos, e lendas, quase sempre está presente a ideia de uma remissão humana através de um sacrifício. Povos distantes do cerimonialismo judaico e da liturgia cristã, representaram também em seus contos, a necessidade de redenção, do resgate da história humana por meio do sacrifício de um grande herói ou um “deus”. Isso se fez presente no panteão egípcio, com Osíris, Ísis, Set e Hórus. Não descarto o engano do arche–inimigo da humanidade presente nesses contos.

Mas o mal do diabo, não anula a bondade de Deus. E nos mitos gregos, Adônis, morre e através dessa morte, é imortalizado concedendo sempre esperança de vida para os bosques e prados campos na primavera. De novo o princípio da Vida sendo feita vitoriosa através da morte. E no Ragnarok celta, o mundo terá uma nova criação depois que tudo passar pela morte. Reafirmo que aqui e ali, você percebe nos detalhes desses contos, os enganos do príncipe deste mundo. Esses são parte dos pesadelos mandados pelo querubim caído. Mas até no mais negro pesadelo dos contos, Deus imprime soberana e latentemente seus presságios graciosos. A visão sincera, rejeita o engano sem contudo rejeitar a bondade de Deus a qual é tão suprema e tão verdadeira em criar o homem segundo a Imagem daquele que foi imolado antes da fundação do Mundo (Ap 13:8), que imprimiu nas partes abissais da alma humana a percepção de que só há resgate e vida verdadeira através da morte de ALGUÉM melhor ou maior do que nós em nosso Lugar.

Os críticos modernistas dirão que isso não passa de um ajuste para justificar a necessidade da fé no Calvário. Mas pode ser que os críticos estejam errados em um sentido, e certos em outro. Estão errados, se disserem que esses contos é que são a base da fé cristã, por serem alguns deles mais antigos que o cristianismo. É bom lembrar que eles podem ser mais antigos do que o cristianismo histórico; mas não mais antigos do que Cristo, o Criador e redentor da história! É bom não esquecer que é um costume de Deus, enviar “bons sonhos” e anúncios, antes de fazê-los cumpridos na história (Is 42:9). Faz parte do que Don Richardson chamou de: “Fator Melquisedeque” e o que C. S. Lewis chamou de: “Bons sonhos”. Não são portanto a base da fé cristã; são apenas pequenos arautos da chegada de alguém muito mais importante!

Mas eles, (os críticos), estarão certos se disserem que há talvez serventia nesses contos para algo da fé cristã. Note que a verdade não se altera devido ao defeito de nossos olhos; mas o defeito de nossos olhos, poderá nos fazer enxergar errado a verdade. O cristianismo, ou melhor, a fé cristã, não é mais um conto baseado em outros contos! A fé cristã é a resposta histórica para o cerne de todos os contos – cerne este, que provém do cerne da necessidade da alma humana – a saber, a necessidade de Alguém mais poderoso do que nós, prover-nos resgate, vida e significado de existência por meio da sua morte! Nos contos, há os gemidos e aspirações das almas humanas; são gritos que ecoam nos pavilhões da civilização humana esperando por uma resposta que deve vir de Alguém de fora de nossa ordem de existência. Neles vemos sombras obscuras de um CORPO REAL que ainda não havia se mostrado. Sentimos o perfume daquela flor que sempre estávamos a procura sem contudo encontrá-la. A fé cristã é a história (pois diferente dos contos, ela é histórica) que responde os anseios a nós transmitidos nos contos. E através dessa história de fatos históricos, Deus realmente nos resgata pela morte de Alguém maior do que nós, e nos guia pela mão até a “terra da Trindade” onde todas as alegrias e belezas descritos nos livros de contos e fantasias, serão vividos por cada um que vier a crer como criança no extraordinário “conto divino” da cruz!