A História da Igreja que se Tornou Federação

Quando nos dispomos a estudar a Igreja e sua história, quais são os pontos mais marcantes? Por um lado, é o fascínio de querermos entender o que é esta entidade santa, mas também somos muito tentados pela curiosidade de saber sua evolução histórica. E por que este segundo ponto é tão atraente? Porque muitos de nós procuram pela verdadeira essência da igreja neotestamentária, aquela que era vivida e praticada pelos apóstolos e santos do primeiro século. Este estudo, por conseguinte, faz com que tenhamos uma mínima visão onde Lang, destacando o Dr. Hath, alcança por meio da história o exato momento em que a Igreja se torna uma federação para, por fim, ser governada pelo clero religioso. Felizmente, também sabemos que as portas do Hades não prevalecem contra ela, e que seu Cabeça é o verdadeiro governante. Conheça esse pano de fundo histórico do que a Igreja mais tarde seria. Ainda que ela, em realidade, não seja o que se tornou.

O Arrebatamento Condicional dos Filhos de Deus — G. H. Lang

Adendo acerca de Lang e Dr. Hath

George Henry Lang (G. H. Lang) foi um autor cristão britânico, conhecido por suas obras teológicas e históricas sobre o cristianismo. Nas suas citações e escritos, Lang frequentemente mencionava figuras importantes no campo da teologia e da liderança eclesiástica.

Dr. Hatch, mencionado por Lang, refere-se a Edwin Hatch, um teólogo e erudito britânico do século XIX. Edwin Hatch é mais conhecido por seu livro “The Organization of the Early Christian Churches” (A Organização das Primeiras Igrejas Cristãs), publicado em 1881, e por suas palestras “The Influence of Greek Ideas and Usages upon the Christian Church” (A Influência das Ideias e Usos Gregos sobre a Igreja Cristã), que exploram como a cultura grega influenciou a formação das práticas e estruturas da igreja cristã primitiva.

Edwin Hatch foi um estudioso que trouxe novas perspectivas sobre a história e a organização da igreja cristã primitiva, destacando a influência das estruturas sociais e filosóficas da Grécia antiga no desenvolvimento das práticas eclesiásticas. Suas obras são frequentemente citadas por teólogos e historiadores que estudam a evolução das instituições e doutrinas cristãs, incluindo G. H. Lang.

É proveitoso considerar o estudo histórico do Dr. Hatch sobre o processo pelo qual as igrejas degeneraram de sua independência apostólica original para a vasta confederação que, com o tempo, perseguiu os verdadeiros santos de Deus. Podemos assim discernir quão completamente mundanos foram as influências e considerações que operavam, e quão completa e debilitante era a escravidão espiritual que aprisionava a igreja. Sejamos iluminados com essa advertência para nós tanto como igrejas quanto indivíduos.

Continuando a falar sobre aquelas assembleias representativas que só começaram, é importante lembrar, depois que os apóstolos morreram, e que, portanto, por este único fato, não são garantidas e suspeitas para aqueles que se apegam à finalidade do Livro de Deus, o Dr. Hatch continua (pp. 170-173):

Parecer Histórico Século II

No decorrer do segundo século, o costume de se reunir em assembleias representativas começou a prevalecer entre as comunidades cristãs. Havia pontos de prática — por exemplo, a celebração da Páscoa — em relação aos quais era desejável adotar uma linha de ação comum. Havia questões sobre o ensino cristão, por exemplo, aquelas que surgiram do montanismo — sobre as quais as igrejas individuais estavam divididas e, consequentemente, desejavam consultar seus vizinhos. Havia questões de disciplina que afetavam mais de uma comunidade — especialmente a questão, que por um tempo assumiu grande importância, sobre os termos em que aqueles que haviam renunciado ao cristianismo sob pressão da perseguição deveriam ser recebidos de volta.

No início, essas assembleias eram mais ou menos informais. Algum bispo proeminente e influente convidava algumas comunidades vizinhas para conferenciar com a sua. O resultado das deliberações dessas conferências era expresso, às vezes, em uma resolução, às vezes em uma carta dirigida a outras Igrejas. Era regra que tais cartas fossem recebidas com respeito, pois o sentimento de fraternidade era forte e as causas de alienação eram poucas. Mas, longe de tais cartas terem qualquer força obrigatória sobre outras Igrejas, nem mesmo as resoluções da conferência eram obrigatórias para uma minoria dissidente de seus membros.

As Confederações nos Dias de Cipriano

Cipriano (martirizado em 258 d.C.), em cujos dias essas conferências se tornaram importantes e que, ao mesmo tempo, era o mais vigoroso dos primeiros pregadores da unidade católica — ambas as circunstâncias o teriam tornado um defensor de seu caráter autoritário se tal caráter existisse — reivindica em termos enfáticos e explícitos uma independência absoluta para cada comunidade. Dentro dos limites de sua própria comunidade, um bispo não tem superior a não ser Deus.

“A cada pastor”, escreve ele, “foi atribuída uma porção do rebanho do Senhor, e sua conta deve ser prestada ao seu próprio Mestre” O fato de alguns bispos se recusarem a readmitir à comunhão aqueles que cometeram adultério não é argumento, afirma ele, para a prática de outros bispos; nem o fato de vários bispos reunidos em concílio terem concordado em admitir os faltosos é uma razão pela qual um bispo que pensava de outra forma deveria admiti-los contra a sua vontade.

No entanto, tão logo o cristianismo foi reconhecido pelo Estado (d.C. 313), tais conferências tenderam a se multiplicar, tornando-se não ocasionais, mas sim ordinárias, e a aprovar resoluções que eram consideradas vinculativas para as Igrejas dentro do distrito de onde os representantes haviam vindo, e cuja aceitação era vista como uma condição de intercomunhão com as Igrejas de outras províncias.

Havia fortes razões de política imperial para fomentar essa tendência. Era claramente aconselhável que as instituições às quais um novo status havia sido concedido fossem homogêneas. Era claramente contrário à ordem pública que não apenas o status, mas também os fundos, fossem concedidos a uma série de comunidades que não tinham outro princípio de coesão senão o de uma unidade de crença mais ou menos indefinida.

Consequentemente, quando a complexa questão da ordenação de Cæciliano ameaçou dividir as igrejas africanas, Constantino convocou todos os bispos da Cristandade — cada um com presbíteros representativos de sua Igreja — para uma conferência ou concílio em Arles (d.C. 314). Era uma condição óbvia de tal conferência que suas decisões fossem vinculativas para aqueles que dela participassem a ponto de subscrever seus atos. E como aqueles que participaram foram os bispos mais importantes da Cristandade, uma *confederação foi assim estabelecida, o que colocou os dissidentes em grande desvantagem.

Os Dois Tipos de Reuniões

Os principais pontos de acordo alcançados nesta conferência constituíram a base da confederação das Igrejas Cristãs desde então. Foi resolvido que aqueles que foram designados para ministrar em qualquer lugar deveriam permanecer nesse lugar e não vagar de um lugar para outro; que um diácono não deveria oferecer o sacrifício eucarístico; que os bispos deveriam ser nomeados ordinariamente por oito, mas pelo menos por três bispos, e que um bispo não deveria ter o direito de nomear outro sozinho.

Desde então, passaram a existir dois tipos de reuniões ou concílios. Para questões que afetavam todo o corpo das Igrejas Cristãs, realizavam-se assembleias gerais dos bispos e outros membros representativos de todas as Igrejas do mundo. Para questões menores, como controvérsias entre uma Igreja e outra, ou entre a maioria dos membros de uma Igreja e um de seus oficiais, havia assembleias provinciais.

Essas últimas [assembleias provinciais] eram realizadas estritamente em bases locais; elas seguiam o modelo das assembleias civis cuja designação comum elas adotavam.

Elas [as assembleias provinciais] também as imitavam [as assembleias civis] ao se reunirem na metrópole da província. O bispo dessa metrópole era o presidente ordinário deles; a esse respeito, havia uma diferença entre as assembleias civis e eclesiásticas, pois nas primeiras o presidente era eleito ano a ano. Dessa forma, o bispo da metrópole passou a ter preeminência sobre os demais bispos de uma província.

Por um processo natural, assim como o voto e a sanção de um bispo se tornaram necessários para a validade da eleição de um presbítero, o voto e a sanção de um metropolitano se tornaram necessários para a validade da eleição de um bispo. Nelas [nas assembleias provinciais] houve um novo avanço. Assim como as províncias civis foram agrupadas em dioceses, e os governadores de uma “diocese” estavam subordinados ao governador de uma “diocese” maior, uma gradação foi reconhecida entre o bispo da cidade principal de uma província e o bispo da cidade principal de uma diocese. Em ambos os casos, os nomes civis foram mantidos: os primeiros eram chamados metropolitanos, os últimos exarcas ou patriarcas.

Foi por meio desses passos graduais que as Igrejas Cristãs passaram de seu estado original de independência para uma grande confederação.

É importante observar não somente a estreita proximidade com que essa confederação seguia as linhas do governo imperial, mas também o caráter totalmente voluntário do processo pelo qual foi formada. Não houve tentativa de coerção.

Essa mudança decorre da própria natureza das associações e já existia nas comunidades individuais antes da confederação. É essencial a uma associação ter poder para definir regras, não somente para a admissão, mas também para a exclusão de seus membros.

Tanto nas comunidades cristãs quanto nas judaicas, um membro transgressor estava sujeito à expulsão. No entanto, a utilidade da excomunhão como dissuasão nas Igrejas primitivas havia sido enfraquecida pelo fato de que sua aplicação não necessariamente se estendia além da Igreja específica da qual o indivíduo era membro.

Se ele tivesse sido expulso por uma ofensa moral, sem dúvida as causas que levaram à sua expulsão por uma comunidade impediriam sua recepção em outra. Mas, quando o motivo da expulsão fosse a posse de opiniões peculiares ou a violação de uma lei local, seria possível encontrar outra comunidade que ignorasse a primeira questão ou tolerasse a segunda.

Quando as Igrejas de uma província, e ainda mais quando as Igrejas da maior parte do Império, se uniram pelos laços de uma confederação, reunindo-se em assembleia comum e concordando com um plano de ação comum, a exclusão por uma única Igreja passou a significar exclusão de todas as Igrejas confederadas. Essa regra foi reconhecida pelo Concílio de Nicéia (d.C. 325), que, ao mesmo tempo, tomava providências contra o exercício arbitrário do poder de excomunhão.

Mas como nenhuma penalidade era aplicada à violação da regra, provavelmente ela era desconsiderada. Por isso, o Concílio de Antioquia, cerca de vinte anos depois, achou necessário decretar que um oficial da Igreja que admitisse à comunhão alguém que outra Igreja havia excluído deveria ser ele próprio cortado da comunhão. Essa forma posterior da lei foi repetida no código conhecido como Cânones Apostólicos (século V); e, por fim, tornou-se a regra permanente, reforçada pela outra lei que estabelecia que ninguém deveria ser recebido em outra Igreja sem uma carta do bispo da Igreja a que pertencia.

Nos tempos primitivos, um cristão que viajava ou mudava de residência de uma cidade para outra era recebido em comunhão com poucas perguntas. Mas o interesse pela ordem social, não menos que pela fé, exigia uma mudança. A partir de então, quem fosse formalmente expulso de sua Igreja era excluído também de todas as Igrejas da associação. E não era excluído apenas do culto público e da participação nas ofertas da Igreja. Era-lhe negado o convívio social com aqueles que permaneciam fiéis: a rigorosa ordem do Apóstolo lhe era aplicada, “com tal pessoa nem sequer comer”.

NOTA


1N.R. “Católica” no sentido da ortodoxia, pois não havia ainda a Igreja Católica Romana.

NOTA


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